Edição 273 | 15 Setembro 2008

Relação universidade e empresa: a academia a serviço da sociedade

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Graziela Wolfart

Em que sentido as universidades e as empresas podem se ajudar mutuamente? Os pesquisadores Achyles Barcelos, Janaína Ruffoni e Daniel Puffal falam sobre a pesquisa nacional “Interações de universidades e institutos de pesquisa com empresas no Brasil”  

Em que sentido as universidades e as empresas podem se ajudar mutuamente? Pois é no intuito de verificar esse processo de interação que está sendo realizado no país o projeto de pesquisa “Interações de universidades e institutos de pesquisa com empresas no Brasil”. Para pesquisar a realidade no estado gaúcho, o professor Achyles Barcelos da Costa, dos PPGs de Economia e de Administração da Unisinos, a professora Janaína Ruffoni, doutoranda na Unicamp, e Daniel Puffal, doutorando no PPG em Administração da Unisinos, foram convidados para serem coordenadores da pesquisa no Rio Grande do Sul. E é sobre ela que eles falam na entrevista que segue, concedida pessoalmente à IHU On-Line

IHU On-Line – Vocês podem falar sobre a natureza da pesquisa que estão desenvolvendo e qual o andamento do trabalho?

Achyles Barcelos – Essa é uma pesquisa nacional, iniciada em 2006, cujo nome é “Interações de universidades e institutos de pesquisa com empresas no Brasil”. Ela tem como coordenador geral o professor Wilson Suzigan, da Unicamp, e o professor Eduardo Albuquerque, da Universidade Federal de Minas Gerais como coordenador executivo. Está dividida no país em várias instituições responsáveis. Em São Paulo, temos a Unicamp, a USP, a UFSCAR, a Unesp, a USP/Ribeirão Preto, a UNISAL e a FEI. Estão envolvidas também a UFF, do Rio de Janeiro, a UFMG, a UFPR, a UFSC, a Unisinos, a UFPA, a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Estadual do Mato Grosso, alcançando todas as regiões do país. É importante assinalar que essa pesquisa se articula com uma outra pesquisa de âmbito internacional, a qual está em andamento desde 2004 e é coordenada pelo professor Richard Nelson, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. O seu objetivo é avaliar como as relações entre as universidades e institutos de pesquisa com as empresas podem contribuir para processos de desenvolvimento nesses países chamados emergentes, onde está sendo realizada a pesquisa.

IHU On-Line – Quais são os países envolvidos? 

Achyles Barcelos – São onze. México, Costa Rica, Argentina, Brasil, Coréia do Sul, China, Índia, Malásia, África do Sul, Nigéria e Uganda.

IHU On-Line – Quais as principais metas da pesquisa? 

Achyles Barcelos – Uma delas é ver como estão os fluxos de informação de universidades para empresas e vice-versa, em âmbito nacional, e se é possível identificar algum padrão mais denso dessa interação em âmbito regional.

Janaína Ruffoni – É importante dizer que se trata de uma pesquisa sobre a interação entre universidades e empresas envolvendo todas as instituições de ensino superior brasileiras, públicas e privadas. Nosso ponto de partida é o censo do diretório de grupos de pesquisa do CNPq. Foram feitas análises a partir desse censo, que é a primeira fase da pesquisa. Identificamos ali quantos grupos de pesquisa há no Brasil. Depois, vimos quantos desses informam que possuem interação com o setor produtivo. A partir disso, vemos em quais áreas de conhecimento é mais comum a existência de interação. A segunda etapa é a que estamos envolvidos agora. Trata-se da aplicação de um questionário aos líderes dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq. É uma coleta de dados primária.

IHU On-Line – Que tipo de pergunta é feita nesse questionário?

Janaína Ruffoni – Perguntamos com quem esses grupos interagem, com quais empresas; se a idéia da interação partiu da universidade ou da empresa; quais os principais resultados já obtidos com essa interação; quais foram as principais fontes de financiamento dessa interação. Vamos coletando esses dados, que depois serão confrontados com os dados de outros estados brasileiros, para tentar traçar um perfil dessa interação. Essa pesquisa com os líderes dos grupos de pesquisa do CNPq é feita em todo o Brasil, utilizando o mesmo questionário. Esse questionário é aplicado virtualmente, está hospedado na página eletrônica da pesquisa na Universidade Federal de Minas Gerais, e os líderes recebem o link do questionário por e-mail.

Achyles Barcelos – Nessa etapa com os líderes dos grupos de pesquisa, identificamos, no censo de 2004 do CNPq, a existência no Rio Grande do Sul de 2.072 grupos de pesquisa. Desses, um total de 265 grupos declararam ter interação com empresas, abrangendo 209 empresas. Desde maio, estamos nessa função, contando com a colaboração desses profissionais. Hoje já temos 99 questionários preenchidos. Essa é uma boa taxa de resposta, de quase 40%, e está acima da média internacional, que fica entre 20 e 30%. Na próxima etapa teremos a aplicação de questionários para as empresas.

IHU On-Line – Vocês poderiam falar um pouco mais sobre o que caracteriza a natureza dessa relação entre universidades e empresas?

Janaína Ruffoni – Um dado interessante é que cerca de 10% dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq declaram ter interação com o setor produtivo no Rio Grande do Sul. E as áreas de conhecimento em que as interações aparecem com mais freqüência são as “ciências exatas e da terra”, “ciências agrárias” e “engenharias”.

IHU On-Line – Quem procura mais pela interação, as universidades ou as empresas?

Janaína Ruffoni – Ainda não temos os dados estatísticos dos questionários formalizados, mas depende muito da área do conhecimento. Acontece bastante de a empresa procurar a universidade em busca de um serviço tecnológico, fazer algum teste em laboratório.

IHU On-Line – Vocês podem dar exemplos práticos dessa interação entre universidades e empresas?

Achyles Barcelos – Existem a consultoria, o serviço tecnológico, a formação de recursos humanos. Existem alguns canais dessa interação. O que não temos ainda são esses dados consolidados, porque a pesquisa está em andamento.

IHU On-Line – Qual a expectativa de vocês, enquanto pesquisadores, para o resultado da pesquisa no momento da comparação entre os países, lembrando que são todos em desenvolvimento?

Achyles Barcelos – Por enquanto é tudo preliminar, pois, como mencionei, a pesquisa ainda está em processo, mas serve para percebermos qual é o nosso estágio nessa comparação, e ver as experiências internacionais, os ritmos dos outros países. Sabe-se que países desenvolvidos têm um padrão de interação também bastante desenvolvido, onde essa interação entre universidades e empresas é mais intensa. Em países menos desenvolvidos ela é menos intensa. O ponto é ver como, a partir do diagnóstico que será obtido pelos questionários da pesquisa, podem-se estabelecer políticas no âmbito das empresas e das universidades, para se alcançar uma melhor interação.

IHU On-Line – Em que medida essa pesquisa mostra que a academia pode ser mais útil para a sociedade?

Achyles Barcelos – Essa é a contribuição da universidade: levantar os problemas, discutir, apontar caminhos. A universidade é o âmbito da discussão. Desta pesquisa, saem algumas indicações, alguns subsídios, não apenas para as universidades e para as empresas, mas também para as políticas públicas.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição