Edição 240 | 22 Outubro 2007

Biotecnologia, sinônimo de desenvolvimento?

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IHU Online

Os desafios a serem trabalhados pelas Ciências Sociais tanto no campo da nanotecnologia como no da Biologia Molecular já foram executados em outras áreas, quando foi inventada a pólvora, o dinamite e a máquina a vapor. Lembra o Prof. Dr. Tarso Ledur Kist, do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em entrevista concedia por e-mail, à IHU On-Line, o pesquisador diz que os desafios da Biotecnologia no Brasil ainda são enormes, “porque possuímos uma biodiversidade e recursos biológicos como poucos países”, mas, por outro lado, “não possuímos uma cultura científica, investigativa, prática e pragmática como outras”. No entanto, esses fatores não impedem os novos estudos na área, que avançam gradativamente, testando os efeitos das nanopartículas em seres vivos e no meio ambiente.

Kist alerta que todo o desenvolvimento tecnológico traz riscos e benefícios para a sociedade, mas ao que tudo indica a biotecnologia e a nanotecnologia vieram para ficar. Segundo o professor, novos processos e fenômenos estão sendo descobertos, o que demonstra que não há esgotamento ou limites para futuros desenvolvimentos na área. “É exatamente neste fato que reside a certeza de um grande mercado em potencial e da capacidade destas disciplinas afetarem todos os setores da economia, desde os mais tradicionais e até de criar novos setores econômicos”, conclui.

Tarso Ledur Kist é mestre em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutor em Ciências pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), pós-doutor em Ciências Biológicas pela University of Ottawa, U.O., Canadá e pelo Max Planck Institute for Molecular Genetics, MPI, Alemanha.

Para ampliar o debate sobre as biotecnologias, o Prof. Dr. Tarso Ledur Kist, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), estará presente no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, participando do III Ciclo de Estudos Desafios da Física para o Século XXI: o admirável e o desafiador mundo das nanotecnologias. O pesquisador proferirá a palestra Desafios da Biotecnologia no Brasil e seus Potencias Impactos para a Sociedade do Século XXI, na quarta-feira, 24-10-2007, na sala 1G119, às 17h30min.

IHU On-Line - Qual é a influência da nanotecnologia na Biologia Molecular?
Tarso Ledur Kist -
Toda a influência que a nanotecnologia vai exercer sobre a Biologia
Molecular é difícil prever. Primeiro, porque a nanotecnologia ainda está em pleno desenvolvimento como ciência aplicada. Além disto, a Biologia Molecular também está, a toda hora, descobrindo e elucidando processos moleculares novos. São dois campos em franca expansão, e o sinergismo das duas já está e vai criar uma gama muito grande de possibilidades tecnológicas.

IHU On-Line - Quais são as diferenças na implantação de moléculas biológicas e as artificiais em seres vivos?
Tarso Ledur Kist -
Existem alguns temores sobre os riscos envolvidos. Alguns são claramente infundados, mas todos são levados a sério e bastante estudados. Por exemplo, fala-se em nanopoluição. Porém, passar um verão na praia é muito agradável, apesar de existirem muitas nanopartículas de sílica resultantes da erosão das partículas de areia. Ou seja, muitos tipos de nanopartículas sempre existiram e estamos plenamente adaptados à sua existência. Porém, algumas são novas e de ocorrência rara na natureza. Existem vários laboratórios testando exaustivamente o efeito destas nanopartículas sobre os seres vivos e o meio  ambiente. Todo o desenvolvimento tecnológico traz riscos e benefícios. Precisamos lidar com eles, criar a legislação pertinente, trabalhar os aspectos éticos e sempre pautar as decisões na relação custo-benefício.

IHU On-Line - Quais são as principais implicações e impactos do uso da biotecnologia para a sociedade?
Tarso Ledur Kist -
A nanotecnologia e a biologia molecular, juntas ou em separado, trazem um conjunto de desafios a serem trabalhados pelas ciências sociais. Durante os últimos séculos, isto já ocorreu com várias tecnologias. Por exemplo: quando foi inventada a pólvora. Depois, quando foi inventado o dinamite. Com a invenção da máquina a vapor e do motor a combustão interna. Com a manipulação e uso da energia elétrica. Com a manipulação da energia nuclear. Com o desenvolvimento dos organismos geneticamente modificados e outros. Não vemos nenhuma manifestação ou marcha contra a pólvora. Nenhuma marcha contra a da dinamite. Nenhuma passeata contra o uso da eletricidade. 

Mas devemos protestar contra o mau uso que se faz destes conhecimentos. Isto sim deve ser rigidamente monitorado pelos estados, pelas organizações e sociedade civil. Por um lado, devemos fortemente apoiar os nossos cientistas que pesquisam profundamente estes temas e os respectivos riscos e perigos envolvidos. Por outro lado, devemos exercer a crítica e ser vigilantes contra aqueles que fazem mau uso  destas ciências. Não deve-se combater a ciência e si, pois com ela  devemos e podemos conseguir uma padrão de vida mais digno a todos, a  cura de muitas doenças e maior expectativa de vida, a despoluição do meio ambiente, maior segurança contra catástrofes e pandemias etc.

IHU On-Line - Com a biotecnologia, quais são as principais modificações que se pretende alcançar na produção de alimentos e na medicina?
Tarso Ledur Kist - 
Com a biotecnologia pretende-se produzir mais, a um menor custo, com melhor aproveitamento do solo, com menos poluição e maior segurança. Em outras palavras, é isto que se alcança ao se desenvolver culturas com maior rentabilidade ou processos de fabricação de fármacos, enzimas e insumos em geral mais rentáveis.

IHU On-Line - A biotecnologia pode ser uma das soluções para a crise da biodiversidade e da extinção das espécies biológicas? Até que circunstâncias isso é possível?
Tarso Ledur Kist -
 A biotecnologia e a genéticas são uma das maiores ferramentas para aumentar a biodiversidade e frear a extinção de espécies.  Provavelmente, nos próximos anos, algumas espécies já extintas serão trazidas de volta com o uso da biotecnologia e genética. Pode-se esperar que esta busca se intensifique num horizonte de 10 a 50 anos.

IHU On-Line - Quais são os desafios da biotecnologia no Brasil?
Tarso Ledur Kist -
Os desafios da biotecnologia em nosso país são enormes e numa situação bastante contraditória. Primeiro, porque possuímos uma biodiversidade e recursos biológicos como poucos países. Mas, por outro lado, não possuímos uma cultura científica, investigativa, prática e pragmática como outras. O consolo é que existem indicadores mostrando uma aceleração rumo a uma sociedade com maior nível de educação, mais esclarecida, mais pragmática, mais experimental e mais tecnológica.

IHU On-Line - O Brasil deve investir em biotecnologia para viabilizar a alta produção de combustível? Que relações existem entre essas duas áreas?
Tarso Ledur Kist -
Pode-se fazer previsões sobre as contribuições da biotecnologia num horizonte de até 10 ou 20 anos. Para um horizonte de 20 ou além já fica menos provável acertar. Vejam por exemplo a ciência da computação e internet. Quem poderia prever em 1980 que elas transformariam o mundo tão drasticamente em 20 anos? E para melhor? Portanto, a contribuição da biotecnologia para o aumento da produção de combustíveis já é uma realidade. Existem fortes indícios que os biocombustíveis terão um uso crescente somente até 2015 ou 2020. Neste intervalo outras formas muito mais eficientes e viáveis passarão a ter um uso crescente. Ou seja, entre 2015 e 2025 teremos várias formas de energia sendo usadas nos transportes, na indústria de transformação e na iluminação. Nesta última teremos o uso intenso de LEDs e OLEDs.

IHU On-Line - Qual será a contribuição da biotecnologia no futuro? O processo de biotecnologia ajudará a agregar valor na economia?
Tarso Ledur Kist -
O potencial da biotecnologia e da nanotecnologia de agregar valor à economia é realmente muito grande. Existem muitos produtos em potencial a serem criados. Existem muitos fenômenos e processos novos sendo descobertos a toda hora e não conseguimos ver um esgotamento ou um limite para estas descobertas e desenvolvimentos. É exatamente neste fato que reside a certeza de um grande mercado em potencial e da capacidade destas disciplinas afetarem todos os setores da economia, desde os mais tradicionais e até de criar novos setores econômicos.

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