Edição 265 | 21 Julho 2008

Marta Izabel Castro

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Bruna Quadros

O Perfil Popular desta semana é uma das integrantes do grupo Costura Solidária, da Cooperativa Progresso, localizada no bairro Rio dos Sinos, em São Leopoldo. Marta Izabel Castro, 47 anos, é de origem humilde. Nem por isso deixou de viver com dignidade. Aos sete anos de idade, ela já sabia o que era trabalho, resultado de uma infância que teve que ficar para trás. O impulso para ultrapassar, uma por uma, as pedras que o destino pôs em seu caminho vêm de casa. Além de educação, seus pais lhe ensinaram que a vida oferece caminhos certos e errados. Por isso, ela tem orgulho em honrar os valores deixados pelos seus mestres. “Não é porque sou pobre que posso sair fazendo bobagens rua afora. A gente pode sobreviver com dignidade.”

Nascida em Iraí, no interior do Estado, Marta Izabel Castro tem origem humilde. “Meus pais tinham terras, eram colonos, trabalhavam na roça.” A penúltima de 11 filhos, Marta hoje está com 47 anos. Quando tinha quatro anos, seu pai, que sofria de problemas cardíacos, não agüentou a rotina na colônia. “Então, ele vendeu as terras em Irai e comprou um sítio em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, onde passei a maior parte da minha infância.” Desta fase da vida, ela recorda pouco.

Aliás, poucos foram os momentos que ela pode se permitir ser criança. “Comecei a trabalhar muito cedo, aos sete anos. A minha irmã mais velha era professora no Paraná. Como eram muitos filhos, e as dificuldades financeiras eram grandes, as irmãs mais velhas levavam uma das menores para cuidar dos seus filhos.” E foi na casa da irmã que Marta aprendeu a ler e a escrever, além de cuidar de quatro sobrinhos. “Era a melhor hora para mim. Quando estava com ela, era a única hora que eu podia me considerar uma criança. Ali, eu estava com crianças, podia estudar, fazendo alguma coisa da qual eu também gostava.”

Com 11 anos de idade, Marta e a família vieram morar em São Leopoldo. “Os médicos diziam que o problema cardíaco do meu pai não tinha solução. E meu pai queria morrer na terra dele.” Além disso, São Leopoldo oferecia oportunidades de trabalho que no interior não existiam. Marta não teve muitas oportunidades de estudar. Cursou até a 4ª série do ensino fundamental, já morando em São Leopoldo. “O resto eu aprendi com a vida.” Marta conta que seu pai lhe deu uma boa educação, lhe ensinou a vida como ela é, com caminhos certos e errados. “Não perdi nada do que eles me ensinaram. Conservo tudo até hoje e passei para os meus filhos, também. Tudo o que sou, ganhei dos meus pais, trouxe de casa. Não é porque sou pobre que posso sair fazendo bobagens rua afora. A gente pode sobreviver com dignidade.”

Aos 21 anos, Marta casou. A união se desfez há 20 anos, mas deixou a maior herança de Marta: os filhos Mara, de 30 anos; o Carlos, de 24 e o Tiago, de 21 anos. “Meus filhos são tudo para mim, os meus amores. Acho que uma família se constrói assim, com muito amor.” O mesmo apego que tem pelos filhos e quatro netos Marta têm pelos irmãos. “Sempre nos relacionamos muito bem. Se tivermos que dar a mão, é agora e não depois. Quando um precisa, estão todos prontos para ajudar.”

O trabalho no grupo Costura Solidária, na Cooperativa Progresso, ainda é novo: tem apenas dois meses. Marta explica que havia outro grupo de costura, mas este se dissolveu, o que originou o início de um novo trabalho. “Nós não somos da cooperativa, mas trabalhamos lá dentro. As pessoas vão lá e fazem os pedidos. Temos a nossa renda, 20% fica no caixa e o resto é dividido entre o grupo, que são três pessoas.” Antes disso, Marta trabalhava como doméstica, e “com muito orgulho, porque era com o que eu ganhava o meu salário”, destaca. Ela afirma que sempre gostou de costura e o incentivo veio de dentro de casa. “Minha mãe sempre teve máquina de costura, dava chance para a gente aprender.” Modesta, Marta diz que não é uma grande costureira, mas, sim, uma eterna aprendiz.

Até agora, Marta já passou por muitos momentos marcantes. Alguns são guardados na memória pela tristeza. “Quando eu perdi o meu pai, eu era muito nova, tinha 11 anos, e não sabia o que eu estava perdendo. Perdi a minha mãe há oito anos e foi a minha maior dor.” A felicidade, na percepção de Marta, veio em dose tripla. “A Mara, o Carlos e o Tiago. Filho é uma dádiva de Deus, e quando é bem-vindo, melhor ainda.”

Esperança e política

Se há algo que Marta não perde jamais é a esperança. “Meu maior sonho é ter a minha casa própria.” Para ela, a política do país está decadente. “Espero que melhore, porque nós dependemos deles. Não gosto de política, mas quando chegam as eleições, nós temos que averiguar qual é a melhor solução.”

Criada nos princípios da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, hoje, Marta não segue uma religião específica. “Sou meio passarinho, vôo de galho em galho, mas um dia eu me acho.” No entanto, ela acredita e tem muita fé em Deus. “Quando Jesus andou no mundo, ele não pregou religiões, apenas a palavra de Deus. É só Ele quem ajuda a gente.” E, nos momentos difíceis, é também na fé que ela encontra forças para seguir adiante. “Quando me sento fragilizada, escuto um hino da Igreja e não preciso de psicólogo algum.”

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição