Edição 265 | 21 Julho 2008

Mário Alex Rosa

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André Dick

Editoria de Poesia

 

Natural de São João Del Rei (MG), o poeta Mário Alex Rosa nasceu em 1966. É formado em História, pela UFOP, mestre e doutorando em Literatura Brasileira, pela Universidade de São Paulo (USP). Entre os poetas que fazem parte de seus estudos, estão Drummond e Armando Freitas Filho. Também atua como professor no Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) e é membro do conselho editorial da revista Estudos. Na área infantil, publicou o livro de poemas ABC Futebol Clube e outros poemas (Belo Horizonte: Bagagem, 2007). Como tradutor, por sua vez, apresentou versos da poeta argentina Alejandra Pizarnik na plaquete Primeiros poemas (Belo Horizonte: Espectro Editorial, 2005).

Com poemas publicados em revistas como Inimigo Rumor (RJ), Cacto (SP), Teresa (USP/SP), Jandira (Juiz de Fora), e nos jornais Folha de S. Paulo e Suplemento Literário de Minas Gerais, entre outros, Mário pretende reunir muitos deles, como os que enviou especialmente à IHU On-Line, no volume inédito Sem asa. Eles trazem uma certa nostalgia, visualizando, sobretudo, paisagens solitárias, que parecem lembrar bastante o interior de Minas Gerais. No poema “Uma Ouro preto”, por exemplo, há os versos “Há várias ouro preto / de fora e dentro. / / De fora são as carnes / que deixaram de ser anjos. / / De dentro são os anjos / que deixaram de ser carnes”. Outro, intitulado “Olhando montanhas”, parece lembrar a cidade de Drummond, Itabira: “Era tempo de minérios / a cidade de luto vestia a glória / dos seus passantes em noite longa / mãos cerradas, pé por pé vagarosos seguiam /em suas próprias vigílias à espera do perdão”. A paisagem também traz resquícios da interseção entre Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, num poema como “Serra da Mantiqueira”: “Daqui / as montanhas / fundem belezas desesperadas / em volta delas poucos saem. / / Daqui / as montanhas / fixam estranhos silêncios / de dentro delas saem poucos. / / Daqui / as montanhas / acordam dormem / entre elas / mas levam consigo / os que saem / delas”.

Há uma imagética bastante trabalhada, e os poemas trazem estruturas bem definidas, com um verso capaz de mostrar as dúvidas silenciosas que remetem a uma introspecção. Em “Ao lado da tarde”, a paisagem, por exemplo, passa a representar a subjetividade poética: “Quando naquela tarde / depois da chuva, ao lado da janela, / olhava o arco-íris, lembrei / que aqui dentro o escuro prevalecia / longamente perto do amor. / Daqueles dias recordo / as treze estrelas contadas / e a cada uma dizia: / aquela que cai infinitamente / é para lembrar de nossas alegrias. / Mas se indagar pelas outras respondo: / o amor tem ponto”. Há, em outros poemas, a mudança no sujeito indicada pela hora do dia, como em “Mudança”: “Deixei a aurora, / agora só resta uma hora. / Desfiz para permanecer / juntos o eclipse e o amanhecer”. Ou o anoitecer em “Noturno”: “Quem pôs tudo nessa noite / deixou de avisar que ali ao lado / onde a distância se afasta / da luz que é baixa e fria, alguém / desconfia do dia que se aproxima”.

Mário igualmente reflete sobre um certo movimento familiar, com um certo tom melancólico, a exemplo do que ocorre no poema “Do tempo”, que o autor dedica aos irmãos: “Entra / um por um / no seu silêncio / paterno. / / Sai um por um / no seu silêncio / materno. / / Agora todos são / menos dois / eternos”. Junto a isso, há, claro, lembranças de infância. Aliás, em seu livro de poemas infantis, ABC Futebol Clube, Mário brinca com a sonoridade das palavras de maneira a lembrar os melhores momentos de poetas como José Paulo Paes. No poema que dá título ao livro, as letras são consideradas como jogadores: “Atenção, atenção / foi dada a formação do abc: / a escalação tem ares de ataque: / Na Área o A / Arma, Avança, / passa um, passa dois, / lan... çou para o B... / linnnnda bola, / e ele encaixa / e despacha para o C / Corta um, Corta dois, Corta três...”. Também artista plástico, organizou a exposição “A régua da memória ou A regra da memória”, com objetivos construídos sobretudo a partir da observação do universo infantil. Nesses objetos, o autor utiliza objetos como lápis, borrachas, réguas, apontadores, clips, botões, compassos etc., destacando-se cores chamativas aos olhos do observador. Como alguns desses objetos trazem palavras, há uma aproximação mais visível entre poesia e artes plásticas. Uma junção que Mário Alex Rosa deixa clara em toda sua produção poética, seja verbal, seja por meio de objetos para exposição.

 

 

Entre folhas

Fora daqui
há uma imensa chuva,
sem tempo se apropria de todo o espaço
avolumando-se sem cessar.

Abaixo um cinza céu,
os mais encolhidos, os pássaros, recolhem-se
entre as folhas das árvores, verdemente abertas.

No entanto, dentro daqui,
no pulso esquerdo as horas circulam
pontualmente uma chuva
que não pára de cair de você.

 

Dois instantes

Na hora que o sol
aponta para o quarto
e todas as sombras formam outras sombras,
começa o silêncio a acender
seus poucos faróis.

Uma palavra envolve
uma na outra,
e no canto esquerdo
juntas inventam um céu de alegrias.

Mas nesse lugar
de dois
ficar à beira
de uma luz relâmpago
é o bastante para dois instantes.

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