Edição 261 | 09 Junho 2008

“A filosofia transborda em Cirne-Lima”

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Márcia Junges e Patricia Fachin

Inácio Helfer destaca a contribuição de Cirne-Lima na estruturação das linhas de pesquisas, no planejamento de disciplinas e no debate sobre as prioridades do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Unisinos

“É difícil separar o filósofo da pessoa, no caso do Cirne-Lima, pois seu papel social e pessoal está imbricado”, considera Inácio Helfer, professor da Unisinos, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Colega de Cirne-Lima, Helfer avalia sua produção intelectual e destaca sua última publicação, Depois de Hegel, na qual, segundo ele, o autor demonstra a importância de ir além de Hegel e pensar por conta própria. “Isso não significa ler Hegel de uma forma superficial, mas, sim, de um modo aprofundado e, partindo das questões candentes no pensamento atual, buscar as respostas”, considera.

Helfer é graduado em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Imaculada Conceição, de Viamão-RS, mestre em Filosofia, pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), e doutor na mesma área, pela Université Paris I.

IHU On-Line - Com todas as discussões e releituras sobre Hegel, podemos dizer que Cirne-Lima elaborou um novo sistema filosófico? Qual é a sua percepção?
Inácio Helfer
- Sim. Há uma marca registrada na sua proposta de sistema. Ele é regido pelo princípio da identidade e se desdobra em três partes: identidade, diferença e coerência. Ele soube articular de forma correta a relação destes termos.

IHU On-Line - Quais são as grandes contribuições de Cirne-Lima na consolidação do curso de Filosofia da Unisinos e, também, na pós-graduação?
Inácio Helfer
- Suas contribuições se deram na reflexão sobre a estruturação das linhas de pesquisa, no planejamento de disciplinas e no debate sobre as prioridades a serem enfocadas do programa de pós-graduação em Filosofia. Creio que elas foram importantes também na avaliação das fichas de avaliação da Capes, quando o desafio era ler nas entrelinhas dos avaliadores quais os pontos falhos e por onde deveríamos nos dirigir para fortalecer o PPG em Filosofia, que hoje, num curto espaço de tempo, iniciado em 2000, já oferece os cursos de mestrado e doutorado em Filosofia. Sua contribuição mais significativa, contudo, se deu na produção filosófica, seja em sala de aula, com alunos, orientandos e mesmo colegas professores, seja na publicação de artigos e livros de Filosofia.

IHU On-Line - O que a universidade perde com a sua saída do corpo docente? Que vínculos ainda serão mantidos?
Inácio Helfer
- Perde o maior intelectual da área da Filosofia. Contudo, por continuar a manter o vínculo, através do título de professor emérito, guardamos a expectativa desenvolver cursos de curta duração e palestras.

IHU On-Line - Pessoalmente, como a figura de Cirne-Lima o influenciou e incentivou no estudo de Hegel?
Inácio Helfer
- Demonstrando a importância de ir além de Hegel e pensar por conta própria. Isso não significa ler Hegel de uma forma superficial, mas, sim, de um modo aprofundado e, partindo das questões candentes no pensamento atual, buscar as respostas. Ele me influenciou também no ensinamento de que a Filosofia deve ser feita de uma forma clara. De pouco adianta o discurso filosófico das questões mais difíceis se não souber resumi-las em poucas palavras e de uma forma clara. A clareza deve ser uma marca registrada do bom discurso filosófico.

IHU On-Line - Qual é a grande contribuição de Cirne-Lima para os estudos desse pensador no contexto gaúcho, brasileiro e internacional?
Inácio Helfer
- A formulação de uma crítica respeitosa ao pensamento de Hegel com a perspectiva de formular um sistema filosófico neoplatônico, na esteira do pensamento de Hegel. Cirne-Lima não visava destruir Hegel; ele sempre mostrava os erros, as falhas de Hegel e propunha sua correção. A admiração e o reconhecimento do pensamento de Hegel é a marca registrada de Cirne-Lima.

IHU On-Line - Como caracterizaria o filósofo Cirne-Lima e a pessoa Cirne-Lima?
Inácio Helfer
- Como filósofo – e, confesso, é difícil separar o filósofo da pessoa, no caso do Cirne-Lima -, pois seu papel social e pessoal está imbricado. A filosofia transborda em Cirne-Lima. É tamanha esta paixão e seu entusiasmo, que eles andam juntos. Conforme penso, o filósofo é aquele que formula uma questão ou que encontra uma questão aberta e se dedica para formular uma resposta, a mais verdadeira do ponto de vista filosófico. Contra o papel daqueles pensadores que se dizem filósofos por abordarem o pensamento à luz da história da Filosofia, Cirne-Lima buscava questões e propunha respostas. Por isso, ele é um verdadeiro filósofo.

Uma pessoa extremamente gentil, acessível, simples, despojada e compreensiva. Quanto a este último aspecto, chama a minha atenção que, no debate filosófico, nunca o Cirne-Lima desconsiderou uma questão/observação formulada pelo seu interlocutor. Atenciosamente, respondia e, se a pergunta não tivesse sido bem formulada, normalmente devido ao desconhecimento do interlocutor, solicitava a reformulação da indagação e respondia, com respeito e cuidado. A perspectiva levinasiana da escuta e da fala interessada sempre foi uma marca forte do Cirne-Lima.

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