Edição 253 | 07 Abril 2008

Luta e empoderamento: a posição das mulheres na sociedade atual

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Bruna Quadros

A partir do filme Tomates verdes fritos, Sônia Almeida destaca que “a luta das mulheres em busca de igualdade, em todos às áreas, é histórica, logo, permanente”

“A informação, o engajamento, a politização, entre outros processos, parecem-me importantes para o empoderamento das mulheres”, afirma a Profa. MS Sônia Almeida, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, sobre o posicionamento das mulheres na sociedade atual. Embora a figura feminina esteja cada vez mais em ascensão, e, em alguns casos, assuma funções antes tidas como “de homem”, Sônia enfatiza: “é preciso relembrar que a luta das mulheres em busca de igualdade, em todos às áreas, é histórica, logo permanente”. A Profa. MS Sônia Almeida irá discutir esta temática, a partir do filme Tomates verdes fritos, de Jon Avnet. A obra será exibida no dia 08 de abril, das 19h15 às 22h, na sala 1G119 do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, e integra o evento Cinema e Saúde Coletiva III: mulheres e seus múltiplos desafios, promovido pelo IHU.

Sônia Almeida é mestre em Serviço Social, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), onde cursa o último ano de doutorado, com uma tese sobre as casas-abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica no Estado. Atualmente, integra o corpo docente da Unisinos, no curso de Serviço Social.

IHU On-Line - Tomates verdes fritos é um filme de transformação: uma mulher deprimida em poucos dias torna-se outra pessoa. Como as mulheres de hoje ultrapassam barreiras e descobrem suas virtudes, na tentativa de mudarem a sua própria realidade?

Sônia Almeida - Embora seja um processo complexo, no qual interferem forças objetivas e subjetivas, é preciso relembrar que a luta das mulheres em busca de igualdade, em todos às áreas, é histórica, logo permanente. Então, a informação, o engajamento, a politização, entre outros processos, parecem-me importantes para o empoderamento das mulheres.    

IHU On-Line - A obra trata, essencialmente, de coragem de superar perdas, de quebrar tabus, de enfrentar preconceitos e, também, de se permitir uma boa amizade. Em meio às relações sociais que se estabelecem, ainda é possível lidar com tais sentimentos, sem que as pessoas se distanciem umas das outras?

Sônia Almeida - Embora vivamos um processo de “desfiliação”, visível em todos os campos da vida social e um dilacerar dos vínculos entre o eu e o outro, acredito que há saídas. A coragem, a audácia, a ousadia, entre outros elementos, podem ser um caminho para criar rupturas do que está sendo imposto. E isto já estamos observando e vivenciando desde o final do século XX e neste jovem século XXI: a emergência de ações coletivas e de trabalhos institucionais, enquanto expressões de um movimento contracorrente; são forças sociais de resistência, novos movimentos sociais, crítica aos processos sociais de construção da violência social e  simbólica. Enfim, apontam-se idéias e práticas criativas e inovadoras. Parece que este contexto de perdas, de tabus, de preconceitos, de violência (seja qual for a modalidade), também apresenta possibilidades de formas cidadãs de mediação de conflitos e de construção de uma nova ordem interpessoal e social.

IHU On-Line - Independente do tipo de relação que cerca duas personagens da trama, a ênfase é dada apenas ao sentimento que as une. Embora o filme não faça uma apologia direta de uma relação homossexual, este aspecto pode ficar subentendido. Por que é tão difícil, na sociedade contemporânea, o conceito de amizade ser disseminado nas relações afetivas?
Sônia Almeida
- Vivemos num mundo onde as transformações são globalizadas, rápidas e as relações tornam-se superficiais, pois as relações de sociabilidade formam-se e se desenvolvem mediante processos simultâneos e contraditórios de integração comunitária e de fragmentação social, de massificação e de individualização. Como refere Hobsbawm, há um “declínio dos valores coletivos e crescimento de uma sociedade extremamente individualista”. Isto tem repercussão em nossos laços sociais e afetivos. Nestes processos fragmentados, o preconceito, a competição, o interesse, vem à tona e tem um significado, que vale a pena refletir. Parece também ser interessante pensar acerca dos vínculos e laços sociais que fazemos durante nossa vida. Creio que na sociedade contemporânea o lugar da reflexão, do diálogo, está cada vez mais reduzido.

IHU On-Line - Aprender a viver, apesar das circunstâncias, e tornar reais as nossas aspirações são algumas das lições do filme. Em que medida estes aspectos contribuem para mostrar às pessoas que moldar o destino cabe a cada um?
Sônia Almeida
- Parece-me que se trata de reinventar formas de solidariedade, fundamentadas no respeito, na aceitação das diferenças, no diálogo e na igualdade.

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