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Maria Rosicler Ferretto Barbosa
A imagem da Santa Ceia traz consigo uma subjetividade, o que não interfere na fé cristã. Para a Profa. MS Maria Rosicler Ferretto Barbosa, em nossas problemáticas universais, a mensagem do Cristo, via Eucaristia, “é sempre um espaço de esperança e de reflexão, na possibilidade de uma verdadeira justiça social e uma real comunhão na contemporaneidade”. Ela destaca que as possibilidades de interpretação da figura da Santa Ceia se reforçam através da arte, pois “passamos a relacionar a nossa subjetividade a subjetividade do artista. E é nessa condição que construímos um novo olhar. E, do meu ponto de vista, esta é uma experiência sensível de comunhão, de descentralização, onde passo a conhecer-me, identificar-me e relacionar-me com o outro”.
Maria Rosicler Ferretto Barbosa irá discutir a importância da Santa Ceia na tradição e na contemporaneidade, no evento Páscoa 2008: um grito contra a violência. O encontro é promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, será realizada no dia 17 de março, das 17h30 às 19h, na sala 1G119 do Instituto. A palestrante é graduada em Artes Visuais pela Feevale e mestre em Educação pela Unisinos. Atualmente, integra o corpo docente da Unisinos no PA em Pedagogia Educação do Olhar e na disciplina Teorias da Aprendizagem, para as licenciaturas compartilhadas das Ciências Humanas.
Eis o artigo:
Estabelecendo como referência o cristianismo, na Igreja Católica, nosso olhar a partir da obra de Leonardo da Vinci , Tintoretto ou W. Virgulino , nos remete às simbolizações da instituição da Eucaristia. Ato este possível de ser renovado no sacramento da comunhão, quando nos sentimos identificados com a mensagem simbólica da Santa Ceia. Esta obra apresenta uma perspectiva de vida e de mundo fundada nos princípios da comunhão, da solidariedade, da harmonia entre os seres, entre homens e mulheres. Em nossas problemáticas universais, a mensagem do Cristo, via Eucaristia, é sempre um espaço de esperança e de reflexão, na possibilidade de uma verdadeira justiça social e uma real comunhão na contemporaneidade. Creio que, em busca da permanência e vivência destes valores pregados por Cristo, muitas famílias mantêm em seus lares uma representação da Santa Ceia. É uma manifestação da Fé.
A referida imagem, a partir das diferentes representações na História da Arte, apresenta variadas expressões. Leonardo da Vinci, por exemplo, ao criar a “Última Ceia” preocupou-se em revelar, de forma dramática e cênica, o que cada discípulo sentiu e expressou frente à frase do Mestre: “Em verdade, vos digo que um, dentre vós, me trairá”! Nesta representação, faz-se evidente a profunda intuição de Leonardo sobre a natureza íntima do comportamento e das reações dos homens e o poder da imaginação que o capacitou a colocar a cena ante nossos olhos. Nada havia nessa obra que se assemelhasse às representações mais antigas do mesmo tema. No mural do artista, há drama e excitação. Leonardo reverte o texto das Escrituras e esforça-se por visualizar como teria sido a cena quando Cristo revela que será traído. Assim, percebemos que a leitura da obra processa, inicialmente, a marca da subjetividade do autor ou do leitor, fundada nas experiências e na cultura de quem a produz ou de quem a frui. Lemos e/ou produzimos o que nos é significativo.
Mas, a partir do momento em que contextualizamos esta obra artística, amplia-se a leitura. Além de “ver”, passamos a “olhar”; isto é, a conhecer, a perceber, a pensar, a refletir a significar, a realmente ler com o olhar. Passamos a relacionar a nossa subjetividade à subjetividade do artista. E é nessa condição que construímos um novo olhar. E, do meu ponto de vista, esta é uma experiência sensível de comunhão, de descentralização, onde passo a conhecer-me, identificar-me e relacionar-me com o outro. Portanto, a arte é também um espaço de comunhão, pois através dela, numa perspectiva intemporal, interagem muitas pessoas centradas no mesmo tema. A convivência com a arte, mediada pelo professor, pelo artista ou conhecedor da arte, favorece a formação de pessoas mais sensíveis à sua condição humana e à sua realidade. Refletindo sobre este tema, cada um de nós poderá perguntar-se: qual é o sentido da Santa Ceia para minha família? Estarei exercitando cotidianamente a promoção da comunhão, da solidariedade e da espiritualidade?