Edição 248 | 17 Dezembro 2007

BINGEMER, Maria Clara. Simone Weil - A força e a fraqueza do amor. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

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IHU Online

Na edição desta semana, voltamos a dedicar um espaço ao livro Simone Weil - A força e a fraqueza do amor, da teóloga Maria Clara Bingemer. Desta vez, quem comenta a obra, em entrevista exclusiva concedida por e-mail à IHU On-Line, é a jornalista Marli Berg. Marli é também crítica teatral, colunista literária de Ele Ela, Manchete, O Globo, do site Blocos Online - Portal de Literatura e Cultura, e autora de romances de ficção. Confira também uma entrevista com a própria Maria Clara Bingemer, publicada na 243ª edição da IHU On-Line, de 12 de novembro de 2007.

IHU On-Line – Qual é a principal mensagem deixada pelo livro que procura explorar o pensamento de Simone Weil  sobre a questão da força, da violência e da paz?
Marli Berg -
Na minha humilde opinião de leitora, Simone procurava, em tudo e por tudo, a justiça, o amor ao próximo e a paz, e era uma imitadora perfeita de Jesus. O que me impressionou é que ela beirava, às vezes, à incoerência e à ambigüidade, pois, ao mesmo tempo em que perdia saúde e vida para vivenciar o sofrimento do operário, era partidária de um engajamento mais firme, como no caso da Guerra Civil Espanhola. Aqueles que recebem o privilégio de serem seduzidos pelo Cristo parecem receber, também, a capacidade que ele tinha de ser, ao mesmo tempo doce, consolador com os pecadores (como demonstra em diversas passagens do Evangelho) ou ríspido e até violento (como quando derruba as barracas dos vendilhões do templo).
 
IHU On-Line - Qual é a contribuição do pensamento de Simone Weil no contexto mundial atual, marcado pela violência, inclusive entre as religiões? Qual é a inspiração que Weil pode oferecer, considerando-se que, para ela, a força e a violência eram intoleráveis, inconcebíveis, inadmissíveis?
Marli Berg -
Para mim, a maior contribuição de Simone, aos tempos de hoje, é a prática do amor ao próximo, o desespero frente ao sofrimento do outro, o desejo da doação total por Amor. Se ela estivesse viva, hoje, certamente tomaria as mesmas atitudes frente a problemas que envolvem a violência, a dor e o sofrimento do próximo.
 
IHU On-Line - Quais são os principais pontos de comparação do pensamento de Weil com Emmanuel Lévinas e René Girard, e com as mulheres judias Edith Stein  e Etty Willesum?
Marli Berg -
Quanto aos filósofos, não me sinto em condições de opinar, pois não tenho conhecimento suficiente sobre suas obras. Quanto a Etty e Edith, embora tenha lido o diário de Etty e conheça fragmentos da obra de Edith, o que posso dar é uma opinião vivenciada, já que também sou judia. Me converti ao catolicismo por ter sido seduzida pelo Cristo, que passou muito tempo andando a meu lado até me convencer e que é a seguinte: um judeu, quando tocado pelo Cristo, percebe de forma total a Verdade e a Revelação que vem desde Nosso Pai Abraão, que obedeceu, sempre e cegamente, a seu Deus. As três mulheres receberam o chamado, atenderam a ele e o seguiram, cada uma a seu modo, de acordo com a própria personalidade. O que posso dizer, como testemunho, é que a experiência é avassaladora e apaixonante, e que o prazer de encontrar a Deus e ter a certeza que o melhor caminho é se entregar totalmente a Ele, é sublime, insubstituível e totalmente amorosa.

IHU On-Line - Qual é o peso dos valores cristãos no pensamento de Simone Weil?
Marli Berg -
O peso é total. Mesmo antes de saber, de ter consciência do fato, Simone já era cristã, e seguia todos os valores que Cristo nos deixou como herança.

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