Edição 246 | 03 Dezembro 2007

Destruição embrionária x avanço científico: uso de células-tronco esbarra na legislação

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IHU Online

“Eu concordo com a idéia de que os embriões excedentes, que foram criados para fertilização in vitro, poderiam ser doados, com consentimento, e ser usados para a pesquisa que poderia conduzir às novas terapias médicas.” A declaração é de James Edgar Till, Ph.D. em Biomedicina, pela Universidade de Yale, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Ele fala também sobre os princípios das diretrizes que regem as pesquisas com células-tronco no Canadá e sobre a importância das pesquisas encontrarem maneiras de ajudar as pessoas que estão doentes, e não "controlar a natureza humana".



Considerado o pai das células-tronco, pois em 1963 descobriu que as células transplantadas da medula óssea no baço de ratos se auto-replicavam, o cientista canadense James Till estudou ciências na Universidade de Saskatchewan, terminando seu bacharelado em 1952 e seu mestrado em física em 1954.

IHU On-Line - Certa vez, John Rawls disse que não há mundo social sem perda, ou seja, não há mundo social que não exclua alguns modos de vida a fim de concretizar, de determinadas maneiras, certos valores fundamentais. Relacionando essa teoria com as pesquisas sobre células-tronco, qual é a sua percepção? Embriões podem ser destruídos para o avanço da ciência?
James Edgar Till -
A controvérsia se dá, principalmente, em relação a métodos que estão disponíveis para a criação e o uso de células-tronco de embriões humanos. Pesquisadores de células-tronco precisam seguir as leis do país no qual vivem e trabalham. No Canadá, as diretrizes para a Pesquisa de células-tronco pluripotenciais são embasadas nas disposições do Tri-Conselho de Estabelecimento de Políticas: Condutas Éticas para a Pesquisa Envolvendo Humanos.

IHU On-Line - Essas pesquisas representam um desrespeito à vida ou, pelo contrário, são a favor dela?
James Edgar Till -
Eu acho que este excerto da Wikipédia resume a controvérsia muito bem: “Alguns opositores da pesquisa argumentam que esta prática é um declive escorregadio em direção à clonagem reprodutiva e fundamentalmente desvaloriza o valor de um ser humano. Contrariamente, pesquisadores médicos na área argumentam que é necessário buscar a pesquisa em células-tronco porque as tecnologias resultantes poderiam ter um potencial médico significativo e que embriões excedentes criados para a fertilização in vitro poderiam ser doados consensualmente e usados para a pesquisa. Isso, por sua vez, conflita com os opositores do movimento pró-vida que advogam pela proteção dos embriões humanos. Tal debate levou autoridades ao redor do mundo a criarem modelos regulatórios e realçou o fato de que a pesquisa em células-tronco embrionárias representa um desafio social e ético”.

IHU On-Line – O senhor apresentou as controvérsias que giram em torno do embate sobre células-tronco. Qual desses argumentos o senhor defende?
James Edgar Till –
Eu concordo que esses embriões excedentes, que foram criados para fertilização in vitro, poderiam ser doados, com consentimento, e ser usados para a pesquisa que poderia conduzir às novas terapias médicas.
 
IHU On-Line - Até que ponto os cientistas devem ter autonomia em ensaios experimentais sobre a vida humana? Qual deveria ser a conduta ética a permear essas atividades, independente do país em que as pesquisas são realizadas?
James Edgar Till –
Eu concordo que essa pesquisa, com seus atuais desafios éticos e sérias transformações sociais, deve ser regulada pelo governo de cada país. Estes regulamentos não necessitam ser os mesmos em todos os países.

IHU On-Line - Alguns pesquisadores advertem que a tecnociência se transformou numa fonte de poder (produtivo e estrutural). Que implicações a interação entre ciência e tecnologia trazem para a sociedade? A tecnociência pretende controlar a natureza humana?
James Edgar Till –
A finalidade de tal pesquisa deve ser encontrar maneiras de ajudar as pessoas que estão doentes, não “controlar a natureza humana”.
 
IHU On-Line - Como o senhor percebe o crescente desempenho da medicina em relação às modificações da natureza humana?
James Edgar Till –
Se as novas maneiras encontradas forem para ajudar as pessoas que estão doentes, os indivíduos doentes terão uma escolha. Podem consentir em ter o novo tratamento (“sim, eu quero ter o novo tratamento”), ou não (“Não, eu não quero ter o novo tratamento”).

IHU On-Line - Que medidas e iniciativas deveriam compor as políticas públicas desenvolvidas pelos governos, no que se refere aos estudos de células-tronco?
James Edgar Till -
É necessário para as agências que provêm suporte para a pesquisa com células-tronco ter diretrizes para os pesquisadores que planejam fazer pesquisa em células-tronco. As diretrizes devem estar de acordo com as leis do país no qual a agência fomentadora está localizada.

IHU On-Line - Que julgamentos éticos e práticos devem guiar o debate sobre células-tronco no mundo?
James Edgar Till -
As diretrizes canadenses para pesquisadores são baseadas em vários princípios orientadores, como:

• Pesquisas realizadas devem ter benefícios de saúde potenciais para os canadenses;
• Consentimento livre e informado, provido voluntariamente e com total divulgação de toda informação relevante ao consentimento;
• Respeito pela privacidade e confidencialidade;
• Nenhum pagamento direto ou indireto por tecidos coletados para pesquisa com células-tronco e nenhum incentivo financeiro;
• Nenhuma criação de embriões para fins de pesquisa;
• Respeito individual e noções comunitárias de dignidade humana e física e integridade espiritual e cultural.

IHU On-Line – E como o senhor tem percebido essas ações? Elas estão sendo consideradas no debate sobre as pesquisas com células-tronco?
James Edgar Till –
Sim, estes são os princípios das diretrizes em que os pesquisadores canadenses devem estar baseados. Se os pesquisadores não concordarem com estes princípios, sua pesquisa não será suportada.

IHU On-Line - O senhor vislumbra tratamentos em doenças como o câncer, utilizando-se de células- tronco?
James Edgar Till -
Células-tronco transplantadas já são usadas há vários anos como parte do tratamento de cânceres sangüíneos, como leucemia e linfoma. Pacientes que sofrem destas doenças possuem células-tronco de formação sangüínea danificadas. Em alguns casos, um transplante pode ser capaz de restaurar as funções normais das células sangüíneas. Como o paciente tem células-tronco danificadas, é necessário encontrar um doador compatível antes de começar o tratamento.

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