Edição 231 | 13 Agosto 2007

O óleo de Lorenzo, de George Miller

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IHU Online

Cinema e saúde coletiva II: cuidado nas relações entre as pessoas e com a natureza

Discutir as idéias do filme O óleo de Lorenzo, de George Miller (1992) é a tarefa do Prof. MS. Fábio Alexandre Moraes, docente da Unisinos, no evento Cinema e Saúde Coletiva II: cuidado nas relações entre as pessoas e com a natureza que acontece nesta terça-feira, 14-08-2007.

Moraes é graduado em Psicologia pela Unisinos, especialista em Saúde Mental pela Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (ESP/RS) e mestre em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com a dissertação Abrindo a Porta da Casa dos Loucos (ou: para ativar a potência dos fluxos). A entrevista que segue reflete aspectos da discussão que será conduzida por Fábio após a exibição do filme. A entrevista foi respondida por e-mail à IHU On-Line.

É possível cuidar sem estar implicado?

Entrevista com Fábio Moraes

IHU On-Line - Quais são as circunstâncias mais contundentes que o filme O óleo de Lorenzo mostra sobre a relação cuidado e cuidador?
Fábio Moraes -
Não conseguiria identificar “circunstâncias”.  Ressalto o que aparece em todo o filme e que sustenta a possibilidade de pensar no “cuidador” – refiro-me ao que nós, profissionais de saúde, chamamos de “implicação”. Considerando-se que no filme os laços familiares predominam, não significa um puro envolvimento afetivo com quem é cuidador. “Implicação”, como um aspecto central nas práticas de saúde, significaria o sentir-se afetado pelo outro e este “afetamento”, perdoem-me a má palavra, ser o propulsor das atitudes e ações de quem cuida. Nesta perspectiva perguntaria: é possível cuidar sem estar implicado? 

IHU On-Line - Como o filme enfatiza a questão da esperança? Como esse sentimento ajuda na recuperação do paciente?
Fábio Moraes -
Em saúde, nós poderíamos relacionar duas palavras – esperança e projeto. Não um projeto futuro necessariamente, mas o projeto inscrito no próprio processo. Às vezes, penso, como encontramos em determinada literatura, que falar em “cura” é relativo. Saúde e doença fazem parte do mesmo processo, são próprias da vida. Há uma diferença, entre esses “estados”? Se existir é na crença de que precisamos continuar lutando, buscando, pesquisando, tratando; é o particípio que nos interessa mais do que a esperança. E isto o filme nos ajuda a compreender. Há um constante movimento de busca. Saúde é a busca, é o movimento de autonomia.

IHU On-Line - Como a informação sobre a doença auxilia os pais de Lorenzo a buscarem elementos de força e apoio?
Fábio Moraes -
É uma leitura, mas preferiria ser coerente com as idéias apontadas acima. Por esse caminho, perguntaria de que tipo de informação estamos falando? A informação isolada, separada, do afeto, não significa nada. Os pais de Lorenzo mostram isto e foi o ir para além da informação (trans – in – formação) que produziu a história. Afeto é o que importa, não a informação!

IHU On-Line - Nesse sentido, você faria uma aproximação entre os filmes O óleo de Lorenzo e Patch Adams ? Por quê?
Fábio Moraes -
Claro, são dois filmes que tratam de questões do ato de cuidado e suas possibilidades. Entretanto, de perspectivas diferentes. O óleo de Lorenzo traz a perspectiva, vamos dizer, do “usuário”, do saber que pode ser construindo a partir de quem sofre – e há, efetivamente, a construção de um novo conhecimento. Já Patch Adams traz a perspectiva do profissional, mas questionando um saber constituído, discutindo modelos, práticas e incluindo aspectos que usualmente os profissionais teriam dificuldades de pensar, pressionados pelos ditames das “boas práticas” que, grosso modo, insistem na neutralidade e no distanciamento técnico (visão tecnicista). Mas, insisto, os dois trazem à baila o lugar do cuidador.

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