Edição 225 | 25 Junho 2007

Medidas contra a crise coureiro-calçadista

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IHU Online

Para o secretário geral da Central Única dos Trabalhadores do Estado do Rio Grande do Sul (CUT-RS) João Batista Xavier da Silva, também presidente da Federação Democrática dos Sapateiros, a posição dos dois organismos em relação à crise do setor coureiro-calçadista é clara: “que os governos estadual e federal criem uma saída para encontrar ajuda na questão da exportação”. Ele continua: “Quanto ao governo da Yeda, uma das reivindicações da CUT é a criação da câmara setorial. Hoje, existe uma câmara setorial apenas entre governo e empresários. Os trabalhadores estão fora. Também temos reivindicações contra a questão dos impostos, que são muito pesados. Não queremos que a produção seja onerada. Em termos federais, queremos uma solução para o problema dos juros, bem como um desenvolvimento sustentável e valorização da mão-de-obra, do trabalhador. Para isso, queremos que as esferas estadual e federal estendam sua preocupação, para que possamos estacar essa crise instalada no setor coureiro-calçadista”.

As declarações foram dadas na entrevista exclusiva, por telefone, que concedeu à IHU On-Line na semana passada, avaliando a crise do setor coureiro-calçadista no Rio Grande do Sul.

IHU On-Line – Qual é a posição da CUT e da Federação Democrática dos Sapateiros frente à crise do setor calçadista?
João Batista Xavier da Silva -
A posição da Federação quanto à crise do setor é contra alterar o câmbio. O que queremos é que os governos estadual e federal encontrem uma forma de repensar a questão da exportação. No momento em que se alterar o câmbio, será prejudicado o mercado interno e, também, a sociedade brasileira. Quando se altera o câmbio, aumenta a inflação, o preço do arroz, da água, da luz, do aluguel. Assim, a posição da Federação é clara: que os governos estadual e federal criem uma saída para encontrar ajuda na questão da exportação.

Quanto à posição da CUT, posso dizer que ela é convergente com a da Federação. É uma posição centrada na questão do desenvolvimento. Já estivemos presentes em Brasília com o secretário geral da CUT, o companheiro Quintino Severo, entregando um projeto para o presidente Lula, com as propostas dos trabalhadores da CUT. Nele, pedíamos políticas emergenciais para o setor coureiro-calçadista. A proposta da CUT comunga com a da Federação para que exista um engajamento do governo estadual. Havia o decreto 43.533, que em 2004 foi criado pelo governo estadual de Germano Rigotto , e que trouxe muitas dificuldades para as indústrias. A CUT colocou sua posição e foi ao governo federal e ao governo estadual, a fim de fazer cobrança quanto à questão de que o setor estava falido. Existe a falta de uma política clara para investimentos. Na época, as entidades patronais diziam que o problema era o dólar. Entretanto, para nós, o dólar é uma das situações, mas não é a essencial. As taxas de juro são problema para a exportação, para a sociedade em termos estaduais e federais. Isso faz com que tenhamos uma posição muito clara, que é o investimento no setor de desenvolvimento, e, dentro dele, o setor coureiro-calçadista.
Para você ter uma idéia, quando se fala no setor CNTV (calçado, vestuário, têxtil), representamos no Brasil 2 milhões de trabalhadores. É uma economia importante, que tanto o governo federal quanto o estadual não percebem o que ele representa na balança comercial. Em 1º de março, tivemos uma audiência com o ministro Mantega, em Curitiba, na qual nos posicionamos e levamos um documento pedindo soluções para o problema do setor coureiro-calçadista.

IHU On-Line – Quais são as reivindicações da CUT frente ao governo federal e estadual?
João Batista Xavier da Silva -
Quanto ao governo da Yeda, uma das reivindicações da CUT é a criação da câmara setorial. Hoje, existe uma câmara setorial apenas entre governo e empresários. Os trabalhadores estão fora. Também temos reivindicações contra a questão dos impostos, que são muito pesados. Não queremos que a produção seja onerada. Em termos federais, queremos uma solução para o problema dos juros, bem como um desenvolvimento sustentável e valorização da mão-de-obra, do trabalhador. Para isso, queremos que as esferas estadual e federal estendam sua preocupação para que possamos estacar essa crise instalada no setor coureiro-calçadista.

IHU On-Line – Como a CUT percebe a posição do governo Lula frente à crise do setor coureiro-calçadista em nosso estado? Por que o governo demorou tanto para anunciar o financiamento de R bilhões para os setores prejudicados pela baixa do dólar?
João Batista Xavier da Silva -
Muitas empresas terão acesso a esse dinheiro. Contudo, não existe o comprometimento dessas empresas de manter o emprego dos trabalhadores, seus funcionários. As empresas vão continuar demitindo. Nossa proposta é a seguinte: quem acessar esse empréstimo não pode demitir, e sim aumentar postos de trabalho. Assim, para nós, esse empréstimo pouco vai melhorar, pois não há uma garantia de que as empresas que acessaram esse benefício não irão estancar as demissões. Em 2005 e 2006, vieram investimentos para o setor: R0 milhões em 2005. E as empresas que acessaram esse valor continuaram a demitir.

IHU On-Line – Esses investimentos vieram tarde demais?
João Batista Xavier da Silva -
Acho que não é esse o ponto. O problema é estrutural. Qualquer crise que acontece afeta o setor coureiro-calçadista. Falta investimento do Estado, e essa é nossa grande preocupação. A própria governadora Yeda anulou os incentivos que existiam para a exportação.

IHU On-Line – Como o senhor avalia a atuação dos sindicatos nesse contexto? Qual é a importância desses órgãos na garantia dos direitos dos trabalhadores?
João Batista Xavier da Silva -
A posição das entidades sindicais, referente a esta questão, é fundamental. Não se pode deixar que as empresas usem dessa situação criada para poder tirar vantagem das demissões. Mas que vantagens poderia trazer a demissão de trabalhadores? Muitas empresas usam a demissão para fazer com que o setor se fragilize mais e falta da parte empresarial a qualificação da mão-de-obra da classe trabalhadora. Qualificar os trabalhadores é uma das batalhas travadas pelas entidades sindicais. Muitos trabalhadores estão fora do mercado, o que é ruim. Os sindicatos têm uma posição forte quanto à qualificação e renda do trabalhador. Além de reivindicarem e tentarem proteger os trabalhadores, os sindicatos também têm propostas importantes sobre a qualificação dos mesmos.

IHU On-Line – Está havendo alguma espécie de mobilização junto aos trabalhadores do setor para reverter essa situação? Que medidas estão sendo tomadas?
João Batista Xavier da Silva -
Estamos trabalhando nesse sentido. A Federação está desenvolvendo um seminário no dia 6 de julho para reunir trabalhadores, o Dieese, a FEE e empresários, a fim de se debater a situação da crise coureiro-calçadista. A CUT-RS está engajada nessa iniciativa para que consigamos obter sucesso na busca pela política à qual acabo de me referir, com incentivo fiscal, qualificação de mão-de-obra do trabalhador e juros menores. Em contraposição ao incentivo emergencial dos R bilhões, queremos garantias de que as empresas que acessam esses benefícios não os empreguem para demitir ainda mais trabalhadores.

IHU On-Line – Prefeitos de municípios como Campo Bom e Novo Hamburgo estão em viagem à Europa, em busca de novas tecnologias para incrementar o setor calçadista. As novidades trazidas irão ajudar a amenizar a crise?
João Batista Xavier da Silva -
O que vier para ajudar o setor vem bem. Mas até que ponto a tecnologia vem, realmente, para ajudar os trabalhadores e aumentar os postos de trabalho? Quando se fala em tecnologia, o que o empresariado faz? Diminui postos de trabalho. Na visão empresarial, é isso. O lucro é o que se persegue, e a tecnologia, muitas vezes, vem diminuir o emprego da mão-de-obra de trabalhadores. Em 2005, houve 22 mil trabalhadores demitidos. Em 2006, foram 10 mil demitidos. Nos primeiros cinco meses de 2007, foram 9.500 trabalhadores demitidos. Precisamos, com urgência, tomar providências quanto a isso.

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