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Quem quiser voltar à História encontrará problemas e Helvécio Ratton não será exceção à regra. Por “problemas”, entenda-se aqui resistências, em especial em relação ao tema abordado e à forma como o realizou. Quanto à temática, existe um sentimento de que “tudo aquilo é coisa do passado” e, então, melhor não mexer muito em vespeiro. Ora, nada mais equivocado, mesmo porque estamos todos nós, queiramos ou não, saibamos ou não, mergulhados na História. Desconhecê-la, então, seria desconhecermos aquilo que nos forma e conforma.
Então, deveríamos ser gratos a quem nos relembre que houve uma ditadura militar neste país, da reação armada a ela, e que, em certo momento, até mesmo setores da Igreja se engajaram nessa resistência. Saber que no Brasil viveu gente como frei Tito Alencar (Caio Blat), que entregou sua vida sem nada obter em troca, sem vislumbrar qualquer vantagem pessoal com o risco, testemunha a existência de uma outra ética, de um outro tempo, que já não é o nosso. São biografias e fatos assim que deveriam nos dar consistência como nação, no caso de estarmos ainda em busca disso.
Esse é um ponto. O outro é que todo mundo tem direito a gostar ou não de um filme. Batismo de sangue foi criticado por motivos contraditórios: por excesso de realismo ou por carência dele. Há quem diga que personagens e situações são inconsistentes e, na mesma argumentação, se queixe de que as cenas de tortura seriam realistas demais, no limite da “obscenidade”. São cenas duras, é verdade, mas para sobreviventes dos porões da ditadura, dos DOI-Codi da vida, parecem até amenas. Sempre se poderá dizer que essa é uma consideração extra cinematográfica e vale o que está na tela, nada além disso. Certo, mas talvez a vida valha alguma coisa e o cinema faça parte dela.
São escolhas. Mas, mesmo quem sofre da síndrome da Rosa púrpura do Cairo poderá apreciar na segunda parte do filme a solene progressão de Tito rumo ao seu destino. Um destino não escolhido por ele, mas por uma circunstância trágica da História.