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IHU Online
Graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Octavio Conceição também é mestre em Economia Rural e doutor em Economia pela mesma instituição, com a tese Abordagem Institucionalista: um estudo do papel das instituições no processo de mudança e crescimento econômico, 2000. Atualmente, Conceição é técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, membro de corpo editorial da Indicadores Econômicos FEE e Membro de corpo editorial da Revista de Economia Política.
Em outras oportunidades, o economista já concedeu entrevistas à IHU On-Line. Na página eletrônica do IHU pode ser conferida a entrevista O RS atravessa uma das piores crises financeiras, publicada no dia 19-01-2007. O professor participou, ainda, da edição nº 191, em agosto de 2006, com a entrevista intitulada Aglietta e a Escola de Regulação, discutindo a importância da Escola da Regulação, comentando a obra A violência da Moeda, de Michel Aglietta e André Orléan.
IHU On-Line - O Brasil vive hoje uma crise de desindustrialização? Como o senhor avalia a política econômica do País, atualmente?
Octávio Conceição - Eu não diria que o País vive uma crise de desindustrialização. Diria que ainda estamos passando por profundas mudanças estruturais, daí o termo “reestruturação”, que se iniciaram no início dos anos 1990, e que sucederam à profunda crise dos anos 1980. Essa crise sim foi bastante profunda e teve início no final dos anos 1970, quando se explicitou o esgotamento do famoso ciclo expansionista chamado de “milagre econômico” (1967-1973).
A impossibilidade lógica, teórica e histórica de reprisar experiências passadas - como a vivenciada no “padrão de desenvolvimento industrial”, caracterizado pela industrialização substitutiva de importações dos anos 1930 até seu esgotamento no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 – vem exigindo a montagem de um novo padrão, que, para funcionar, exige uma absoluta sintonia com os desafios do novo paradigma tecnológico em vigência, com um padrão de abertura externa mais amplo e consistente, com um ganho de produtividade do trabalho capaz de assegurar maior renda e qualificação ao trabalhador e uma ampliação do nível de renda doméstico. Tudo isso só será possível quando se ingressar em nova etapa de crescimento, designada por muitos e sem muitos critérios teóricos, de “crescimento auto-sustentado”.
A questão da desindustrialização e sua possiblidade local se inserem dentro do padrão industrial que se originará a partir dessa nova etapa de crescimento, que está em construção. Como todo processo, acredito que alguns setores emergirão como dominantes e outros se inserirão com muitas dificuldades. A estratégia nacional de desenvolvimento econômico é que deverá arbitrar, através da denominada “política industrial”, quais serão os contemplados e quais serão os penalizados. Setores tradicionais, ancorados em padrões de competitividade típicos do modelo anterior (baixa inserção externa, tecnologia passiva, dependência de estímulos cambiais protecionistas) tenderão a perder espaço. E, a meu ver, a questão da desindustrialização está fortemente vinculada a essas características, embora a definição de quais setores serão os emergentes ainda não seja clara.
A política econômica vigente no País tem sido cautelosa, no sentido de eleger a aceleração do crescimento econômico como meta fundamental na definição dos novos setores estratégicos.
IHU On-Line - Quais foram os erros cometidos pelos governos que levaram a bloquear ou estagnar a economia brasileira?
Octávio Conceição - O bloqueio ao crescimento econômico foi resultado menos da política econômica do que do esgotamento estrutural do respectivo modelo. A estagnação da economia desde os anos 1980 é decorrente da falência de uma estrutura produtiva que hoje está em processo de reestruturação. O que a política econômica atual não está fazendo, e deveria, é apostar mais firmemente em um novo desenho industrial, sem, entretanto, deixar de se preocupar, como vem fazendo, com a aceleração da inflação.
IHU On-Line - O senhor disse em entrevista à IHU On-Line, no ano passado, que o Rio Grande do Sul vem atravessando uma das piores crises financeiras de sua história. O senhor atribui essa fase negativa do estado à desindustrialização que vem ocorrendo no País?
Octávio Conceição - Não. A crise estrutural da economia gaúcha é fruto da falência das finanças públicas estaduais, e não da estagnação da estrutura produtiva gaúcha. Aliás, com exceção dos últimos três anos, quando ocorreram problemas de seca e frustrações sucessivas de safras, o desempenho regional supera, em termos produtivos, o desempenho nacional. A economia gaúcha, do ponto de vista produtivo, revela importância nacional, apesar das dificuldades enfrentadas em alguns setores, como o calçadista e o de máquinas e equipamentos agrícolas.
IHU On-Line - Existem outros motivos, além da alta taxa de juros e a valorização do câmbio, que contribuíram para que o Rio Grande do Sul vivenciasse uma crise continua no setor industrial? Quais políticas deveriam ser adotadas para que o estado superar essa crise, principalmente na região do Vale dos Sinos, que a cada ano demite mais funcionários e fecha mais empresas?
Octávio Conceição - A situação do Vale dos Sinos é preocupante e deriva da política cambial nacional. A reversão de tais dificuldades só se dará na medida em que se redinamize o mercado interno e se busquem novos padrões de competitividade internacional externas ao câmbio extremamente valorizado. Obviamente, isso não exclui efeitos compensatórios internos que evitem ou atenuem as dificuldades estruturais do setor.
IHU On-Line - O Brasil tem uma política industrial? Se sim, qual é e como funciona atualmente? E se não, qual seria o modelo ideal de política industrial para crescer a economia do País?
Octávio Conceição - A política industrial brasileira é tímida do ponto de vista produtivo e tecnológico. Está muito mais subordinada ao controle inflacionário do que ao estabelecimento de vínculos tecnológicos para a inovatividade. E seria esse último que criaria condições para o salto qualitativo em termos de crescimento econômico.