Edição 214 | 02 Abril 2007

Perfil Popular - Lisiane Domingues Schons

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Originária de Canoas, Lisiane Schons trabalha desde cedo, sempre em busca de novas oportunidades. Com dificuldades na vida familiar, ela aprendeu a superar obstáculos, sempre olhando para a frente.

Família - De uma família de três irmãos, Lisiane mora com a mãe e a irmã mais nova. Teve uma infância tranqüila. O pai era mecânico e a mãe, dona de casa. Aos 12 anos, as dificuldades bateram à porta da família e a mãe voltou a trabalhar. “Sempre tivemos um convívio bom em minha família. Éramos muito unidos.”
 
Estudos - Lisiane cursou o Ensino Fundamental em uma escola municipal da base de Canoas e o Ensino Médio foi realizado em duas escolas estaduais, Canoas e Marechal Rondon. Aos 17 anos, começou a procurar emprego para ajudar a família. “Meu pai tinha problemas cardíacos e começou o processo de se desligar da empresa onde estava empregado para trabalhar como autônomo. Tínhamos despesas de roupas, calçados e escola. Comecei o supletivo para me formar mais rápido e poder trabalhar.”

Trabalho – O primeiro emprego conseguiu através do pai, em uma pista de kart, em Porto Alegre. Ela tinha uma jornada puxada. Trabalhava das 15 horas até a madrugada. “Nos três meses que fiquei lá, fiz muitas amizades, com pessoas que tenho contato até hoje.” Lisiane aproveitou a oportunidade para também se divertir. “Lembro que uma vez, quando fui andar de kart, passei por cima de um pé de um colega.”

Passagens - Lisiane passou por muitos empregos. Trabalhou em uma auto-escola, como secretária, por seis meses, até fechar. Ela não desistiu e conseguiu uma vaga em uma locadora de vídeos. “Na locadora, o trabalho era muito divertido, era um ponto de encontro dos jovens.” Aos 20 anos, conquistou um posto em uma empresa de manutenção de elevadores, onde ficou por quase dois anos. “Era um trabalho bom, mas eu não gostava de um dos meus patrões; não nos dávamos bem. Como eles não queriam me demitir, acabei pedindo demissão. O último dia que trabalhei na empresa passei chorando.” Com a falta de oportunidades, Lisiane passou um ano desempregada. Nessa época, sua mãe voltou a trabalhar como enfermeira, cuidando de uma pessoa idosa em Porto Alegre.

Mudanças - Lisiane e a família moravam em um apartamento alugado, enquanto construíam a casa própria. “Com as dificuldades financeiras, não pudemos esperar e nos mudamos antes de a casa ser terminada. É uma casa boa, mas inacabada.” Lisiane protestou contra a mudança. “Eu não queria ir morar lá. Vivia no centro de Canoas e não queria mudar para tão longe, no bairro Estância Velha. Chorei um mês inteiro antes de me mudar. Acabei fazendo muitas amizades na vizinhança e hoje não quero mais sair de lá.”

Pai - Lisiane era muito apegada ao pai. Em 2005, ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) no tronco cerebral e foi internado no hospital. No mesmo momento em que aconteceu o problema, ele perdeu a visão. “O pai passou 12 dias em coma no hospital, sempre com a minha mãe acompanhando de perto. Em seguida, ele faleceu. Perdi meu chão quando isso aconteceu.” Lisiane ressalta a importância que o pai teve em sua vida: “meu pai era tudo para mim. Meu melhor amigo. Amo minha mãe, mas não tenho com ela a relação que tinha com meu pai. Éramos mais apegados. Meus pais se separaram quando eu tinha 23 anos, e eu fiquei morando com meu pai, junto com a minha irmã. Nesses cinco anos, nos aproximamos muito mais do que antes”.

Dificuldade - Quando os pais se separaram, a situação financeira piorou. A família chegou a ficar sem luz e água, contando com a ajuda dos vizinhos. “Meu pai não conseguia trabalho nessa época, mas continuamos muito unidos. Continua visitando a minha mãe, mas não era a mesma coisa. Depois que meu pai faleceu, convidamos minha mãe para morar conosco, pois ela morava de aluguel.”

Casamento – Lisiane conheceu o Maychel, seu namorado, em sua nova vizinhança em Canoas. “Era um amigo, que costumava freqüentar a minha casa junto com os jovens da vizinhança.” O casal resolveu morar junto depois de dois anos de namoro. “Em vista da dificuldade que passávamos e também por um desejo dele, resolvemos morar juntos na minha casa. Ficamos cinco anos morando sob o mesmo teto. Hoje, ele mora com a mãe, mas continuamos juntos.”

Trabalho – Lisiane passou por uma gama variada de empregos. Trabalhou em uma fábrica de componentes elétricos durante alguns meses, como auxiliar de produção. “Depois de alguns problemas com o meu supervisor, eu e uma colega fomos demitidas.” O desemprego novamente bateu à porta da família. “Passei algum tempo desempregada depois disso. Nessa época, todos em minha família estavam desempregados. Minha mãe pagava as contas em casa.” Trabalhos temporários são freqüentes no currículo de Lisiane. Ela já trabalhou em um quiosque de maquiagem, em um shopping e como captadora nas Lojas Renner, onde preenchia propostas de cartões. O marido de Lisiane acabou por lhe trazer a próxima oportunidade. “Ele conhecia algumas pessoas em uma assistência técnica de relógios. Esse foi o emprego que passei mais tempo: dois anos.” Apesar de gostar do trabalho, ela achava a jornada pesada. “Trabalhava na área administrativa, mas o salário não compensava o esforço.” Também foi promotora, trabalhando com relógios na Renner no shopping de Novo Hamburgo. “Não podíamos ficar sem emprego. Aproveitávamos qualquer oportunidade que surgia”. Hoje, ela trabalha em uma assistência técnica da Motorola.

Chocolate - Lisiane trabalha também com a empresa de chocolates caseiros Monthez, há três anos. “Uma amiga em comum trabalha na distribuidora do produto, e avisou a minha irmã que a empresa iria precisar de promotoras na época da Páscoa. Fiz os testes, o treinamento e fui selecionada.” No primeiro ano, trabalhou entre Canoas e Novo Hamburgo. “No ano seguinte, fui chamada novamente, mas como estava começando na empresa onde estou hoje, não pude aceitar. Neste ano eu me ofereci para o trabalho, e, junto comigo, vieram minha irmã, minha cunhada e minha mãe, todas na mesma área. Um negócio em família. Encaixei minhas férias na época de páscoa para pode trabalhar novamente.” Lisiane considera um trabalho tranqüilo, onde pode ainda fazer amizades. Ela destaca as peculiaridades da função. “Tem sempre um ou outro homem que flertam com as promotoras. Trabalhando com o público, conhecemos pessoas muito queridas e outras nem tanto. Levamos alguns xingões às vezes.”

Planos – A trabalhadora tem os sonhos de todo o brasileiro. “Penso em ter a minha casa, meu carro e trabalhar em uma empresa na qual eu possa crescer na carreira. Fiz um curso de massoterapia em busca de um emprego melhor.” Lisiane ainda tem o sonho de cursar uma faculdade, mas ainda não decidiu o curso. “Simpatizo com a Psicologia por gostar muito de ouvir as pessoas, conversar e ajudar. É um sonho mais distante, pois não é prioridade no momento.”

Futuro - O futuro já esteve mais distante de Lisiane. “Quando meu pai faleceu, eu desisti de muitas coisas. Perdi a vontade de casar e ter filhos e de muitas outras coisas. Fazendo terapia e com muito esforço recuperei a vontade de seguir em frente.” Hoje em dia, ela pensa em ter pelo menos dois filhos. “Quero ser para eles o que o meu pai foi para mim.”

Brasil - Ela é otimista em relação ao País, acreditando que ainda é possível resolver os problemas administrativos. “Para mim, o problema maior é a área da saúde. Precisei de um médico na semana passada e tive problemas. É muito precária a situação da saúde no País. Nós pagamos e quando precisamos o serviço não está disponível. A educação também está ruim. Tem muitas pessoas que tem vontade de estudar e não tem oportunidade.”

 

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