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“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos” - Oswald de Andrade
O excerto que abre este editorial é a primeira estrofe do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, escrito por Oswald de Andrade e publicado no Jornal da Manhã, em 18 de março de 1924. O texto é uma verdadeira ode à cultura e arte brasileiras, que, passado mais de um século, cai como uma luva para descrever a proposta deste número da Revista IHU On-Line, que busca valorizar o Natal a partir de uma perspectiva que se distancia dos signos do colonialismo e do capitalismo.
Há uma Brasil, rico e profundo, que a mística do nascimento do Menino Deus se cruza com as tradições religiosas ibérica e cosmológicas africana e indígena para celebrar o nascimento daquele que é a figura mais conhecida do Ocidente, Jesus Cristo. Tal como num poema de Fernando Pessoa, em que Jesus torna-se outra vez menino e foge à terra num raio de sol num meio-dia de primavera, poesia e mística transformam-se em uma só coisa a nos reconectar (o sentido radical de religião) com o sagrado em suas mil faces, no corpo vivo do sal da terra.
Alfredo J. Gonçalves, mais conhecido como Pe. Alfredinho, fala sobre a importância de olharmos para os pobres e, com isso, fazermos germinar a esperança de renovação e justiça (justiça social inclusive) que o nascimento de Jesus Cristo representa.
Lourdes Macena, doutora em Artes pela UFMG e professora no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará, aborda o tema do Pastoril, uma encenação dramática encenada por diversos personagens, com especial foco às pastorinhas cujo papel central é cuidar do Menino Jesus. A manifestação, estética e religiosa, é um folguedo bastante popular no nordeste brasileiro.
O professor e pesquisador da UFOB, Cícero Félix de Sousa, apresenta em sua entrevista manifestações sagracionais do Cerrado, que oferecem uma outra imagem, mais original e complexa, sobre os festejos natalinos.
Célio Turino, historiador, escritor, filósofo e poeta, traz para os leitores da IHU On-Line o auto de Natal intitulado Folia de Reis: Memória viva que caminha. “Natal existe enquanto houver quem cante junto, quem abra a porta, quem transforme memória em gesto, fé em abrigo. Natal é decisão cotidiana de permanecer humano num mundo que frequentemente desumaniza", lembra o escritor.
A edição conta, também, com a reflexão Um auto de Natal nordestino: Morte e Vida Severina, escrito por Faustino Teixeira, na qual o teólogo e pesquisador da UFJF, mostra que “vida aparece para se contrapor à neblina de uma trajetória que se depara cada vez mais com a morte”.
A entrevista de Humbertho Oliveira, Folia de Reis: a celebração popular da alma brasileira e uma meditação para a irmandade, traz à baila a discussão sobre um Natal que seja culturalmente rico e espiritualmente encharcado de brasilidade nas roças e interiores do Brasil profundo que sobrevive na espiritualidade e alegria das manifestações populares.
Desejamos a todas e a todos um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de esperança, saúde e paz!