Edição 548 | 07 Junho 2021

DEPOIMENTO - Mulheres na pandemia - Luisa Molina

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João Vitor Santos

Luisa Molina, 32 anos
Doutoranda em antropologia na Universidade de Brasília e pesquisadora do Laboratório de Antropologias da T/terra

Tem sido bem difícil. Há bastante esforço para não sucumbir, pois todo dia é uma experiência de resistência, afinal é preciso manter o ritmo e o fluxo mesmo sem ter perspectiva no horizonte, tentando me manter criativa e atuante, fazendo planos e projetos mesmo sem expectativa clara. É como se a gente andasse no escuro com base na fé de que uma hora vai desanuviar.

Em termos mais objetivos, tenho tentado articular, sopesar, equilibrar minha vida entre pesquisa, trabalho, vivência como mãe e no terreiro com essas coisas todas, que parece um malabarismo com coisas de tamanhos e formatos diferentes, que exigem de mim uma perícia específica para não deixar nada cair no chão. É exaustivo o esforço de não deixar nada cair no chão, mas tem dado certo, embora de vez em quando eu dê uma sucumbida de cansaço.

Mas tenho a sensação também que o período mais duro para mim foi quando estava me adaptando à rotina extenuante no meio de um vendaval que foi a chegada da pandemia no contexto do Tapajós, onde trabalho fazendo pesquisa junto aos Munduruku. Foi um horror, totalmente desestruturante, então quando as coisas se acalmaram por lá, eu consegui me acalmar por aqui. Vamos dando jeitos de resistir e criar alternativas e espaços de respiração dentro e fora da gente. O fato de ser mãe me ajuda bastante. Apesar de me cansar, me dá força, me ancora e me dá uma coragem que talvez eu não teria se não tivesse filho. Isso é fortalecedor, em todos os sentidos, apesar dos desafios.

Minha rotina mudou completamente, pois antes eu saía de casa, levava meu filho à escola e ficava trabalhando na tese e nos outros projetos. Agora tenho que trabalhar em casa, com o filho em casa, e tenho que dedicar meu tempo a ele, sem contar os trabalhos domésticos. Isso tem sido muito difícil e durante bastante tempo, principalmente no ano passado, eu tinha que trabalhar à noite, que era quando eu tinha um pouco de paz para escrever a tese. E eu fiquei exausta. Cuidar do filho e da casa de dia e escrever a tese de noite deixou-me extenuada.

Somos três e não saímos. Só saio para ir ao terreiro, mas no geral não saímos. Os cuidados têm sido aqueles que são possíveis de fazer. Comprei muita [máscara] PFF2, distribuí para as pessoas próximas. Quando saímos é com elas, e mantemos os demais cuidados.

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