Edição 542 | 30 Setembro 2019

Vilém Flusser. A possibilidade de novos humanismos

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Nascido em Praga, em 1920, na República Tcheca, Vilém Flusser viveu no Brasil após fugir dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Autodidata, seus estudos iniciais voltavam-se a questões em torno do existencialismo e da fenomenologia e depois foram migrando para os temas da filosofia da comunicação e daquilo que ele próprio chamaria de Comunicologia.

A presente edição da revista IHU On-Line retoma o debate do pensamento de Flusser que vislumbrava, décadas antes do advento de inúmeros dispositivos eletrônicos presentes na vida contemporânea, como as sociedades tecnocientíficas exigiriam novos modos de compreender, existir e viver em um mundo prenhe de possibilidades.

Anderson Pedroso, doutorando em História da Arte na Universidade Sorbonne - Paris 4, aborda como as transformações tecnológicas, da manufatura às máquinas, impactam as formas de pensamento humano e de como o humano é pensado. “Flusser apontou para o fato de que existe uma relação ontológica entre a imagem técnica e a forma de pensar. Pensamos como vemos. Assim, o pensamento não se realiza mais de forma linear, movido pela categoria de progresso. O pensamento se torna circular, cênico, ainda em forma de constelação”, aponta.

Gabriela Reinaldo, professora do Instituto de Cultura e Arte - ICA, da Universidade Federal do Ceará - UFC, traz elementos de um certo perspectivismo na teoria flusseriana para pensarmos a vida em um mundo cada vez mais imerso nas imagens técnicas. “A distinção ontológica proposta não deveria mais ser entre natureza e cultura, mas entre experiências determinantes e experiências libertadoras”, frisa.

Rodrigo Petronio, professor titular da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP, observa como, a partir de uma leitura fenomenológica própria, o autor vai constituir uma teoria dos media em perspectiva existencial. Petronio argumenta que Flusser consegue “criar uma ontologia dos meios, das relações e das mediações que transcende o estatuto conscienciológico da fenomenologia”.

Erick Felinto de Oliveira, professor adjunto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, pensa a possibilidade de constituição de novos humanismos para um mundo cada vez mais complexo e múltiplo. “Não existe como voltar atrás e abdicar das transformações radicais que o desenvolvimento tecnológico ocasionou. Entretanto, podemos tentar habitar ao mesmo tempo diversos mundos possíveis”, pontua.

Gustavo Fischer, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos, analisa como as imagens técnicas produzem novas formas de pensar e se relacionar com o mundo. “O advento deste tipo de imagem indicaria duas tendências diferentes: uma seria de nos encaminharmos a uma sociedade totalitária, ‘dos receptores das imagens e dos funcionários das imagens’ (Flusser, 2008) e a outra indicaria uma ‘sociedade telemática dialogante’ dos criadores e colecionadores das imagens”, ressalta.

Pode ser lido também o Dossiê Agamben, com entrevistas com Castor Bartolomé Ruiz, professor nos cursos de graduação e pós-graduação em Filosofia da Unisinos; Márcia Junges, doutora em Filosofia Política pela Unisinos e pela Universitá degli Studi di Padova - UNIPD; e Ésio Salvetti, doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.

João Ladeira escreve sobre o filme Legalidade, de Zeca Brito na coluna de crítica de cinema.

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana!

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