Edição 212 | 19 Março 2007

A universidade deve incentivar a “loucura”

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Márcia Junges

Tênis, calça oversize, camiseta branca e uma camisa estampada com flores como complemento. Com esse visual que já virou sua marca registrada, além do bom humor e do jeito sem cerimônia nenhuma, o produtor musical gaúcho Carlos Eduardo Miranda falou para uma platéia atenta e que lotou o Auditório Maurício Berni, na aula inaugural do curso de Formação de Músicos e Produtores de Rock da Unisinos, na noite de 13-03-2007.

Dividindo a mesa com Frank Jorge, um dos coordenadores do curso, Miranda, como é conhecido no meio musical, é jornalista graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ex-roqueiro. Tocou em bandas como Taranatiriça, Urubu-Rei e Athaualpa y us Panquis. No começo dos anos 1990 criou o Banguela Records, e produziu bandas importantes na cena roqueira como Raimundos, mundo livre s/a, Skank, O Rappa, Cordel do Fogo Encantado e Cansei de ser sexy. Também é de sua autoria o site Trama Virtual, http://tramavirtual.uol.com.br/, projeto de distribuição on-line de artistas independentes por MP3. Foi jurado do programa Ídolos, exibido no ano passado pelo SBT. Minutos depois da aula, Miranda concedeu a breve entrevista que segue para a IHU On-Line. Entre outros assuntos, disse que uma das maiores dificuldades em ser produtor musical hoje é conseguir oportunidades. Avaliando a importância do curso de rock, não mediu palavras: “Cabe à universidade incentivar a ‘loucura’. Se eu fosse professor desse curso, iria dizer: ‘Aventurem-se. Sejam vocês os exemplos da minha aula!’” Confira.

IHU On-Line - Quais são as diferenças de hoje em relação a quando começaste a ser produtor musical?
Carlos Eduardo Miranda
– É tudo diferente. Completamente. A tecnologia mudou a forma de se fazer produção musical. Antes era tudo manual e simples. Antigamente não tinha nada no Brasil. Fazíamos as coisas em casa, errando e acertando. Eu comecei a gravar em um estúdio feito pelo dono. E era o melhor que nós tínhamos. Fazer mixagem de um trabalho não era possível. Era uma fita com o tempo “correndo”. Nós ensaiávamos a mixagem, botão por botão, às vezes até de madrugada. Era muito estressante.

IHU On-Line - E as maiores dificuldades de ser produtor hoje, quais são?
Carlos Eduardo Miranda
– Conseguir oportunidades. O mais difícil é isso, porque aprendemos em casa. Hoje em dia se faz o download de programas de internet e começamos a conhecê-los. Isso torna o trabalho mais fácil do que era antes. Com o mercado em crise, temos que buscar oportunidades. Mas essa é uma dificuldade que sempre existiu. Como que vamos convencer alguém a acreditar que você é um produtor?

IHU On-Line - Tu demonstraste muito entusiasmo com a questão de se estudar rock em uma universidade, e chegaste a dizer que esse é um paradoxo. No Brasil, esse é o primeiro curso. Como tu vês a iniciativa?
Carlos Eduardo Miranda
– Eu acho muito legal. Isso só poderia acontecer no Rio Grande do Sul. Faz muito sentido pela história roqueira do estado. Penso que deve ser estudada a história da música e do rock. Tratar desses temas do modo mais abrangente possível, com o maior número de pessoas possível, seria excelente. Mas também é importante que os alunos saibam reagir contra o academicismo. Não se pode cair em uma armadilha acadêmica, como é o caso de uma porção de artistas que existem por aí. Cabe à universidade incentivar a “loucura”. Se eu fosse professor desse curso, iria dizer: “Aventurem-se. Sejam vocês os exemplos da minha aula!” Essa gurizada tem que fazer som, se aventurar: isso é uma postura rock ‘n’ roll. E digo mais: rock é andar em turma, ter amigos, cultivar essa relação. Não se faz rock sozinho. Arte é feita em turma. Foi assim que nasceu o rock gaúcho, cara!

IHU On-Line - No Brasil e no Rio Grande do Sul, quem tu achas que são os bons nomes do rock agora?
Carlos Eduardo Miranda
– Muitas pessoas. Acho difícil citar. Quem eu citar vai ficar aquém dos grandes momentos da música que aconteceram. Eu prefiro não dizer um ou outro. As pessoas têm que ir para a rua, ouvir e correr atrás dos sons bons que estão disponíveis. O Rio Grande do Sul, como sempre, é muito rico nessa área. Basta procurar, que cada um vai julgar o que gosta.

IHU On-Line - Tu achas que o rock, em comparação com outros estilos musicais, perdeu espaço?
Carlos Eduardo Miranda
– Não, sempre teve seu espaço. Há alguns anos atrás, houve a idéia de que a música eletrônica substituiria o rock, mas isso não tem nada a ver. Todos os estilos podem existir juntos. Assim também funciona com as plataformas tecnológicas. Tem espaço para a fita, vinil, CD, MP3, ou seja, para tudo. O portal My Space  é um ambiente que dá a chance para compartilhar arquivos, vídeos e até criar o seu site. Essa é uma das brechas para os novos talentos.

 

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