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O governo Bolsonaro anuncia o programa Future-se. Os pilares de sustentação da proposta são a abertura das academias a parcerias com a iniciativa privada, gestão descentralizada e sem a presença da máquina estatal, além do financiamento associado a fundos de investimentos no mercado de capitais.
A presente edição da revista IHU On-Line debate a proposta com especialistas de diferentes áreas do conhecimento.
Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia na Unicamp, a proposta visa apenas uma visão eficiente – nos modelos do mercado – e se descola da acadêmica. Para ele, assim como as universidades públicas, as confessionais e comunitárias “serão produtoras de dividendos para acionistas e não geradoras de ideias”.
Ivan Domingues, filósofo e professor titular da UFMG, também vê a proposta como algo que desvirtua a gênese da universidade, transformando seu ethos em business.
Carolina Catini, professora do departamento de Ciências Sociais da Educação da Faculdade de Educação da Unicamp, vê na proposta a revelação de mais uma das faces da financeirização e privatização dos direitos sociais que move o atual governo.
O professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em Portugal, Boaventura de Sousa Santos, analisa como a educação e a geração de ciência vão se convertendo, historicamente, num lucrativo mercado.
Para Marina Campos de Avelar Maia, doutora em Educação e pesquisadora associada ao Graduate Institute of International and Development Studies, da Suíça, corre-se o sério risco de gerir uma universidade reduzida a lógicas de grandes redes internacionais de fast-food.
Tatiana Roque, professora do Instituto de Matemática da UFRJ, destaca que esses ataques à universidade precisam ser compreendidos no contexto desse governo que, segundo ela, faz avançar a democracia iliberal.
José Geraldo de Sousa Junior, doutor em Direito e professor e ex-reitor da UnB, analisa em detalhes o Future-se e vê como principal problema “o caráter inteiramente vendido à lógica privatizante e mercadorizadora do projeto econômico-político que está por trás, delirante do ethos público universitário que marca o sentido social e político da universidade como condição estratégica para o desenvolvimento soberano do país”.
O ex-ministro da Educação, filósofo e professor na USP, Renato Janine Ribeiro, é taxativo ao afirmar que o Future-se é uma proposta de quem não conhece a realidade da universidade no Brasil.
Andréa Caldas, doutora em Educação e professora na UFPR, chama atenção de como a inserção de lógicas mercadológicas pode arruinar o ambiente acadêmico e, logo, as produções científicas.
A proposta do Future-se compreende, além das universidades, os Institutos Federais de Educação. Flávio Luis Barbosa Nunes, reitor e professor do Instituto Federal Sul-rio-grandense - IFSul, destaca que essas instituições são tão prejudicadas quanto a academia. Para ele, a gestão estatal é fundamental para assegurar o acesso universal à formação integral do sujeito.
A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana!