Edição 212 | 19 Março 2007

“Quem toca minhas músicas são rádios pequenas, que não têm o rabo preso”

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Márcia Junges

"Eu não tenho que compor determinado tipo de música, e não tenho um estilo musical predeterminado”, dispara Wander Wildner, roqueiro gaúcho hoje radicado em São Paulo. Na conversa por telefone com a IHU On-Line, entre os petardos arremessados ao sistema neoliberal, ele garante que não faz músicas sob encomenda, racionalmente, mas sim com espontaneidade.

Ícone do movimento roqueiro alternativo no Brasil, Wander explica que o conceito de punk brega, que se popularizou a partir de seu primeiro disco solo, Baladas Sangrentas, não o caracteriza corretamente: “Eu assumo que sou totalmente brega. O meu show e as músicas são bregas, mesmo quando são mais punks”. Por que o conceito punk brega pegou? Porque a sociedade neoliberal tem necessidade de dar nomes a tudo, alfineta. Longe do convencional, seu som não costuma receber espaço nas grandes redes de rádio, mas ele não está nem aí: “Quem toca minhas músicas são rádios pequenas, que não têm o rabo preso”.

Wanderley Luís Wildner nasceu em Venâncio Aires e, conforme seu site www.wanderwildner.com.br, tornou-se Wander desde o dia em que nasceu. Fez história no Replicantes a partir de 1984, com quem até hoje se apresenta. Em sua carreira solo lançou Baladas Sangrentas (1996), Buenos Dias (1999), Eu sou feio... mas sou bonito (2002), No ritmo da vida (coletânea, 2004), Paraquedas do Coração (2004), Acústico MTV Bandas Gaúchas (coletânea, 2005) e 10 anos bebendo vinho (coletânea, 2005). Algumas de suas pérolas musicais são Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro, Empregada e Rodando el mundo.

IHU On-Line - O rock ‘n’ roll tem que ter compromisso com alguém, fazendo letras políticas, de conscientização?
Wander Wildner
– Tem gente que compõe dessa forma. Eu não. Nunca sei o que vou compor, não é algo pensado. As coisas saem no violão. Mesmo que eu faça uma letra, escreva alguma coisa antes, não é pensado. É completamente intuitivo, natural. Meu processo de criação não é racional. Uma receita de composição só existe para quem trabalha de uma forma racional, o que não é o meu caso. Há quem trabalhe assim. O Theddy Corrêa escreve letras pensando no público dele, para os jovens que vão aos shows dele. O Nando Reis escreve pensando para quem está fazendo a música, para qual cantor ele está fazendo. Essa é uma forma racional de compor. Já eu não sei nunca o que vai sair. A composição vem do nada.

IHU On-Line - E qual é o papel do roqueiro na sociedade?
Wander Wildner
– Quando tu falas em sociedade, tu queres dizer a sociedade brasileira, democrática, capitalista e neoliberal, não é? Eu não faço parte dela (risos). Eu faço parte de uma sociedade alternativa, composta por pessoas que trabalham no mundo inteiro com uma outra visão, a de que devemos usar a consciência, de que devemos fazer as coisas que se tem vontade por prazer e não por dinheiro. É um outro tipo de sociedade. Nessa sociedade alternativa, tem muitos roqueiros, e eu sou um deles. Mas da outra sociedade eu não posso falar.

IHU On-Line - Tu achas que o punk continua sendo um gênero de contestação? Por quê?
Wander Wildner
– Na verdade eu nunca participei de um movimento punk. Quando os Replicantes  surgiram, nós não éramos punks. Não havia ninguém punk em Porto Alegre. Isso é uma coisa que existia em São Paulo, por ser uma cidade que recebeu a influência de Londres e por ser uma cidade parecida, de operários. Nessa cidade as pessoas fizeram um movimento igual ao inglês. Mas em Porto Alegre não havia isso. Apenas ouvíamos os Sex Pistols  e ficamos sabendo que eles não sabiam fazer música e criaram a banda do mesmo jeito. Aí resolvemos fazer música para nos divertirmos. Só isso. Acabamos gostando de tudo isso e, como trabalhávamos com cinema, televisão, vídeo, continuamos. Os amigos que estavam à nossa volta gostavam. Depois gravamos músicas, fizemos shows, clipes, e a banda se transformou num “alien”. Mas quem vê a cena punk e a determina é a sociedade.

Outro dia, eu estava dando uma entrevista e refleti sobre isso. Como surgiu o movimento punk? Uns dizem que foi a partir dos Sex Pistols, em Londres, em 1977. Outros dizem que foi a partir dos Ramones, em Nova Iorque, em 1974. Mas naquela época, quando aconteceu, seja um ou outro grupo, eles não se chamavam de punks. Foi a imprensa, depois de um tempo, que detectou a cena e viu que havia bastante gente fazendo aquilo e batizou o movimento de punk. Então a visão da cena é posterior. A mesma coisa aconteceu no Brasil. Depois que viram o que existia em Porto Alegre foi dito que isso era uma cena punk. Eu não tenho nada a ver com isso! O conceito é uma coisa típica dessa sociedade capitalista. Para mim, isso não vale, não vejo as coisas dessa forma. Os Replicantes faziam punk rock. Nós até acabamos fazendo coisas do tipo usar calça de couro preta, o cabelo arrepiado. Isso são elementos que eu assimilei daquela época, como assimilei outras coisas de outras épocas. Eu não sou um punk do movimento punk. Mas, ao mesmo tempo, eu sou punk. Porque como eu absorvi essas informações e a história do punk era “fazer a gente mesmo” com o que se tem, eu faço isso até hoje. Toda minha produção é baseada no que eu tenho. Faço um disco com as condições que eu tenho. Não adianta querer gravar em tal estúdio se não tenho condições de pagá-lo.

IHU On-Line - Desde que tu começaste a tocar, quais são as maiores diferenças que tu vês no rock brasileiro?
Wander Wildner
– A maior diferença é que os grandes artistas, os que fazem parte do show business, têm uma produção de nível muito baixo. É muito ruim. Isso porque a maioria deles faz parte de uma máfia. É a máfia das gravadoras, das rádios e das TVs. Eu digo essa palavra porque, no momento em que tu tens que pagar para a rádio “rodar” tua música, isso é uma máfia. Não tem outra palavra. Esses artistas acham que não fazem parte da máfia. Eles vão dizer que é a gravadora quem paga o jabá , ou mesmo que não é um jabá, ou que é uma promoção que a gravadora pagou. Isso não existe. Esses artistas fazem parte disso, sim. Nos anos 1970 e no começo dos anos 1980, quando eu iniciei minha carreira, não tinha essa lógica. Essa é a grande mudança. E, para ficar na mídia, esses artistas fazem as músicas para a rádio. Que tipo de música é tocado na rádio? Hoje se compõe dentro desse padrão. O músico está dentro de um sistema em que a naturalidade de compor já não existe. É muita racionalidade, canções sob encomenda. Para mim, a arte é o inesperado: ela surge. Eu invento coisas no meio do show que estou fazendo. Surge a vontade de tocar uma coisa que não estava no roteiro, aparece a idéia de dizer algo que tem a ver com aquele momento, sobre aquele lugar onde estou tocando. Isso é uma coisa mais viva, mais legal do que fazer um show todo predeterminado e do que compor já regrado pelo sistema. Isso fez com que o nível musical caísse muito, e é isso que as pessoas estão ouvindo. Elas estão tendo um mau exemplo. A pessoa que faz uma banda toma como referência o que está ouvindo.

As rádios, por exemplo, não cumprem o dever que têm. Elas são concessões do governo. Mas hoje são vistas como empresas particulares, o que está errado. Como concessões, elas devem servir à comunidade, mas a maioria não serve à comunidade, porque toca música que não é da comunidade. Uma rádio de Porto Alegre deveria rodar músicas de Porto Alegre, principalmente. E dar as notícias locais. Pode até dar notícias do mundo e até rodar músicas do mundo, mas só depois de cumprir seu papel de documentar, registrar, reportar o que está acontecendo por aqui. Mas não é o que tem acontecido. O governo, que deveria controlar isso, não o faz. É tudo uma máfia. Minha música, por exemplo, não toca nas rádios de rede. Quem toca minhas músicas são as rádios pequenas, que não têm o rabo preso. As outras, que precisam faturar e fazer um trabalho para suas redes, não tocam meu som. E, mesmo assim, a gente consegue trabalhar! (risos) Hoje existe a internet, e a maioria da nossa divulgação e comunicação é feita via web.

IHU On-Line - Por falar em internet, qual é o teu ponto de vista com relação ao MP3?
Wander Wildner
– Eu vendo meu CD nos shows, nas lojas. O percentual de pessoas que têm acesso à internet no Brasil ainda é muito pequeno. E baixar MP3 não significa que não se comprará o CD. Tem aqueles que compram o CD e não baixam MP3. Quem baixa música divulga meu trabalho, também compra CD e camiseta, vai aos shows. A rede existe para oferecer coisas para o público. O princípio dela não é o comércio, mas a troca. Por isso é que no meu site dá para ouvir todas músicas dos meus discos, assistir vídeos para download. Essa história de ter medo de que o público baixe MP3 não existe mais; é um papo muito antigo. As gravadoras ainda falam sobre isso, mas elas não são nada para nós. Não me interessa o que as gravadoras pensam, se elas estão vendendo menos discos. Eu acho isso ótimo. Eu quero mais que elas se fodam, porque o trabalho delas é mafioso. As gravadoras e todo mundo que é ligado a essa máfia eu quero que se fodam, porque eles fazem mal à humanidade. Os artistas que participam dessa máfia estão fazendo mal à humanidade.

IHU On-Line - Qual é a maior dificuldade de se viver de rock no Brasil?
Wander Wildner
– Não sei, eu não tenho nenhuma dificuldade. Eu vivo muito bem de música, faço muita coisa, trabalho bastante.

IHU On-Line - Tu vês diferença na tua música? Houve um amadurecimento?
Wander Wildner –
Eu não usaria o termo diferente. Eu estou sempre evoluindo, sempre surgindo músicas novas com características que eu não tinha antes. Como eu cresci ouvindo música, essas informações ficam guardadas. Com o tempo, quem toca instrumento sente que essas informações retornam. Quando eu sento para tocar violão, os dedos começam a dedilhar e pode surgir alguma coisa folk, brega, punk. Isso faz com que o novo surja. Eu não estou preso a nada. Eu não tenho que compor determinado tipo de música, e não tenho um estilo musical predeterminado. Posso compor algo tradicional, regional ou eletrônico. No momento estou fazendo um disco chamado La canción inesperada exatamente por isso, porque cada música é inesperada, de um jeito diferente. Isso é o tempo e a vida que vão fazendo.

IHU On-Line - Poderias explicar como surgiu o conceito de punk brega? O que ele significa exatamente?
Wander Wildner
– O conceito de punk brega foi um termo que eu coloquei no release do primeiro disco, o Baladas sangrentas. Quando eu fui divulgar o disco, uma produção independente, falei que o disco era punk brega porque vi que as músicas tinham a característica punk que eu absorvi da época dos Replicantes e também características da música brega que eu ouvia antes dos Replicantes, quando era criança e adolescente. Mas chamar o Baladas de punk brega não significa dizer que eu sou punk brega, foi só aquele disco que tinha esse conceito. Isso não significa que eu estou preso a esse rótulo; foi um termo que eu usei e nem uso mais. Como a sociedade tem essa necessidade de dar nomes a tudo, conceitos, a coisa pegou. Tudo tem que estar separadinho, dividido, mas o problema é da sociedade; eu não tenho nada a ver com isso.

“Eu sou brega”

Prefiro dizer então que eu sou brega, porque aí mesmo é que ninguém vai entender mais nada. Fica uma confusão, e isso para mim é mais interessante. Vou explicar porque eu sou brega. É porque a minha influência maior é aquela das músicas que eu ouvi até os 20 anos. Até então eu escutava Jovem Guarda. A minha formação é essa, e é muito maior do que a minha formação punk. O Brasil é um país brega. A cultura brasileira, pelo menos a que eu absorvi nos anos 1960 e 1970 (depois isso foi mudando), é brega. Eu acho o brega uma coisa bacana, e penso que essa é uma característica do povo brasileiro. Na minha falta de modéstia, eu digo que sou brega, um grande brega, porque eu acho isso lindo. Não penso que o brega seja pejorativo. Eu assumo que sou totalmente brega. O meu show e as músicas são bregas, mesmo quando são mais punks. Quando as músicas são mais tranqüilas aí sim, são totalmente bregas (risos).

IHU On-Line - Como tu mesmo disseste, não estás nem aí para o mainstream . Como tu te sentes dentro da cena rock alternativa brasileira?
Wander Wildner –
Eu viajo o Brasil inteiro, toco em todos os lugares e tenho um público ótimo. Meu trabalho é apreciado em vários estados, desde o Rio Grande do Sul até Belém do Pará, Recife, Salvador, onde a cena alternativa é muito forte. Todos os anos faço pelo menos uma turnê pelo Nordeste. No ano passado, fiz dois shows em Belém e, em abril, devo estar indo para lá outra vez. Sempre viajei muito.

IHU On-Line - Como tu administras o sucesso e essa postura de ter os pés não chão?
Wander Wildner
– Para mim, que venho do teatro, essa coisa de estrela não tem nada a ver. Subir no palco é contar histórias, e depois tu viras uma pessoa normal. Eu converso com todo mundo, mas também não gosto dessa história de tirar fotos, de autógrafos, porque isso é uma coisa que faz parte dessa sociedade capitalista, e isso me incomoda porque às vezes os caras se acham íntimos porque sou conhecido como músico. Estou lá fazendo um show na cidade e o cara quer fazer uma foto minha porque esse é um costume da sociedade dele. Acho isso desrespeitoso, porque na verdade as pessoas não me conhecem, conhecem minha música. E tu não sais falando com quem tu não conheces. Mas as pessoas nessa sociedade fazem isso. Se eu for conversar com alguém que eu não conheço, vou me apresentar primeiro. O que eu acho legal é alguém levar um disco ou camiseta para dedicatória. Mas essa história de bater nas costas e gritar “E aí, Wander!”, ou perguntar se eu sou o Wander, é uma falta de respeito. Para mim, que tenho 47 anos, isso é demais. Como nessa sociedade as pessoas não se respeitam mais, respeitam as outras muito menos.

E tem mais: perder o respeito por si mesmo faz com que as pessoas acabem trabalhando naquilo que não gostam. Hoje se trabalha por dinheiro, e então tem que fazer algo que não se gosta para viver, o que é deprimente. E pior: a humanidade inteira sofre com isso, porque tudo está interligado na Terra. Mas isso as pessoas não sabem, porque foram ensinadas a saber só o que é conveniente, o que os inventores dessa sociedade querem que seja ensinado. Como artista, em convivo com todos esses tipos de pessoas, e não apenas da sociedade alternativa e a neoliberal, porque não são só essas duas que existem. Dentro do universo da sociedade alternativa existem outras várias.

IHU On-Line - Tu não gostas de tocar para multidões e te recusas as fazer um trabalho neoliberal. Tu achas que o rock autêntico tem que ser sempre alternativo? Nesse sentido, como se situa a gravação do “Acústico” na MTV?
Wander Wildner –
Há 16 anos a MTV tem um espaço para a cena alternativa. Tanto é que a idéia de fazer o Acústico Bandas Gaúchas tem quatro bandas alternativas. Ali não tem Papas da Língua  e Nenhum de Nós . Eu entro por essa porta da MTV e sou respeitado. Nunca precisei fazer nada na MTV que não quisesse. Vou e toco minha música. A relação é de respeito. Mesmo sendo uma grande corporação, a MTV tem espaço para a cena alternativa, coisa que não existe na rádio Atlântida, por exemplo. Essa rádio até criou o programa Berçário, mas ali eles vão atrás das bandas que eles querem.

IHU On-Line - De que forma tu percebes a influência de festivais como o Planeta Atlântida junto ao público? Em relação ao Brasil, qual é a situação do Rio Grande do Sul em termos de festivais de música?
Wander Wildner
– A cena alternativa não considera o Planeta Atlântida. O maior festival de música alternativa é o Abril Pro Rock. O Planeta é ligado a uma máfia, não representa a comunidade. Se essa rádio representasse a comunidade, eu estaria no Planeta, assim como o Vitor Ramil, os Replicantes, a Walverdes, o Nei Lisboa. Mas não: o Planeta está ligado ao sistema social que representa, um sistema de indução de cultura. Têm festivais no Brasil inteiro. No ano passado, num festival em Belém do Pará, o primeiro independente naquele lugar, cerca de 30 bandas tocaram em três dias. Eu fechei a primeira noite, a Cachorro Grande  fechou a segunda e o mundo livre s/a  fechou a terceira. Tinha algumas bandas de outros estados, mas a maioria era da cena local. E o público conhecia o trabalho delas, porque lá tem uma rádio e TV educativa que só colocam a cena local. Nesse mesmo dia, estava acontecendo festivais alternativos em Recife, em Salvador e Porto Alegre. E o legal é o que os shows são marcados sem dar um telefonema, só por e-mail. Evidentemente que festivais alternativos como esses não terão o tamanho do Planeta, mas não é nem esse o foco. Quem vai a festival alternativo vai porque quer e não porque é induzido a ouvir músicas, como quem vai ao Planeta.

Baixo nível musical
O jovem de hoje está sendo muito influenciado, não tem mais opinião própria. Nas escolas se ensinam matérias que não dizem respeito à vida das pessoas. As pessoas não sabem mais acordar e escolher o que querem para aquele dia. A base da sociedade neoliberal é a sociedade capitalista, e é isso que as pessoas estão vivendo. Só que a vida é muito maior do que isso. Infinitamente maior. Essa é uma forma de vida que existe e é péssima, porque traz pobreza, burrice. Por isso que o nível da música na TV e no rádio hoje é muito baixo. As pessoas no Brasil não estão vivendo a riqueza cultural do seu país. Estão aceitando fazer coisas sem se questionar se isso é o melhor para elas. Não aprenderam a questionar.

Trabalho virou emprego
Até os intelectuais ficam discutindo apenas dentro desse sistema, não conseguem transcendê-lo. Só se pensa dentro dessa forma de governo que vivemos, que não é democrática. Dizem que isso é democracia, mas esquecem que o Tancredo  foi assassinado. Esse sistema que está aí pertence àqueles que estavam do lado dele, mas não é a mesma coisa. Então dentro desse sistema, dessa mentalidade. Eu não vou discutir. Isso para mim é furado. Vou discutir novas formas de vida. Eu tento trazer novidades, letras de pessoas que não são conhecidas, que vou conhecendo pelo caminho.

É preciso acreditar que se pode fazer o que se quer e viver disso. Eu sabia que daria certo e sabia que era um artista, que viveria fazendo arte. Não sou apenas um cantor, mas também canto. Sei representar, produzir. Existem outras formas de viver, e não só essa de acordar e ir para o trabalho, ou para o colégio. Pode se fazer o que se gosta. Pode ser difícil no começo, mas é possível. Dinheiro é só uma moeda de troca, não pode ser supervalorizado. O trabalho tem que ser bacana. Mas hoje o trabalho virou emprego. Não dá mais para se chamar de trabalho, porque isso requer prazer, e é o que menos se vê nas relações de trabalho hoje. Felicidade hoje se tornou sinônimo de ter um carro. Aí fica tudo muito pequeno.

IHU On-Line - E sobre estudar rock numa universidade, qual é teu ponto de vista?
Wander Wildner
– Acho isso maravilhoso. Fiquei dez anos sem empresário, toda minha carreira solo, até um pouco antes do Acústico MTV. Não tinha ninguém para produzir meus shows; eu produzia tudo. Não tinha muito produtor na cena. Parece que a juventude toda quis tocar e não produzir. Quando nós começamos a tocar, toda banda tinha um produtor. Esse produtor era um amigo da banda, e aprendia fazendo. Foi assim com ReplicantesDe Falla, Nenhum de Nós, Garotos da Rua, TNT, Engenheiros do Hawaii. Eu sabia produzir porque eu fazia isso nos Replicantes, no teatro, no cinema e na televisão.

 

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição