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Zeca Oliveira
“Matéria-prima possível pela exploração de braços operários e forjada pelo enlevo artístico burguês, a estátua sustenta exatamente aquilo sem o qual não teria sido possível erguer-se e que não lhe cabe dar um alento maior do que um momentâneo descanso na frieza dos seus braços de pedra”, escreve Zeca Oliveira, geólogo, pesquisador da Unisinos.
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Jose Manoel Marques Teixeira de Oliveira, o Zeca Oliveira, é graduado em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e mestre em Geociências pelo Convênio UFRGS/PETROBRAS. Ainda possui pós-graduação em Regulação de Mercados de Petróleo e Gás Natural pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e Especialização em Geologia do Petróleo pela Universidade Corporativa da Petrobras. Atualmente é pesquisador na Unisinos, participando do projeto Sistemas Continentais: Desenvolvimento de Rotinas Numéricas para Simulação de Sedimentação e Diagênese Siliciclástica e Carbonática.
Eis a reflexão.
A convivência perturbadora e ilusoriamente pacífica entre opressor e oprimido. Tal é a minha impressão imediata da criança dormente aos braços da estátua. Aquela, envolta na ilusão confortadora do abraço impessoal e momentâneo; esta, em sua maternidade pétrea e figurativa, insensível a um provável sonho libertário. Matéria-prima possível pela exploração de braços operários e forjada pelo enlevo artístico burguês, a estátua sustenta exatamente aquilo sem o qual não teria sido possível erguer-se e que não lhe cabe dar um alento maior do que um momentâneo descanso na frieza dos seus braços de pedra. Visto assim, o repouso tímido da criança contém em si toda uma práxis revolucionária, uma crítica velada das contradições do capital. Verdadeiro monumento dialético, a serenidade do cenário deixa transparecer, contudo, um fervilhante debate de opostos. A estátua e a criança. O Burguês e o operário. A inconsciência e o sonho. A tese e a antítese. Dorme, pequena suja, dorme. Dorme como dormem aqueles que te oprimem, alheios ao colapso que se avizinha. O teu despertar haverá de ser o prenúncio do levante dos oprimidos para a construção de um socialismo fraterno e de um mundo de irmandade solidária. Inebriado por este sonho possível detenho-me por uma última vez na imagem da criança em seu insólito berço e na penumbra da tarde que se esvai quase posso ver a estátua beijar-lhe a fronte enegrecida de carvão.■