Edição 529 | 01 Outubro 2018

O ressentimento como artifício do ódio e da vingança

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Márcia Junges | Edição: Ricardo Machado

Scarlett Marton discute como um certo ressentimento levou à produção constante de sistemas de desigualdade capazes de frear, para não dizer impossibilitar, a democracia

Compreender o valor dos valores é tarefa sempre difícil de realizar, porque requer colocar sobre si um ponto de interrogação a respeito das próprias crenças, o que sempre foi um exercício de profunda dificuldade. De certa maneira Nietzsche propõe-se a isso em Genealogia da Moral para tentar entender como sentimentos morais dos indivíduos se constroem e se conservam sob determinadas circunstâncias. Para Scarlett Marton, renomada pesquisadora em Nietzsche no Brasil, o pensador alemão foi um psicólogo avant la lettre. “É o que ocorre na Genealogia da Moral. Ao psicólogo caberá, então, questionar o valor dos valores morais, examinando as ‘condições e circunstâncias de seu nascimento, de seu desenvolvimento, de sua modificação’. A ele caberá relacionar os valores com as avaliações de que procedem e investigar de que valor estas partiram para criá-los. Ora, é justamente à crítica dos valores que Nietzsche dedica a maior parte de seus escritos”, descreve Scarlett Marton em entrevista por e-mail à IHU On-Line.

Outro tema de profunda relevância em sua obra é a transformação que os valores morais sofrem a partir da interferência de um certo ressentimento baseado no ódio e na vingança. “Assim a transformação dos valores foi fruto do ressentimento de homens fracos, que, não podendo lutar contra os mais fortes, deles tentaram vingar-se através desse artifício. Ódio e desejo de vingança seriam as palavras-chave para compreender o ressentimento. É a diferença que causa o ódio, ou melhor, é a recusa da diferença que o engendra”, explica. “E assim se transfere o princípio democrático de uma igualdade das capacidades, das responsabilidades, das oportunidades sociais, enfim, de uma igualdade da felicidade no sentido pleno do termo, para uma igualdade diante dos objetos que se adquire. Em poucas palavras, a igualdade formal de direitos converte-se em igualização consumidora”, complementa.

Scarlett Marton é uma das maiores intelectuais especialistas em Nietzsche no Brasil. Coordena o Grupo de Estudos Nietzsche - GEN, da Universidade de São Paulo - USP. Realizou mestrado em Filosofia na Université Paris I Sorbonne, e o doutorado e a livre-docência em Filosofia na USP. É autora de diversos livros, dos quais destacamos Nietzsche, das forças cósmicas aos valores humanos (UFMG, 2000), Extravagâncias: Ensaios sobre a filosofia de Nietzsche (Discurso, 2001), A irrecusável busca de sentido. Autobiografia intelectual (Ateliê Editorial, 2004) e Nietzsche, filósofo da suspeita (Casa do Saber/Casa da Palavra, 2010).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em que sentido genealogia, psicologia e história se imbricam no contexto de Genealogia da Moral?
Scarlett Marton – Num dos primeiros textos em que trata da psicologia, Nietzsche chega a defini-la como ciência que investiga a origem e a história dos sentimentos morais. À primeira vista, essa definição que ele apresenta em Humano, demasiado Humano parece muito próxima da que se encontra em Christian Wolff . Para Wolff, contudo, a psicologia deveria deduzir-se dos princípios gerais colocados pela metafísica; os fenômenos morais não poderiam, portanto, comportar uma “origem” e muito menos uma “história”. Para Nietzsche, ao contrário, impõe-se justamente inscrevê-los num tempo e num espaço. Com isso, ele opera um corte em relação à metafísica: não se fundando na noção de alma humana, os sentimentos morais deixam de remeter a essências; eles surgem, modificam-se e, por vezes, desaparecem. Tendo uma origem e uma história, acham-se também relacionados com a organização social dos indivíduos, de tal forma que em diferentes sociedades existiriam diferentes morais.

Nas passagens em que trata especificamente da psicologia, Nietzsche ressalta a necessidade de romper com a metafísica no exame das questões morais e destaca o auxílio que a história pode prestar na reflexão sobre elas. O trabalho do historiador auxiliaria a explicar as “condições de existência” de determinados povos, apontando os motivos que os levaram a concebê-las de tal modo; ajudaria a esclarecer os costumes de grupos sociais diversos, assinalando os móveis que fizeram com que os instituíssem; permitiria elucidar os sentimentos morais de indivíduos de várias épocas e lugares, mostrando as razões de emergirem e se conservarem. Além de ser de grande valia para a tarefa que o psicólogo se propõe realizar, o trabalho do historiador traria elementos para solapar concepções metafísicas. Contribuiria para denunciar as normas de conduta que se apresentam como absolutamente necessárias, apontando o momento de sua produção; concorreria para atacar os juízos que se pretendem universalmente válidos, mostrando as circunstâncias de seu aparecimento; colaboraria, enfim, para desmascarar as generalizações indevidas, ressaltando a especificidade de cada caso. E seria sobretudo de extrema relevância na crítica das ideias filosóficas usadas como base para as reflexões morais.

Se inicialmente Nietzsche concebe a psicologia como o estudo da origem e história dos sentimentos morais, quando introduz a noção de valor, passa a identificá-la ao procedimento genealógico. É o que ocorre na Genealogia da Moral. Ao psicólogo caberá, então, questionar o valor dos valores morais, examinando as “condições e circunstâncias de seu nascimento, de seu desenvolvimento, de sua modificação”. A ele caberá relacionar os valores com as avaliações de que procedem e investigar de que valor estas partiram para criá-los. Ora, é justamente à crítica dos valores que Nietzsche dedica a maior parte de seus escritos. Não é por acaso, pois, que, nos textos do último período da obra, insiste em autodenominar-se psicólogo.

IHU On-Line – O que essa obra tem a nos dizer e nos desafiar 130 anos após sua publicação?
Scarlett Marton – Dentre as descobertas filosóficas dos últimos cento e trinta anos, há que se notar a do fenômeno do ressentimento. Foi Nietzsche quem diagnosticou com lucidez, por vez primeira, a maneira de pensar, agir e sentir dos ressentidos. Na Genealogia da Moral, ele bem mostra que, sobrepujando a aristocracia guerreira da Grécia dos tempos homéricos, os sacerdotes converteram a preeminência política em preeminência espiritual. Enquanto valor aristocrático, “bom” identificava-se a nobre, belo, feliz; tornando-se valor religioso, passa a equivaler a pobre, miserável, impotente, sofredor, piedoso, necessitado, enfermo. Assim a transformação dos valores foi fruto do ressentimento de homens fracos, que, não podendo lutar contra os mais fortes, deles tentaram vingar-se através desse artifício. Ódio e desejo de vingança seriam as palavras-chave para compreender o ressentimento. É a diferença que causa o ódio, ou melhor, é a recusa da diferença que o engendra.

Numa sociedade como a nossa, é notável o papel que desempenha o fenômeno do ressentimento. Hoje, para fazer da felicidade o veículo do mito igualitário, passa-se a concebê-la como algo mensurável. E assim se transfere o princípio democrático de uma igualdade das capacidades, das responsabilidades, das oportunidades sociais, enfim, de uma igualdade da felicidade no sentido pleno do termo, para uma igualdade diante dos objetos que se adquire. Em poucas palavras, a igualdade formal de direitos converte-se em igualização consumidora.

Contudo, é apenas quando não significarem mais nada para uns poucos que os itens a que eles têm acesso serão o apanágio de todos. É por esse viés que se transfere a desigualdade; é através dele que se preserva a distância. Numa sociedade como a nossa, em que os bens que se adquire nada mais são do que signos evidentes do sucesso social, os que os possuem não estão dispostos a dividi-los. Precisamente porque querem se distinguir da maioria, não podem permitir que outros também venham a aceder ao patamar em que se encontram. Ressentidos, promovem o ódio e o desejo de vingança.

IHU On-Line – Além disso, em quais autores Nietzsche estava interessado à época da redação da Genealogia? Pode-se notar uma influência destacada de quais pensadores nesse escrito?
Scarlett Marton – Fino estrategista, Nietzsche não hesita com frequência em converter em aliados seus adversários, num primeiro momento; dando a entender que assume as posições que advogam, evidencia os pontos vulneráveis daqueles que, então, se dispõem a questionar; contesta, por fim, estes que, de início, tomara por cúmplices. Dependendo dos alvos de ataque que elege e dos interlocutores que escolhe, a uma mesma proposição confere um tom assertivo ou irônico, dubitativo ou jocoso. É preciso, pois, explorar não apenas o que ele diz, mas sobretudo como ele diz, a quem se endereça e contra quem se dirige.

No caso da Genealogia da Moral, na primeira parte da obra, Nietzsche marca distância em relação ao tratamento dado pelos utilitaristas e evolucionistas às questões morais. Contrapõe-se a Stuart Mill e Herbert Spencer e também se volta contra Paul Rée , de quem fora amigo próximo de 1875 a 1882. Vale lembrar que acabou de ser publicado na coleção Sendas & Veredas a tradução do livro de Paul Rée intitulado A Origem dos Sentimentos Morais, que é de fundamental importância para a compreensão das posições que Nietzsche assume na Genealogia da Moral.

IHU On-Line – Quais são os pontos de convergência fundamentais entre Ecce Homo, de Nietzsche, e As Palavras, de Sartre ? A partir dessa aproximação, quais seriam as implicações filosóficas dos escritos autobiográficos de ambos os autores?
Scarlett Marton – Os escritos autobiográficos constituem uma das minhas “pequenas obsessões”. Não foi por acaso que publiquei em 2004 meu livro intitulado A irrecusável busca de sentido. Autobiografia intelectual, em que faço um balanço das minhas “escolhas” durante o meu percurso.

São várias as questões que a relação entre vida e obra suscita. Uma delas diz respeito ao tempo próprio da autobiografia. Escrito necessariamente inconcluso, interrompido ou prematuro, ele se abre ao futuro. Como nele apresentar a vida? Fatiá-la em momentos sucessivos, capítulos cronologicamente articulados de um folhetim? Ou, desrespeitando sequências lineares, trazê-la de uma só vez, com suas diferentes fases superpostas e, quiçá, fundidas? Como pôr em cena a obra? Enquanto parte de um inventário psicológico ou como objeto de um relato anônimo? E, num segundo nível de questões: ao rememorar episódios da própria história, em que medida não se reafirma a intimidade burguesa?

No século XVII, proliferam biografias e mesmo autobiografias. O ideal da autobiografia tradicional consiste precisamente em realizar uma espécie de coincidência entre o sujeito que escreve e o objeto que é a sua vida; seu fim consistiria na unidade de sujeito e objeto numa realização final de autocompreensão. A meu ver, nem Sartre nem Nietzsche tomam essa via. Ao falar sobre o seu projeto de autobiografia em 1955, Sartre afirma que quer se definir em relação ao seu momento histórico recorrendo tanto a uma certa psicanálise quanto ao método marxista. Dado o legado de Marx e Freud , torna-se evidente que não estamos em condições de controlar inteiramente nossas vidas; nossa autocompreensão acha-se determinada por forças econômicas e libidinais, que estão além do nosso controle. Nietzsche, por sua vez, entende que, enquanto sintoma de impulsos, afetos e estimativas de valor, todo escrito revela a condição fisiopsicológica do autor num determinado momento. Não é por acaso que, em sua autobiografia, antes de discorrer sobre seus escritos, ele trata da questão do entendimento deles. Se bom estilo é o que comunica tensões de impulsos, disposições de afetos, para comunicá-las, o autor precisa dispor de signos, mas também tem de encontrar leitores que vivenciem essas tensões, essas disposições.

Ao confrontar os escritos de Sartre e de Nietzsche que se apresentam ou são tidos como autobiográficos, pretendi mostrar que, em que pese o fato de os autores partirem de posições teóricas distintas, eles revelam notáveis pontos de convergência. Pois, ao se recusarem a conceber o sujeito enquanto identidade substancial e o tempo como sucessão contínua, fazem da autobiografia algo inteiramente diverso de um corpus de acidentes empíricos ou da narrativa linear de uma vida.

IHU On-Line – Outra de suas pesquisas acerca de Nietzsche examinou a condição feminina. Quais são as considerações principais que esse filósofo faz acerca das mulheres e como tais ideias foram apropriadas/recebidas pelo meio acadêmico?
Scarlett Marton – Na verdade, no momento estou trabalhando na elaboração do meu décimo sétimo livro, que tem por objeto precisamente “Nietzsche e as mulheres”. Durante muito tempo, as considerações do filósofo a respeito da condição feminina foram tomadas com precaução, por causa da misoginia presente em seus textos. Revelava-se muito mais prudente, ao que parece, ignorá-las. Dentre os poucos que levaram em conta seus comentários, houve quem buscou defender a ideia de que eles não estavam à altura dos seus talentos ou simplesmente não eram de interesse filosófico. Recentemente, vários escritos feministas se propuseram discutir as posições assumidas por Nietzsche a propósito das mulheres; eles se situam sobretudo no contexto dos estudos publicados em língua inglesa. Investigar as eventuais contribuições da filosofia nietzschiana para a teoria feminista e discutir como interpretar as observações do filósofo sobre o feminino, estas têm sido as vias adotadas.

É bem verdade que não é fácil a tarefa do comentador que se volta para as passagens em que Nietzsche trata das mulheres. Elas constituem uma pletora que vai de clichês a complexas e refinadas análises da condição humana, de digressões esparsas a reflexões que provêm de serrada argumentação. No meu próximo livro, defendo a tese de que as considerações de Nietzsche sobre as mulheres não ocupam um lugar marginal em sua obra; elas não se reduzem a preferências pessoais e, menos ainda, a desvios eventuais. Bem ao contrário, inscrevem-se em sua empresa filosófica.

IHU On-Line – Poderia relatar a gênese do surgimento do GEN e suas atividades atuais?
Scarlett Marton – Imbuída do espírito que ainda animava o Departamento de Filosofia da USP no final da década de 1980, espírito esse que tinha em alta conta a formação, concebi e implementei o GEN – Grupo de Estudos Nietzsche. Acabava de defender a tese de doutorado. Inscrita num período histórico determinado, ela foi testemunha e cúmplice da situação efetiva dos estudos nietzschianos. No Brasil, o filósofo chegara à Universidade no final da década de 1960. Em suas investigações, professores a ele recorriam de forma esporádica; tomavam-no como objeto de curiosidades intelectuais avulsas. A Nietzsche ainda não estava inteiramente assegurado o acesso à cena acadêmica do país. Era preciso, pois, construir Nietzsche como objeto de conhecimento. Minha tese de doutorado, que veio a público com o título Nietzsche - das forças cósmicas aos valores humanos, visou justamente a contribuir para dar ao autor de Zaratustra a legitimidade filosófica de que entre nós ele ainda carecia. Ao menos, é assim que esse trabalho hoje se me aparece.

Em 1989, quando das primeiras reuniões do GEN, convidei alguns estudantes para iniciarem comigo o exame crítico de Assim falava Zaratustra. Nos dez primeiros encontros, fizemos uma análise estrutural e genética das dez seções do prólogo do livro. Lemos frase por frase, palavra por palavra; estivemos atentos aos conceitos presentes e às estratégias adotadas. Pesquisamos as possíveis referências à história da filosofia, à religião cristã, ao contexto cultural; trouxemos para as nossas conversas a versão luterana da Bíblia, os escritos de Goethe e Wagner , os poemas de Hölderlin e Heine . O trabalho se estendeu por mais quatro anos, um para cada uma das partes do livro.

Ao exame crítico de Assim falava Zaratustra (São Paulo: Companhia de Bolso, 2008) se seguiu, em 1994, o de Ecce homo (São Paulo: Companhia de Bolso, 2008) e, dois anos depois, o dos prefácios de 1886 redigidos pelo filósofo, quando da reedição de suas obras publicadas. Nas nossas reuniões semanais, além dos escritos de Nietzsche, discutíamos textos de comentadores e trabalhos dos integrantes de nosso grupo de pesquisa. Depois, passamos a receber colegas meus de outras universidades do país e, por fim, pesquisadores estrangeiros.

Hoje, O GEN é um grupo de pesquisa internacional, que reúne estudiosos brasileiros da filosofia nietzschiana e, mais recentemente, também pesquisadores europeus. Presente em todo o Brasil, do Ceará ao Rio Grande do Sul, continua a perseguir o propósito de fazer avançar as investigações acerca do pensamento nietzschiano e julga que, para tanto, é essencial promover a discussão acerca das mais variadas interpretações dos textos do filósofo. Empreendimento pioneiro na América do Sul, o GEN procura não apenas incentivar os estudos nietzschianos entre nós como dialogar com as diversas Nietzsche Societies internacionais .

Quanto às suas atividades, o GEN continua atuando em três frentes distintas: a revista Cadernos Nietzsche (Qualis A1), que integra a base de dados Scielo; a coleção de livros Sendas & Veredas, com 25 títulos publicados; os Encontros Nietzsche, organizados nos meses de maio e setembro em parceria com diferentes instituições do país, sendo que acabou de acontecer a sua quadragésima segunda edição.

IHU On-Line – Quais são as redes de diálogo e parceria estabelecidas pelo GEN com outras entidades de pesquisa sobre esse filósofo, como o Groupe International de Recherches sur Nietzsche - GIRN e o Centro Colli Montinari, por exemplo?
Scarlett Marton – Na universidade brasileira, de modo geral, entende-se por internacionalização enviar nossos estudantes ao exterior, para estágios de doutorado ou pós-doutorado, e receber professores estrangeiros para dar conferências, participar de congressos, além de publicar os seus trabalhos entre nós. É evidente a desproporção nesse caso, pois não nos colocamos como parceiros, e sim como colonizados. A meu ver, internacionalização tem de ser uma via de mão dupla. Por isso mesmo, há cerca de vinte anos tenho fortalecido e consolidado parcerias intelectuais e acadêmicas com grupos de pesquisa internacionais. Além dos grupos que você mencionou, valeria a pena lembrar SEDEN (Sociedad Española de Estudios sobre Friedrich Nietzsche), Stiftung Weimarer Klassik, Internationale Nietzscheforschungsgruppe Stuttgart. Na condição de codiretora do GIRN e de membro do conselho científico do recém-criado HyperNietzsche, pude abrir espaço para que jovens pesquisadores brasileiros participem de publicações e congressos fora do Brasil, discutindo com colegas europeus em igualdade de condições. Mais ainda, tenho trabalhado para fazer que a língua portuguesa seja reconhecida como uma língua de comunicação científica tão legítima quanto o inglês, o francês, o italiano ou o alemão.

IHU On-Line – A partir do trabalho de pesquisa desenvolvido pelo GEN, quais são os grandes desafios na construção de uma tradição brasileira acerca da filosofia desse pensador?
Scarlett Marton – Com a implementação do GEN, persegui o propósito primeiro de contribuir para formar estudantes que, por sua vez, se tornariam formadores. E formar implica, antes de tudo, fazer ver que, no trabalho de pesquisa, se deve sempre partir do status questionis, de modo a não arrombar portas abertas; significa mostrar que, tendo conhecimento da fortuna crítica, é nossa responsabilidade levar adiante o trabalho que já foi realizado. Para tanto, são necessárias ferramentas. Não é por acaso que os integrantes do GEN procuram trabalhar com edições criteriosas dos textos de Nietzsche e sempre avaliar a pertinência ou não das traduções propostas; procuram ainda manter-se a par dos avanços da Nietzsche Forschung. Mas, para a construção de uma tradição brasileira de pesquisa do pensamento nietzschiano, é preciso não se deixar levar por tendências ou modismos; não importar temáticas ou metodologias que pouco têm a ver com o que fazemos. É preciso ainda evitar soluções de facilidade. Afinal, não há como abrir mão da atitude de probidade intelectual. ■

Leia mais

- Buscando o critério de avaliação das avaliações. Entrevista especial com Scarlett Marton, publicada na revista IHU On-Line, nº 127, de 13-12-2004.

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