Edição 211 | 12 Março 2007

Dom Ivo Lorscheiter

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IHU Online

Ex-presidente da CNBB (1927-2007)

Coisas novas e velhas

Na tarde de 5 de março, faleceu Dom Ivo Lorscheiter, bispo emérito de Santa Maria. Dom Ivo, juntamente com Dom Hélder Câmara, Dom Aloísio Lorscheider, primo de Dom Ivo, Dom Luciano Mendes de Almeida, entre outros, foi uma das maiores figuras da Igreja Católica no Brasil do século passado.

As Notícias Diárias da página do IHU durante a semana de 5-3-2007 dedicaram notícias a este grande brasileiro que tinha com lema Nova et Vetera (Coisas Novas e Velhas).

A trajetória

As Notícias Diárias do sítio do IHU entrevistou o brasilianista Kenneth Serbin e a Irmã Lourdes Dill, coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança da Diocese de Santa Maria, no dia 5-3-2007 sobre a convivência com Dom Ivo Lorscheiter.

Dom Ivo foi, nomeado, muito jovem, bispo auxiliar de Porto Alegre, em 1965. Ele foi sagrado bispo no dia 6 de março de 1965.

Logo depois, em plena ditadura militar, foi eleito secretário-geral da CNBB quando o presidente era Dom Aloísio Lorscheiter. Exerceu o mandato por oito anos. Depois foi eleito, sempre no período da ditadura militar, presidente da CNBB por oito anos. Dom Luciano Mendes de Almeida foi o secretário-geral da CNBB neste período.

Sobre as dificuldades nos anos da ditadura, disse uma vez: "Para mim eram dificuldades normais. Como cristão, era meu dever defender os direitos humanos. Sempre senti que o povo confiava em nossas ações e nunca tive receio."

Numa entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 24-11-2002, perguntado pelo jornalista sobre a sua convivência com o conservador arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, de quem era bispo auxiliar, Dom Ivo narra:

"Ele (Dom Vicente) dizia, você é novo, nós não vamos pensar sempre do mesmo jeito, mas você vai ter aqui toda a liberdade de ação”. E recomendava: "Você só cuida de não se meter demais em políticas partidárias; isso não é da igreja".

Dom Ivo, como bispo de Santa Maria, entre muitas outras atividades, desenvolveu um importante trabalho social que é um marco na Igreja do Rio Grande do Sul e da sociedade gaúcha. Ele se preocupou muito com o ecumenismo e com as comunicações sociais. No final de 2005 ele foi entrevistado por dois alunos de jornalismo da Unisinos sobre esta sua solicitude. A entrevista foi publicada nas Notícias Diárias do sítio do IHU no dia 5-3-2007.

Lutador

De quando em quando, acontecimentos nos fazem perceber o quanto as aparências dizem pouco e nos traem. A morte de Dom Ivo Lorscheiter, foi um desses momentos. Fisicamente, ele parecia uma fortaleza. A altura, o olhar firme e a sinceridade com a qual costumava se expressar o faziam parecer uma fonte inesgotável de energia.

Não era assim. Seus 79 anos foram marcados pela saúde frágil. Seu nascimento foi sofrido. Sem saber que a mãe esperava gêmeos, a parteira deixou o menino no útero enquanto cuidava da irmã, Lúcia. O pequeno Ivo quase morreu sufocado.

No futuro, outras moléstias viriam e o deixariam perto da morte. Mas ele não se queixava. Talvez porque nunca tenha se conformado em deixar que coisas materiais interferissem na sua dedicação à vida espiritual.

Defensor de que a Igreja não tem sentido sem seu rebanho, trabalhou para aproximá-la do povo. Nos 30 anos à frente da Diocese de Santa Maria, implantou e incentivou iniciativas sociais. Na época da ditadura, foi defensor dos perseguidos.

Na vida rica em experiências e fé, conheceu três papas, e participou da direção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Parou de trabalhar há pouco mais de uma semana, quando o corpo, em descompasso com o espírito, demonstrou cansaço.

Econômico com as palavras, tinha a habilidade de dizer o que pensava. Pouco antes de morrer, disse à irmã Cecília Dahmer: "Pode ir dormir, que eu também vou". E partiu. Se sua ausência enche de tristeza seu rebanho, seu exemplo deve consolá-lo. E tornar menos dolorosa a despedida.

Ele foi enterrado, na cripta do Santuário da Medianeira, em Santa Maria, no dia 6 de março, quando celebraria 41 anos como bispo, 30 deles em Santa Maria.

 

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