Edição 525 | 30 Julho 2018

Karl Marx

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João Vitor Santos

Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818, na cidade alemã de Trier. Agora, em 2018, inúmeros eventos e publicações celebraram seus 200 anos. A efeméride também tem servido de gatilho para que se revisite a sua obra, tendo em perspectiva as questões e desafios do século XXI. Obra, aliás, que vai da Filosofia às Ciências Sociais, passando pela Economia e História, e que o consagra como um dos pensadores que exerceram grande influência sobre o pensamento social do século XX.

Embora nascido na Prússia, Marx passou grande parte de sua vida em Londres, no Reino Unido. É de onde observa as transformações do mundo operário e concebe, no campo da economia, uma de suas célebres análises em que relaciona o capital com o trabalho. Nasceu em uma família de classe média e passou pelas universidades de Bonn e Berlim, ainda na Alemanha. É nessa fase de estudante que se interessa por concepções filosóficas mais hegelianas. Recém-saído da universidade, começa a publicar seus textos para um jornal da cidade de Colônia, quando também começa a desenvolver seus estudos de concepção materialista da história.

Marx chega a Paris em 1843, e segue escrevendo para outros jornais. Nesse período conhece Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. Em 1849, foi exilado e se mudou para Londres junto com sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e formular suas teorias sobre a atividade econômica, mas sem desconsiderar essa uma também uma ciência social.

Em linhas gerais, podemos afirmar que suas teorias sobre sociedade, economia e política estão centradas numa ideia de desenvolvimento a partir da luta de classes. Nesse sentido, o Estado teria sido criado para proteger os interesses das classes dominantes, embora se vendesse a ideia de que seria um instrumento de zelo pelo interesse de todos.

O pensador vai elaborar que, assim como havia ocorrido com o feudalismo e outros sistemas anteriores, o capitalismo iria aprofundar tensões internas. Tensões essas que, para alguns de seus leitores, vai levar à autodestruição do capitalismo e, talvez, à substituição desse sistema pelo socialismo. Atualmente, muitos pesquisadores observam como o capitalismo tem sido capaz de apreender as dinâmicas do século XXI, mas sem desconsiderar as elaborações iniciais de Marx e as concepções de que o socialismo pode ser um caminho para superar as desigualdades geradas pelas lutas de classes. No entanto, há consenso mesmo somente sobre a grande influência de Marx, entre seus seguidores e até entre os que questionam seu pensamento. É normalmente citado, ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, como um dos três principais arquitetos da ciência social moderna.

Marx e Jenny | Foto: Wikipedia

Foi casado com Jenny von Westphalen, filha de um barão prussiano com quem mantinha noivado desde a universidade. Dessa união, teve sete filhos, mas, muito em decorrência das más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, três morreram na infância. Outras duas filhas cometeram suicídio. Marx também teve um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada da família, Helena Demuth. A pedido de Marx, Engels assumiu a paternidade da criança, Frederick Demuth. Mas biógrafos sempre destacam o amor de Marx por Jenny. Depois da morte da esposa, em 1881, problemas de saúde que ele teve por toda a vida, como bronquite e pleurisia, chegaram a estágios severos e o levaram à morte em 1883. Marx foi sepultado no Cemitério de Highgate, em Londres e, hoje, seu mausoléu se tornou ponto turístico da cidade.

Referências:

- BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. São Paulo: Zahar, 1988.
- HEINRICH, Michael. Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna. São Paulo: Boitempo, 2018.
- KARL MARX. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2018. Acesso em: 27 jul. 2018.
- LOSURDO, Domenico. O Marxismo Ocidental. São Paulo: Boitempo, 2018.

Obra

A célebre obra de Marx é O Capital (1867), na qual faz uma extensa análise da sociedade capitalista. Também é reconhecido pelo Manifesto Comunista (1848), mas sua produção é muito mais extensa. Convencionalmente, estudiosos de seu legado dividem sua produção em três fases: Jovem Marx, escritos entre 1839 e 1850; Transição, entre 1852 e 1856; e Fase adulta, de 1857 a 1880.

Veja a lista dos escritos

Segundo critérios de Tom Bottomore, em Dicionário do Pensamento Marxista (São Paulo: Zahar, 1988)

Jovem Marx

- Oulanem (1839)
- Diferença da Filosofia da Natureza em Demócrito e Epicuro (Über die Differenz der Demokritischen und Epikureischen Naturphilosophie) (1841)
- Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Kritik des Hegelschen Staatsrech) (1843)
- A Questão Judaica (Zur Judenfrage) (1843)
- Contribuição para a Crítica da Filosofia do Direito em Hegel: Introdução (Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie: Einleitung) (1844)
- Manuscritos Econômico-filosóficos (Ökonomisch-philosophischen Manuskripte) (1844)
- Teses sobre Feuerbach (Thesen über Feuerbach) (1845)
- A Sagrada Família (Die Heilige Famile) (1845)
- A Ideologia Alemã (Die deutsche Ideologie) (1845-1846)
- Miséria da Filosofia (Misère de la philosophie: réponse à la philosophie de la misère de Proudhon) (1847)
- A Burguesia e a Contra-Revolução (1848)
- Manifesto Comunista (Manifest der Kommunistischen Partei) (1848)
- Trabalho Assalariado e Capital (Lohnarbeit und Kapital) (1849)
- As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850 (Die Klassenkämpfe in Frankreich 1848-1850) (1850)
- Mensagem da Direção Central da Liga Comunista (Ansprache der Zentralbehörde an den Bund) (1850)

Transição

- O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (Der Achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte) (1852)
- Punição Capital (Capital Punishment) (1853)
- Revolução na China e na Europa (Revolution in China and Europa) (1853)
- O Domínio Britânico na Índia (The British Rule in India) (1853)
- Guerra na Birmânia (War in Burma) (1853)
- Resultados Futuros do Domínio Britânico na Índia (The future results of British Rule in India) (1853)
- A Decadência da Autoridade Religiosa (The Decay of Religious Authority) (1854)
- Revolução na Espanha (Revolution in Spain) (1856)

Fase adulta

- Grundrisse (Grundrisse der Kritik der Politschen Ökonomie) (1857-1858)
- Para a Crítica da Economia Política (Zur Kritik der Politschen Ökonomie) (1859)
- População, Crime e Pauperismo (Population, crime and pauperismo) (1859)
- Manifesto de Lançamento da Primeira Internacional (Inaugural Address of the Working Men's International Association) (1864)
- Salário, Preço e Lucro (Value, Price and Profit) (1865)
- O Capital: crítica da economia política (Livro I: O processo de produção do capital) (Magnum Opus) (Das Kapital: Kritik der politschen Ökonomie (Erster Band: Der Produktion Prozess des Kapitals)) (1867)
** Durante os anos seguintes, até o fim de sua vida, Marx se dedicará à redação dos demais volumes d'O Capital (publicados postumamente por Engels).
- A Guerra Civil na França (The Civil War in France) (1871)
- Resumo de “Estatismo e Anarquia”, obra de Bakunin (Konzpekt von Bakunins Buch “Staatlichkeit und Anarchie”) (1874-1875)
- Crítica ao Programa de Gotha (Kritik des Gothaer Programms) (1875)
- Carta sobre o futuro do desenvolvimento da sociedade na Rússia, escrita ao editor do periódico russo Otechesvenniye Zapiski e não enviada (1877)
- Notas sobre Adolph Wagner (Randglossen zu Adolph Wagners) (1880)

Veja algumas publicações do IHU específicas sobre Marx

- A (anti)filosofia de Karl Marx. Artigo de Leda Maria Paulani, publicada no número 41 do Cadernos IHU ideias. 
- De Marx a Durkheim: Algumas apropriações teóricas para o estudo das religiões afro-brasileiras. Artigo de Rodrigo Marques Leistner, publicado no Cadernos IHU ideias número 136.
- A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx. Revista IHU On-Line número 278, de 20-10-2008.
- Os ‘Grundrisse’ de Marx em debate. Revista IHU On-Line, número 381, de 21-11-2011.
- Marx: os homens não são o que pensam e desejam, mas o que fazem. Entrevista com Pedro de Alcântara Figueira, publicada na Revista IHU On-Line, número 327, de 3-5-2010.
- Contra Marx, apesar de Marx, além de Marx: ou o ressurgir da fórmula materialista da história. Artigo de Carlos A. Gadea, publicado na Revista IHU On-Line, número 397, de 6-8-2012.
- A IHU On-Line também publicou uma edição especial sobre desigualdade inspirada no livro de Thomas Piketty O Capital no Século XXI, que retoma o argumento central de O Capital, obra de Marx.

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