Edição 524 | 18 Junho 2018

Junho de 2013. Cinco Anos depois.

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Demanda de uma radicalização democrática nunca realizada

Junho de 2013 passou pelas ruas do Brasil e arrastou qualquer ilusão de radicalização democrática que a Nova República, dos pactos oligárquicos, sequer foi capaz de sonhar. Com as estruturas da política partidária e institucional abaladas, o fino reboco da democracia representativa desmanchou de vez e, finalmente, transpareceu a fachada da crise da representatividade. Se de um lado os corpos não mais interrompem as vias internas das metrópoles, tampouco os caminhões as vias externas, como ocorreu recentemente, de outro os espectros de Junho de 2013 continuam a assombrar e desafiar a política institucional. Para fazer um balanço e uma análise sobre o fenômeno, a revista IHU On-Line, cinco anos depois, reúne uma série de pesquisadores e pesquisadoras para discutir os limites, os desafios e as perspectivas das Jornadas de Junho.

Rodrigo Nunes, professor da PUC-Rio, destaca que há quem diga que as manifestações de Junho não deixaram um legado concreto. “Mas esta é apenas uma das dimensões em que um acontecimento pode ser medido, e algo capciosa, porque resultados são objeto de disputas e sempre podem ser desfeitos”, analisa.

De acordo com Henrique Costa, doutorando em Ciências Sociais na Unicamp, “a população passou a questionar a gestão lulista para os mais pobres que vinha acompanhada dos ganhos exorbitantes de setores selecionados do empresariado, como empreiteiras e bancos”.

Para Bruno Cava, pesquisador associado à rede Universidade Nômade, Junho de 2013 traçou o mapa dos desafios contemporâneos. “Com isso, o levante foi estrangulado várias vezes, por meio de uma orquestração de técnicas: repressão e cooptação, chantagem e concessão”, pontua.

Moysés Pinto Neto, professor na Ulbra, analisa: “há dois grandes grupos na esquerda sobre isso. Para o primeiro, Junho foi o ‘embrião do golpe’, espécie de ovo da serpente. Já o segundo grupo vê de forma totalmente oposta o processo”.

Para Carlos A. Gadea, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unisinos, Junho de 2013 foi capaz de produzir uma nova estética. “Pode-se considerar que a virada estética pós-2013 é uma virada eclética e, assim, desafiadora da institucionalização de uma cultura popular via esquerdismo governamental”.

Alana Moraes, antropóloga, analisa que o movimento “não tinha a ver com uma rejeição ao PT, mas talvez com um último chamado: ‘de que lado vocês estão?’”, assinala.

Segundo Giuseppe Cocco, professor da UFRJ, as lutas de Junho não respondiam às categorias da lógica e da coerência, de modo que vem daí sua força vital. “Em Junho, todas as lutas que sonhávamos aconteciam, a começar pela contestação geral do bloco do biopoder e da governamentalidade mafiosa”, destaca.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio, destaca que o “‘terremoto” de Junho de 2013 não foi capaz de propiciar mudanças substanciais na sociedade brasileira.

João Paulo do Vale de Medeiros, doutorando da Universidade Federal Fluminense, debate o apelo religioso da política ao Estado e sobre a fetichização do progresso. “Somos uma esquerda viciada em Estado, que não consegue enxergar a utopia para além das estruturas burocráticas."

Guilherme Kranz, mestrando em Letras pela UFRGS, considera que “assim como Maio de 68 suscita amor e ódio até hoje entre os franceses, durante as próximas décadas ainda vamos nos digladiar pelos sentidos de Junho”.

Complementam ainda a edição as entrevistas com Renato Janine Ribeiro, sobre conjuntura nacional e os desafios contemporâneos, Mary Hunt, teóloga feminista estadunidense que discute o papel das mulheres no pontificado de Francisco, e Ezio Manzini, professor na Universidade Politécnica de Milão, na Itália, sobre design e bem comum. Leia também a Crítica Internacional do curso de RI da Unisinos, sobre El Salvador e a integração com os Estados Unidos, de autoria de Bruno Lima Rocha.

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana!

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