Edição 521 | 07 Mai 2018

1968 – um ano múltiplo

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Meio século de um tempo que desafiou diversas formas de poder

Quando se fala em 1968, parece que se trata de algo uno, um acontecimento coeso. No entanto, o mais correto seria aludir aos vários 1968, ocorridos em geografias e contextos tão distintos como a França, a Tchecoslováquia, os Estados Unidos, o México, o Brasil e outros países latino-americanos.

O ano de 1968 é múltiplo de sentidos, significados e alcances. Na base da efervescência, estão as rebeliões estudantis e de trabalhadores que inflamaram ruas e desafiaram diversas formas de poder. Chefes de Estado, ditadores, empresários, reitores, professores e as tradicionais estruturas familiares, sindicais e partidárias – todos foram questionados e tensionados.

Meio século depois, com a força que as efemérides transferem para a memória, é importante ampliar o entendimento que se faz de um ano tão mítico e incensado, a ponto de se cogitar que, para alguns, ele não terminou – ou, pelo menos, segue ecoando. Havia ideias revolucionárias que impactaram os anos 1970, principalmente no campo cultural. No entanto, existem outras que mobilizaram fortemente na época e não surtiram os efeitos pretendidos, como o questionamento acerca das expressões de poder, das hierarquias e das instituições. Na França, cuja capital é associada instantaneamente aos acontecimentos de 1968, a pulsão libertária estimulava os jovens, que estampavam seus desejos e anseios em cartazes e muros.

Para discutir algumas perspectivas dos vários 1968, a revista IHU On-Line desta semana reúne uma série de pesquisadores e pesquisadoras. Patrick Viveret, filósofo e escritor francês, fala da ebulição dos meses, desde 1967, que antecederam a tomadas das ruas, universidades e fábricas por estudantes e trabalhadores franceses

Para o economista, psicanalista e crítico de cinema Enéas de Souza, é indispensável recuperar o sentido dos gestos de renovação da década de 1960, pois a grande herança daqueles anos vem da ideia lacaniana de não ceder do seu desejo, e isso atravessa a subjetividade e as ações sociais.

O cientista social Erick Corrêa afirma que 68 foi a maior greve geral selvagem da história da França, mas saiu vencida.

A historiadora Maria Paula Araújo destaca que o legado mais evidente de 68 no Brasil foi o deslocamento da liderança estudantil para a luta armada. Para ela, trata-se de um ano mítico porque explodiram revoltas de jovens, de artistas e do operariado em vários lugares do mundo.

Para a antropóloga Alana Moraes de Souza, Maio de 68 – marcante para a história das contestações ao capitalismo e às estruturas autoritárias – não foi superado, nem derrotado. Ela diz que as lutas vão sedimentando substratos, e toda vez que a sociedade se movimenta, de algum modo os substratos emergem.

O cientista político Glaudionor Barbosa vislumbra que é preciso consolidar uma narrativa de 1968 que aponte para um futuro melhor do que o presente.

A historiadora Larissa Jacheta Riberti, ao discutir a realidade mexicana, projeta que a próxima eleição presidencial vai coincidir com os 50 anos do Massacre de Tlatelolco, considerado “a expressão máxima de um Estado autoritário, da prática repressiva”. Ao tratar do Chile, a historiadora Joana Salém Vasconcelos lembra que Salvador Allende foi eleito em 1970 no rastro de 1968.

A filósofa Olgária Matos, instigada a refletir sobre Maio de 68, escreveu que uma revolução não se reconhece pela tomada do poder, mas por sua potência de sonho.

Nesta edição, há ainda entrevistas com o economista Róber Iturriet Avila; com o professor de Filosofia Castor Bartolomé Ruiz; e com o professor de Direito Guilherme de Azevedo. Leia também o artigo do professor Bruno Lima Rocha sobre a Guatemala, que, para os Estados Unidos, é o “escoadouro das deportações de imigrantes ilegais centro-americanos”.

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana!

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