Edição 517 | 18 Dezembro 2017

O Brasil na potência criadora dos negros

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

O necessário reconhecimento da memória dos afrodescendentes

A história do Brasil é repleta de protagonistas negros, de Zumbi dos Palmares a Milton Santos, passando por mulheres como Dandara e Carolina Maria de Jesus. Fazer memória destes importantes personagens é, de certa maneira, reconhecer a importância do negro como criador de um Brasil que nunca se realizou por completo. É reconhecer que a luta por justiça social e igualdade étnico-racial continua mais viva do que nunca. Para jogar luz sobre alguns desses personagens, a revista IHU On-Line reúne entrevistas com diversos pesquisadores.

O antropólogo e pesquisador Kabengele Munanga, ao analisar a narrativa historiográfica hegemônica sobre os afrodescendentes no Brasil, ressalta que o “negro só pode ser protagonista da História do Brasil ao mostrar que ele faz parte dessa história não apenas como força muscular humana, mas como cérebro, resistente apesar do rolo compressor da escravidão”.

A força política e literária da obra de Lima Barreto é retomada pela historiadora Lilia Schwarcz, destacando que o autor “nos interpela como negro e com os projetos que ele trazia para que a população brasileira não esquecesse jamais o fato de que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão”.

Em outro contexto, mas com uma literatura de igual densidade, Carolina Maria de Jesus é retratada na entrevista com Jeferson Tenório, mestre e professor de literatura, que aponta sua “fome existencial” como um traço marcante de seu texto. “Não se sai impune da obra de Carolina. Somos sempre afetados pela crueza e lirismo de suas palavras. As mazelas de Carolina passam a nos habitar.”

Theodoro Sampaio foi um dos principais nomes a pensar um Brasil mais inclusivo, segundo relata o professor e pesquisador Ademir dos Santos, em que frisa que “o grande valor da contribuição de Theodoro Sampaio foi ter empreendido uma obra plural, com contribuições importantes para vários campos conexos das geociências e humanidades”.

Um dos mais célebres negros da história do Brasil, Machado de Assis, é o tema da entrevista com Luís Augusto Fischer, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. A literatura machadiana foi capaz de exprimir o espírito de seu próprio tempo, “um caso realmente raro de um sujeito especialmente inteligente e ao mesmo tempo operoso, em cuja obra podemos encontrar um tanto da alma do país em sua época”, pontua Fischer.

O multifacetado Abdias Nascimento é o personagem que Sandra Almada, jornalista e autora de sua biografia, aborda em sua entrevista. “O professor Abdias, o senador Abdias, o dramaturgo Abdias, o poeta Abdias, o ator Abdias, o artista plástico Abdias insubordinava-se (contra o racismo e a discriminação), insurgia-se, sempre combatendo o ‘bom combate’”, pondera Almada.

Maria Alice Rezende de Carvalho, professora e pesquisadora da PUC-Rio, discute a importância de André Rebouças e suas obras que foram o primeiro sinal de um desejo de Brasil desenvolvido para toda a população, não somente para os senhores donos de escravos.

Na reportagem Em uma escola pública de Porto Alegre, educadores buscam diminuir desigualdade a partir do debate sobre estética feminina, a realidade das mulheres negras é vista por outra perspectiva.

Este número publica um dossiê sobre os 50 anos de Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Márquez, com as entrevistas de Sergius Gonzaga e Márcia Lopes Duarte.

Leonardo Bomfim escreve um artigo sobre o filme Terra em transe, de Glauber Rocha.

Trazemos um apanhado geral sobre os eventos que o Instituto Humanitas Unisinos - IHU realizará em 2018, apresentando cada uma das atividades já previstas.

A reportagem O ar fresco de uma Igreja em saída apresenta como o pontificado de Francisco assume um protagonismo no contexto geopolítico global, que é tema do XVIII Simpósio Internacional do IHU.

Complementam a edição os artigos A frágil posição de um país baseado em economia comodificada, de Bruno Lima Rocha, e Desativar o dispositivo do dever-ser e poder a própria impotência, de Márcia Junges, uma resenha do livro de Giorgio Agamben, intitulado Karman. Breve trattato sull’azione, la colpa e il gesto (Torino: Bollati Boringhieri, 2017).

A todas e a todos uma boa leitura e os votos de Boas Festas de Natal e Ano Novo.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição