Edição 515 | 13 Novembro 2017

Informação sob alto controle

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Lara Ely

O contador, professor e auditor interno da universidade fala sobre os desafios e rotinas de quem gerencia os processos da instituição e a segurança da informação

Nem só de cálculo vive o gigante das contábeis: nas aulas, lê poemas e fala das emoções| Foto: Lara Ely/IHU

Podemos dizer que ele é, literalmente, o “grande” responsável pela segurança das informações na universidade. Auditor da Unisinos há seis anos, o contador Jorge Luiz Rosa da Silva é quem realiza o trabalho de auditoria interna, analisa riscos e sugere melhorias. Entre suas tarefas, estipuladas mediante planejamento anual, está a análise de processos operacionais como aqueles relacionados a suprimentos, setor financeiro, entre outros.

A versatilidade de que está na universidade há 23 anos permite, ainda, que atue em outras pontas do processo e com públicos bem distintos: além de ser professor, integra o Conselho Fiscal da Fundepe e Coopersinos e é o responsável por apresentar as informações pertinentes às normas de segurança da informação e aspectos gerais da segurança da informação aos novos colaboradores da casa. No decorrer do ano, claro, adapta a rotina a uma série de novas demandas que surgem para garantir a lisura dos processos operacionais e contábeis da instituição.

Não por acaso trabalha com a questão do controle: dispensado do quartel aos 18 anos devido à alta estatura (à época, já media 1,98m), o porto-alegrense de 62 anos é filho de militar e conhece de berço a importância da disciplina. Na ocasião em que se alistou no Exército, lembra que a altura fora do padrão foi impeditivo devido às exceções, como tamanho de roupa e medidas da cama, por exemplo. Então, decidiu dedicar-se àquilo que sabia fazer melhor: contas.

Iniciou os estudos na Escola Técnica de Comércio da UFRGS, em Contabilidade, formou-se em Ciências Contábeis pela extinta Faculdade Portoalegrense - Fapa, fez especialização em Informática na PUCRS e Mestrado em Administração e Negócios, com ênfase em Estratégia, na mesma universidade. Gestor da Segurança da Informação na Unisinos, acumula experiência na área de Auditoria Independente, Auditoria Interna e Perícia Contábil, tendo sua atuação relacionada principalmente aos temas da controladoria, planejamento estratégico, ética profissional, entre outros.

Na carreira acadêmica, ele se empenha para que a altura não seja um fator intimidador aos novatos e recém-chegados. Quando entra em sala de aula, todo começo de semestre, para lecionar disciplinas como contabilidade gerencial, auditoria e finanças de curto prazo, Rosa declama um poema seu para os alunos.

O objetivo é, já de cara, quebrar o gelo e mostrar para as turmas que, por trás do estigma de durão, inerente ao seu papel como maestro das ciências exatas, há um ser humano capaz de compreender dramas pessoais e ansiedades de quem está lá para estudar os números. Prova disso é que, de chegada, pede que os discentes apontem, no quadro negro, o tipo de emoção que sentem ao se matricular na disciplina. “É comum nessa hora aparecer coisas do tipo medo, pânico”, conta ele, mas, ao externar, fica mais fácil de ir desmanchando essas impressões e mostrando que é possível aprender contabilidade sem mistério”.

A estratégia parece funcionar. Certa vez, Jorge recorda que um aluno que estava cabisbaixo pediu autorização para anotar o poema e recitar em casa, para a esposa, na tentativa de salvar um casamento em crise. Deu certo: “ele voltou na semana seguinte com sorriso de orelha a orelha e ânimo renovado para aprender”, recorda. Outra forma de aproximação é deixar uma cadeira sempre ao lado de sua mesa, enquanto passa os exercícios em sala de aula, para que a pessoa que têm dúvidas possa sentir-se convidada a pedir explicações individuais.

Assim como fez em casa, com os dois filhos já criados (ambos com mais de 30 anos), e agora faz com os dois netos (de 7 e 5 anos), o legado que quer deixar vai além da parte técnica – quer passar valores e contribuir para uma formação humanista integral. Ele é do tipo de pessoa que gosta de flores (está sempre registrando as belezas do campus em seu celular), aprecia uma boa viagem (a mais recente e memorável foi para a Itália, na companhia dos filhos e na ocasião de seus 60 anos) e diverte-se indo com a companheira ao cinema (filmes históricos e sobre contexto de guerra, como Diplomacia, do diretor alemão Volker Schlöndorff, são seus favoritos).

O convívio com as novas gerações – como os alunos e os netos, sobretudo, que lhe exigem um “outro olhar sobre educação” – faz com que ele perceba de forma mais clara as mudanças pelas quais o mundo passa. Rosa sabe que não pode ficar inerte a elas e reconhece que o mundo de hoje é completamente outro, se comparar com o de 30 anos atrás. Ele, que é parte de uma família de nove irmãos (oito estão vivos) e se comunica em tempo real com familiares no exterior, menciona que, anos atrás, isso não poderia ser sequer imaginado.

Para alguém que lida com a segurança de dados, é, por um lado, desafiante lidar com essa nova forma de comunicação. Para se proteger, limpa constantemente dados do telefone, por exemplo. Mas enxerga isso com certa naturalidade:

– Esta fase oferece muitas oportunidades. É preciso estar alerta, sabendo que alguns riscos não se podem evitar. O que dá é para monitorar, controlar e educar as pessoas para lidar com eles. No mundo atual, não dá mais para abrir mão da tecnologia, temos é que nos adaptar e ficar alertas – afirma.

No escritório de Segurança da Informação e Risco Corporativo, é papel dele alertar sobre alguns comportamentos que podem evitar dores de cabeça. Por exemplo, ele recomenda não emprestar login e senha, desligar o computador sempre que sair da sala, usar o e-mail corporativo apenas para fins laborais, ter cuidado com atualização de cadastro, ficando muito alerta para o recebimento de e-mails do tipo “phishing” (em inglês, pescaria), prática com o objetivo de “pescar” informações e dados pessoais importantes através de mensagens falsas.

Questionado sobre a gestão da informação no campus do futuro, ele se abstém de previsões, mas diz estar pronto para todas as mudanças que, logo mais, irão transformar tudo novamente. “É preciso estar preparado para o novo, o que irá impactar alunos, professores e funcionários, além das metodologias de ensino-aprendizagem, e sempre alerta”, conclui.■

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