Edição 510 | 04 Setembro 2017

Pra onde ir – A crise do Rio Grande do Sul vai além da questão econômica

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Em 1984, na 14ª edição da Califórnia da Canção Nativa, festival de música realizado no Rio Grande do Sul, um jovem cantor se destacou com os versos de uma canção composta por Dilan Camargo e Celso Bastos: “Pra onde ir, pra onde ir / Quem do campo empobreceu / Pra onde ir, pra onde ir / Quem na cidade se perdeu”. A voz era de Victor Hugo, atual secretário da Cultura do Rio Grande do Sul.

Para se saber aonde ir, para se discutir o caminho que deve seguir um estado fraturado, mas notório por sua empáfia e presunção de superioridade, antes é importante aprofundar o entendimento acerca das diversas crises que o Rio Grande vive.

No momento em que o estado atravessa a pior crise econômica de sua história e o governador José Ivo Sartori demonstra pouca habilidade para enfrentar a situação, e no mês em que os gaúchos costumam celebrar de maneira ufanística a Guerra dos Farrapos (1835-1845), a revista IHU On-Line debate algumas das crises que os gaúchos vivem, além da derrocada econômica.

O professor de Literatura Luís Augusto Fischer parte da ruína financeira para pensar a situação, mas vai além: a crise também é fruto do desprezo dos governantes pela cultura letrada. Para o doutor em Sociologia Marcos Rolim, “toda noção de supremacia é tradução da ignorância”, e “a cultura tradicionalista transforma a estupidez em virtude”. O jornalista e professor Pedro Osório, ao analisar o papel da imprensa, afirma que ela “é a maior responsável pela manutenção da ideia de superioridade do gaúcho”.

A economista e professora Cecilia Hoff, ao analisar o colapso econômico do estado, projeta que a tendência é que o atraso se amplie, com efeitos a longo prazo. O também economista e professor Róber Iturriet Avila observa que o Rio Grande do Sul vive estagnado desde 2014 e que a complexidade da situação não comporta repostas simplistas como “gastou demais”.

O historiador e arqueólogo Francisco Marshall diz que o eleitor gaúcho hoje elege dementes; também acusa o governador e o prefeito de Porto Alegre de não saberem governar, além de não terem capacidade de estudo. O montador de cinema e professor Giba Assis Brasil afirma que as atitudes de Sartori denunciam que a crise de identidade não é apenas do governo, mas de todos. E encerrando a sequência de textos que tratam do tema de capa, o psicanalista Jaime Betts apresenta quatro sintomas sociais dos gaúchos.

A revista apresenta outros assuntos nesta edição. O doutor em História Carlos D. Paz parte do filme O Silêncio (2016), de Martin Scorsese, para, na experiência jesuíta, refletir sobre a necessidade de se inserir e relacionar com “o diferente”. O jornalista italiano Riccardo Cristiano recorda o desaparecimento de Paolo Dall’Oglio e discute as diferenças entre Ocidente e Oriente. E a médica Maria Augusta Maturana aborda, em artigo, o espaço da mulher no campo da ciência.

No perfil que apresenta a decana da Escola de Humanidades da Unisinos, Maura Corcini Lopes, a professora revela que valoriza os momentos de ócio como atos de resistência do pensamento.

O crítico de cinema Fernando Del Corona analisa dois filmes: Eva não dorme, de Pablo Agüero, e Corpo elétrico, de Marcelo Caetano. Leia ainda a crítica internacional de Bruno Lima Rocha, professor da Unisinos, sobre a capacidade investigativa global do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana.

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