Edição 501 | 27 Março 2017

Editorial - O Holocausto no cinema. Algumas aproximações

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

A atrocidade do genocídio que dizimou pelo menos 6,5 milhões de pessoas é imensurável. Um dos mais perversos capítulos da história da humanidade é definido genericamente como Holocausto, mas nem mesmo a linguagem é capaz de dar conta da complexidade desse momento. O psicanalista Robson de Freitas Pereira, um dos entrevistados nessa edição, destaca que a palavra Holocausto nunca foi considerada adequada para descrever o que aconteceu, já que etimologicamente significa “oferenda sacrificial”, algo que de fato não foi. Por isso ele prefere o termo hebraico Shoah. “É uma expressão que não tem uma tradução exata, está próxima de extermínio, mas não exatamente; assim, pode transitar de uma palavra, de um significante, para se transformar num nome”.

Na busca incessante por não deixar a memória desse momento histórico se apagar, o cinema se aventura em inúmeras apropriações a partir do que viveram as vítimas do nazismo. A edição de número 501 da IHU On-Line quer refletir sobre essas construções, sobre as leituras que o cinema faz a partir do Holocausto. Para o psicanalista Alfredo Jerusalinsky, retratar o Holocausto no cinema é simultaneamente um canal de reconhecimento do que nos faz iguais e das atrocidades cometidas em nome das diferenças.

Entretanto, é importante não se perder de vista que o cinema nasce como uma indústria de produção cultural de massa. Assim, as leituras que faz do Holocausto são atravessadas por essa perspectiva. Por isso, a doutora em Comunicação e Informação Adriana Kurtz discute como esse dramático episódio da história tende a ser banalizado em nome de uma indústria voltada ao entretenimento. É uma perspectiva similar à do crítico cinematográfico Luiz Nazario, que pondera que essa história é, ao longo dos tempos, suavizada pelo viés do drama, do romance e até da comédia.

Luiz Vadico, licenciado e bacharel em História e professor da Universidade Anhembi Morumbi, acredita que o cinema contribui para exorcizar o Holocausto. Lyslei de Souza Nascimento, professora na Universidade Federal de Minas Gerais, compreende que a ironia, o humor e a arte podem ser caminhos para tratar a aspereza de fatos tão trágicos como o Holocausto.

Esse número ainda traz um dossiê sobre o pensamento de Baruch Spinoza, por meio de entrevistas com Laurent Bove, professor da Universidade Picardie Jules Verne, na França, e Maria Luísa Ribeiro Ferreira, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

O estado de crises em que se vive exige reflexões mais complexas. Egdar Morin, um dos pensadores contemporâneos que mais se entregou ao desafio de pensar a partir do paradigma da complexidade, é revisitado pelo sociólogo Giuseppe Fumarco. Na entrevista, analisa o momento presente e o que o papa Francisco denuncia como crise ecológica.

A IHU On-Line também apresenta uma entrevista com o antropólogo André Borges de Mattos, que analisa a obra de um dos intérpretes do Brasil, Darcy Ribeiro, que transitou em diferentes campos do conhecimento, da antropologia à educação. Fernando Del Corona, mestrando em Comunicação, analisa o filme Silêncio, no contexto da obra do diretor Martin Scorsese. E Rodrigo Duque Estrada, internacionalista, juntamente com Renatho Costa, professor de Relações Internacionais da Unipampa, assinam o artigo Independência ou guerra no Saara Ocidental.

A todas e a todos, uma boa leitura e uma excelente semana.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição