Edição 500 | 13 Março 2017

Editorial - Os biomas brasileiros e a teia da vida

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Já em 1991 a multinacional petrolífera anglo-holandesa Shell alertou para os perigos da mudança climática, conforme fica explícito no vídeo Climate of Concern realizado pela empresa e recentemente publicado. Por sua vez, Stephen Hawking, astrofísico inglês, na semana passada, voltou a alertar: “Desapareceremos e será por nossa culpa”.

Conscientes do colapso civilizacional com que nos defrontamos como espécie humana e inspirados pela Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida e que tem como lema Cultivar e Guardar a Criação (Gn 2,15), a edição de número 500 da revista IHU On-Line debate o tema que também é assunto central do ciclo de conferências promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU a partir do dia 15 de março até o final do mês de junho deste ano.

Alexandre Araújo Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará, relaciona o modo de vida da humanidade de hoje às mudanças climáticas. Tais mudanças impactam nos biomas tanto quanto os usos que se faz da terra. Nessa perspectiva, o advogado Mozar Dietrich observa como a venda de terras brasileiras a estrangeiros pode se converter em ameaça. Para ele, elas seguem sendo objeto de desejo internacional para fins exploratórios. Essa disputa, além de levar à destruição dos biomas, gera desigualdades e mortes. São as vertentes dos conflitos ambientais do Brasil de hoje, analisados pelo jornalista e ativista ambiental Cláudio Ângelo.

A Mata Atlântica é a floresta mais próxima das grandes cidades, 60% dos brasileiros vivem na sua área. Segundo Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica, é aqui que reside um paradoxo: a principal ameaça ao bioma é a expansão urbana, ao mesmo tempo em que a metrópole quer preservar a sua “vista para o mato”.

No Pantanal, a principal característica do bioma, o ciclo de inundações, dita o ritmo de vida das pessoas. Entretanto, apesar de uma boa relação entre ser humano e ambiente, há riscos e ameaças ao bioma. É o que revela Pierre Girard, professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.

Já no Pampa, a agricultura provoca o desequilíbrio entre ser humano e ambiente. Para produzir cada vez mais, as lavouras de soja avançam sobre as planícies pampianas, segundo analisa Marcelo Dutra da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Por sua vez, o músico Demétrio Xavier descreve a influência do bioma Pampa na cultura gaúcha e latino-americana.

Na Caatinga, toda essa interferência em busca de mais produtividade tem se revertido em aquecimento e, segundo Rodrigo Castro, doutorando em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal do Ceará, ações públicas não têm se mostrado eficientes para frear essa degradação. Degradação que, na perspectiva de Haroldo Schistek, agrônomo e teólogo, se instala pela inabilidade humana de conhecer e se adaptar ao Semiárido.

Ainda contribuem para o debate Altair Sales Barbosa, antropólogo e coordenador do projeto Enciclopédia Virtual do Cerrado, que analisa como a destruição desse bioma tem levado o ser humano a um fenômeno nomeado por ele como desterritorialização, e Flávio Zanette, professor da Universidade Federal do Paraná, que se dedica a projetos de preservação da Mata de Araucária.

A presente edição também celebra a memória da vida e obra de Darcy Ribeiro, por ocasião dos 20 anos do seu falecimento, entrevistando Paulo Ribeiro, sociólogo que dirige a fundação que leva o nome do grande e importante pensador brasileiro.

A reportagem sobre a aldeia Tekoá Pindo Mirim, localizada na cidade de Viamão, Rio Grande do Sul, e um comentário sobre os filmes Nostalgia da Luz (2010) e Botão de pérola (2015), de Patricio Guzmán, completam a edição.

Para celebrar as 500 edições da IHU On-Line disponibilizamos o novo sítio da revista e um projeto gráfico totalmente repaginado. A aposta é que o acesso, a leitura e a consulta sejam mais fáceis, ágeis e agradáveis.

A todas e a todos, uma boa leitura e uma excelente semana!

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