Edição 499 | 19 Dezembro 2016

Severino e a experiência de fé e religiosidade nordestina

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João Vitor Santos

Maria Augusta Torres observa como João Cabral retrata, na literatura popular, um exemplo de como a religiosidade tem outros sentidos quando vivida a partir da realidade de um povo

“O texto deve permitir a descoberta de novos caminhos para entender sua mensagem”. A frase da professora Maria Augusta Torres, mestra em Ciências da Religião, é importante para compreender a ponte que a literatura popular nordestina faz para acessar a religião. Na obra de João Cabral de Melo Neto, destaca a forma como o autor traduz o cânone religioso para a cultura local. Para ela, esse texto revela outros caminhos para se compreender a mensagem bíblica com o referencial da vida que se leva no semiárido. “A obra de arte tem o poder de ser interlocutora criativa para a reflexão da religião”, aponta. E detalha: “João Cabral faz o seu texto, partindo do real, apresentando formas de religiosidade vivida pelo povo do Nordeste, através do diálogo com seus personagens. Por isso a arte pode ser a afirmação daquilo que é mais profundo na vivência humana”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Maria Augusta traz um pouco de sua experiência no Nordeste brasileiro para destacar a importância do referencial naquela cultura popular para, a partir dela, compreender-se enquanto ser vivente no mundo. “A literatura popular instiga o leitor a ter uma visão de mundo e daquilo que ele pretende anunciar”, destaca. Ela lembra, por exemplo, a importância e o papel das tradicionais histórias de cordéis. “Os cordéis, literatura trazida de Portugal, são as mais genuínas formas de apresentar a religião com toda suas variantes como força integradora da vida, porque eles falam de uma realidade vivida. Esta arte popular é a expressão daquilo que é mais profundo na experiência da existência humana”.

Maria Augusta de Sousa Torres é mestra em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco - Unicap. Sua dissertação é Ensino Religioso e Literatura: um diálogo a partir de Morte e vida severina. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Atualmente é presidente da Comissão do Ensino Religioso da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Norte e professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Entre suas publicações, destaca O Ensino Religioso nos Caminhos do Rio Grande do Norte (Formação de Docentes e Ensino Religioso no Brasil: Tempos, Espaços, Lugares. 1ed.blumenau: EDFURB, 2008, v. 1, p. 117-124) e A transcendência: a arte de ultrapassar materialidade (In: Sociedade de Teologia e Ciência da Religião - SOTER, 2010, Belo Horizonte/MG). 

Confira a entrevista.

 

IHU On-Line - Que reflexões Morte e vida severina suscita? E qual sua conexão com os tempos em que vivemos?

Maria Augusta de Sousa Torres - Em Morte e vida severina, João Cabral constrói uma poética com conteúdo onde se desvelam questões fundamentais da vida humana do homem nordestino. A obra suscita ao leitor uma visão de mundo e todas as implicações da vida do sertão provocadas pelas grandes estiagens, mostrando também o seco da vida que aparece na paisagem física e social. O texto, além de apresentar o contato com a morte, que nos dá uma ideia de transcendência, aproxima-nos, também, da ideia de finitude e nos proporciona uma assimilação da ideia de escatologia. A inversão morte/vida recorda nossa origem e o nosso destino “como uma teologia cósmica e universal” (WALDECY TENÓRIO, 1996), evidenciando o ser finito e, ao mesmo tempo, a ideia de infinito no texto.

João Cabral, com Morte e vida severina, denuncia para o mundo, a partir do seu personagem principal, uma história vergonhosa que se passa no sertão nordestino, evidenciando a geografia da fome e a falta de tudo. Seu fazer poético materializa imagens do descaso daqueles que lucram com a seca e a pobreza do Nordeste. Severino é o resumo do coletivo de imagens dramáticas do cotidiano de desventuras e adaptações humanas que sofre o sertanejo.

Auto de Natal

O poema tem como subtítulo Auto de Natal Pernambucano, pois é uma peça de teatro encenada na época do Natal e se configura na representação simbólica do nascimento do menino Jesus, que veio trazer “vida nova para todos” (Jo, 10, 10). Com o nascimento do menino, a comunidade do mangue renasce e, em profunda sinergia com a natureza e a vida que “salta” no meio da pobreza, se instala a religião do amor e da partilha com o objetivo de acolher a solidariedade na diversidade da cultura. Necessidades tão prementes em nossos dias, não como um imperativo religioso, mas como exigência de cuidado com a vivência da ética.

O grande valor de uma nação consiste na valorização do seu povo e de suas tradições culturais, e João Cabral, com sua identificação com o povo Severino, valoriza a cultura do povo simples do Nordeste e faz uma revelação através de sua arte. Os países que não se preocupam com políticas de desenvolvimento regional e cultural, são meros fabricantes de massas sociais que vivem de benesses do governo sem preocupação com políticas cidadãs, sem direitos e sem identidade cultural, portanto a poesia pode ser o meio de provocar ao ser humano, na vivência de suas relações sociais, a oportunidade de expressar suas ideologias e utopias, permitindo uma visão mais integradora da vida humana.

 

IHU On-Line – No que consiste um Auto de Natal e o que faz de Morte e vida severina um deles?

Maria Augusta de Sousa Torres - Os autos são peças teatrais que têm características religiosas ou burlescas, cuja finalidade é criticar ou ironizar. São peças populares do período medieval europeu e foram utilizadas pela igreja para narrar assuntos religiosos. Morte e vida severina é considerado auto de Natal pernambucano, por embasar as tradições religiosas do “pastoril”, típico de Pernambuco, que é encenado por ocasião das festas de Natal formando um presépio vivo.

O texto Morte e vida severina é uma obra de teatro encomendada por Maria Clara Machado . E João Cabral vai buscar elementos para sua formação no folclore pernambucano, descrito no livro de Pereira da Costa , e ainda em suas reminiscências de infância. O poema apresenta a tragédia da miséria nordestina, através de fortes imagens visual e auditiva com uma linguagem simples que prende a atenção do leitor, para situá-lo dentro de uma realidade social que ultrapassa as fronteiras do Nordeste e vai além das fronteiras do país, com o objetivo de fazer ecoar um grito profético contra a miséria do mundo que é fabricada para alimentar a riqueza de poucos. A culminância do auto se dá com o nascimento do menino, nos mangues do Recife, única esperança de vida numa semelhança com o nascimento de Cristo que veio para resgatar a humanidade.

 

IHU On-Line - Que relações é possível se fazer entre a narrativa de João Cabral de Melo Neto e a história bíblica do Cristo? E em que medida essas relações servem de fermento para a religiosidade popular?

Maria Augusta de Sousa Torres - Toda história bíblica é a narração das experiências concretas de um povo à procura de Deus e da ação desse Deus se revelando ao povo, e a Bíblia deve ser lida no contexto da vida. Jesus nasceu e viveu no seio de uma família pobre do povo de Israel, compartilhando com todos a vida, as esperanças e as angústias, na perspectiva de “vida para todos e vida em abundância” (Jo 10,10). O nascimento de Cristo irrompe a história e nos liberta de forma definitiva, ao mesmo tempo congrega todos numa fraternidade capaz de abrir novos caminhos na história, quando nos entrega o texto das bem-aventuranças (Mt 5, 1-12) como caminho de verdade, amor e compreensão.

O protagonista da história em Morte e vida severina sai lá da Serra das Costelas, limites da Paraíba, e vai em busca de “vida” até a cidade de Recife. E ele vai seguindo o curso do rio Capibaribe , que nasce no município de Brejo da Madre de Deus na divisa de Pernambuco com a Paraíba, possui 74 afluentes e banha 32 municípios pernambucanos, estabelecendo uma metáfora com o rosário e a ladainha, orações religiosas do universo da religiosidade popular do Nordeste. Assim, o rio inspirou João Cabral a tecer sua crônica social, política e religiosa com semelhanças muito fortes com a caminhada do povo de Deus em busca de vida e libertação. Severino é o personagem de uma história vergonhosa que se passa no Nordeste, e o rio é o fio condutor dessa história, tem a missão de religar Severino à vida.

O poema de João Cabral é recheado de uma religiosidade marcante, própria da cultura popular, que aparentemente faz parte da matriz judaico-cristã, mas na verdade serve de alento para dar sentido à vida do povo que sofre com a falta de tudo. Esta religiosidade possibilita uma visão espiritual de sentido. A literatura, portanto, pode ser a interlocutora dessa mensagem religiosa. Podemos perceber em vários fragmentos textuais de Morte e vida severina, sobretudo nas “excelências”, a importância dessa religiosidade ajudando o morto na travessia para vida eterna, além de outros elementos que compõem esse imaginário da religiosidade, tais como o rosário, as novenas de santo, mês de Maria, a caminhada, tudo faz parte das expressões de fé vivida pelo povo.

 

IHU On-Line - Como compreender o contexto político-social e religioso do Brasil da época em que João Cabral de Melo Neto escreve Morte e vida severina?

Maria Augusta de Sousa Torres - Nossa identidade cultural foi formada sobretudo pela matriz religiosa cristã, de cunho católico. Nossos primeiros catequizadores foram jesuítas, logo nossa cultura é impregnada por uma religiosidade católica relevante, com o cultivo da devoção aos santos, as romarias, as procissões e muitos outros. E esse projeto que nos anos 1950 era dirimido entre as classes populares, que viviam à margem das políticas sociais do Brasil, foi o contexto religioso da produção de Morte e vida severina, embora nessa época já despontasse um cristianismo com certa veia profética libertadora e comprometida com mudanças políticas e sociais. O dado religioso era tão forte que servia como identificação. Vejamos no poema: “O meu nome é Severino, não tenho outro de pia / Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, / deram então de me chamar, Severino de Maria” (João Cabral, 2007).

O ser humano se expressa em suas práticas e a experiência da religiosidade ocasiona uma práxis que não pode ser reduzida ao ritual, mas incide como conduta individual e social. Estas práticas podem ser a grande gestora de esperança e de realização de grandes sonhos, na luta para que políticas sociais estejam a serviço do povo e não se prestem somente a um jogo de cena com fins eleitorais. Nesse sentido, a poesia de João Cabral nos aponta uma relação de comprometimento com as mudanças sociais, pois o texto poético pode ser visto como amostra de uma realidade profundamente enraizada e provocadora da ação consciente do homem no mundo. 

 

IHU On-Line - Em que medida Morte e vida severina dialoga com a perspectiva do Papa Francisco de “inculturação da fé”?

Maria Augusta de Sousa Torres - A literatura apresenta uma interpretação própria da história e da vida do ser humano no mundo. Ela faz o registro das ações do homem e seu meio social, religioso e político. Ao caminhar nos versos de Morte e vida severina, o leitor se põe em contato com várias paisagens, a seca, o rio, o sertanejo, a religiosidade, a morte, e os mais variados caminhos que fazem parte da estratégia de sobrevivência da vida do sertão. Tudo se interliga para dar clarividência a uma mensagem: mostrar ao mundo a miséria do Nordeste e recriar um novo ethos cultural, avesso a qualquer forma de exploração. Conforme Antonio Carlos Secchin  (1985), “o real se apresenta mais enquanto evento do que enquanto sistema”, como se pela força da palavra fosse possível conquistar a vida em si mesmo como recuperação da própria existência.

Tudo isso só se percebe no poema porque ele está inserido na cultura do povo simples. Seu teor poético faz parte inerente da vida e das manifestações de religiosidade que servem de alento para suportar as agruras do cotidiano. “Ladainha e Rosário” são rezas longas de grande significado na religiosidade popular. Estas metáforas acompanham Severino em sua caminhada até a chegada no Recife, onde ele pensa encontrar vida, mas na verdade só encontrou a morte.

A inculturação

O Papa Francisco afirma que as culturas são muito diferentes entre si. Assim sendo, cada princípio geral, se quiser ser aplicado, precisa ser inculturado para alcançar a eficácia da mensagem. É exatamente o que se constitui o princípio de anúncio da mensagem religiosa, ela só atingirá sua eficácia se for dirigida a partir da cultura. Ainda segundo o Papa Francisco, a inculturação não debilita os valores, mas demonstra sua força renovadora e sua eficácia redentora.

Severino encontra a resposta que tanto desejava dentro da cultura do povo simples dos mangues do Recife. A instalação do presépio é o encontro com a vida que se renova através de nossas memórias religiosas, estabelecendo sentido, e dando respostas às questões existenciais do personagem, com a metáfora do nascimento de Cristo se dar o “Auto de Natal”, que se incultura para abrir espaços e acolher Severino e o menino que acabaram de nascer.

 

IHU On-Line - Como a senhora compreende a religiosidade popular a partir de sua experiência no Nordeste brasileiro?

Maria Augusta de Sousa Torres - Nós fomos colonizados pelos portugueses, junto com eles também vieram a religião, com os ritos e os mitos que compõem a matriz religiosa. É o que João Batista Libanio  denomina de catolicismo popular. É uma religiosidade resistente às novas formas de evangelização, mas com manifestação de fé muito forte. Esta religiosidade foi marcada pela intensa presença de imagens de santos, ritos, festas, romarias e procissões, tudo se constitui espaços privilegiados de vivência de fé. As festas de padroeiros são momentos fortes dessa experiência religiosa, que se regem mais pela lógica do inconsciente e do emocional do que do racional e doutrinário. Hoje a Igreja aproveita estes momentos para fazer sua evangelização.

Na Arquidiocese de Natal, a padroeira é Nossa Senhora da Apresentação, celebrada em 21 de novembro. É uma festa belíssima, com um grande significado dentro das tradições religiosas do povo. Nos rituais das novenas, a igreja se enche de fiéis e todos demonstram muita fé. A procissão é um momento de muita reflexão e muita piedade, o povo caminha quilômetros sem se cansar, com pedras na cabeça, vestidos com as cores de Maria, descalços, e muitas outras expressões de fé, respeito e veneração. Esta religiosidade é muito acentuada no Nordeste, pois é o momento em que o homem expressa sua relação com o mistério, fazendo uma leitura da realidade a partir do ponto de vista da sua significação, assim faz uma experiência de sagrado que incide em sua conduta individual e social.

Experiência na religiosidade popular

Pessoalmente tive uma experiência muita rica, quando fui fazer uma fala em Mossoró, cidade a 280 quilômetros de Natal, por ocasião da festa da padroeira, Santa Luzia, celebrada em 13 de dezembro. Lá, há duas novenas, à tarde e à noite. Fui convidada para a da tarde, pensava eu que estariam presentes poucas pessoas. Entretanto, me deparei com a catedral lotada. Em função disso, pensei que, certamente, à noite não teria ninguém e fui ver a novena da noite. A Igreja estava lotada novamente. Concluí, ao observar aquela participação e a piedade do povo, que as festas de padroeiros são uma necessidade humana e radical e servem para alimentar a experiência religiosa do povo.

 

IHU On-Line - Como se dá o diálogo inter-religioso, a partir das crenças populares e articulações entre diferentes manifestações de fé, no contexto nordestino?

Maria Augusta de Sousa Torres - O diálogo acontece quando se compreende a verdade do outro. Ou seja, o diálogo inter-religioso acontece quando se respeita a crença do outro. A convivência da realidade do tecido religioso nordestino nem sempre foi pacífica. Havia um desrespeito às manifestações de fé de outras matrizes, sobretudo a ameríndia e a africana, mas essa realidade mudou muito no Brasil com uma igreja proporcionando novas formas de evangelização.

O cenário religioso do Brasil e sobretudo do Nordeste, onde as expressões de fé popular são muito fortes, cria uma certa tensão entre catolicismo oficial e o catolicismo vivido pelo povo como expressão de fé. Entretanto, a pluralidade de estilos de experiência da fé chamou atenção da igreja para repensar sua evangelização. Isso pelo fato de a religiosidade popular estar intrinsecamente ligada às culturas e tradições. O apelo do Papa Francisco e sobretudo o seu exemplo ajudou muito a Igreja a abrir-se para o diálogo do pluralismo religioso. Claude Geffré  (2004) nos adverte que “a multiplicidade de formas religiosas não contradiz a unicidade do desígnio de Deus, que é de fazer aliança com o ser humano e salvá-lo”. Logo, o pluralismo religioso deve assumir posturas de respeito às várias manifestações de religiões oriundas de qualquer credo religioso.

 

IHU On-Line - Qual o papel da literatura popular na busca pelo entendimento das perspectivas do campo religioso?

Maria Augusta de Sousa Torres - O texto literário faz o registro de uma realidade com todos seus desafios, sua mensagem vai além das palavras. O texto deve permitir a descoberta de novos caminhos para entender sua mensagem. A literatura popular instiga o leitor a ter uma visão de mundo e daquilo que ele pretende anunciar, também tem o poder de propor estruturas de experiências religiosas configurada pelo texto. Os cordéis, literatura trazida de Portugal, são as mais genuínas formas de apresentar a religião com todas suas variantes como força integradora da vida, porque eles falam de uma realidade vivida. Esta arte popular é a expressão daquilo que é mais profundo na experiência da existência humana.

A obra de arte tem o poder de ser interlocutora criativa para a reflexão da religião, é o que se constata em Morte e vida severina. João Cabral faz o seu texto, partindo do real, apresentando formas de religiosidade vivida pelo povo do Nordeste, através do diálogo com seus personagens. Por isso a arte pode ser a afirmação daquilo que é mais profundo na vivência humana.

 

IHU On-Line - Qual o papel do aspecto religioso no entendimento do mundo? Quais os desafios hoje para se conectar a perspectiva religiosa com as realidade e aridez do mundo contemporâneo?

Maria Augusta de Sousa Torres - A religião é uma força poderosa que torna plausíveis e duradouras as construções sociais da realidade do mundo. A religião vê o mundo de forma abrangente, e legitima, justifica e explica as dificuldades construídas. Ela tem o poder de “nominizar” a vida do indivíduo porque apresenta significado capaz de permitir, a esse indivíduo, continuar existindo e encontrar função renovadora para que propicie uma espiritualidade que religue o religioso ao mundo.

A modernidade atual questiona a religião da forma como ela é apresentada. A modernidade cultua a imanência, mas será que esta manifestação exagerada de imanência não significa o desejo de transcendência? Será que hoje não há uma necessidade urgente de se cultivar o religioso como respostas às nossas questões existenciais? Acredito que há uma busca de retorno ao religioso no mundo em que vivemos, mas creio que se faz necessário renovar. Como diz o Papa Francisco, “inculturar” para poder, apesar da secularização e da aridez do mundo moderno, atualizar novas formas de compreensão da religião no entendimento do mundo.

 

IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?

Maria Augusta de Sousa Torres - As narrativas literárias podem ressignificar o mundo e são capazes de gerar uma nova visão da vida e da sociedade. A literatura faz parte da fronteira dos saberes que incorporou crítica e estética, juízo e simbolismo, história e mitos, ciência e poesia, tudo isso concorre para que a obra de arte se abra à descoberta de valores extraestéticos, que podem oferecer, entre outras reflexões, uma abordagem do imaginário da religião vivido nas culturas. É o que faz João Guimarães Rosa , Patativa do Assaré , Adélia Prado , João Cabral de Melo Neto e muitos outros. Isto acontece porque a literatura atualiza as perspectivas de interpretação na cultura.■

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