Edição 488 | 04 Julho 2016

Biografia de Henrique Cláudio de Lima Vaz, SJ

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Redação

Henrique Cláudio de Lima Vaz, SJ (Ouro Preto, MG, 24 de agosto de 1921 – Belo Horizonte, 23 de maio de 2002) foi padre jesuíta, professor, filósofo e humanista brasileiro

Juventude e formação inicial

Lima Vaz nasceu em Ouro Preto. Entrou na Companhia de Jesus em 28 de março de 1938. Fez seus estudos filosóficos no antigo escolasticado dos jesuítas em Nova Friburgo, RJ. Em 1945, foi para Roma estudar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde concluiu o curso de licenciatura com uma dissertação intitulada “O problema da beatitude em Aristóteles e Santo Tomás”.

Sua ordenação presbiteral deu-se a 15 de julho de 1948. Completou sua formação religiosa em Gandia, na Espanha. Voltando a Roma, obteve em 1953 o doutorado em Filosofia pela Universidade Gregoriana, com a tese De dialectica et contemplatione in Platonis dialogis, que versou sobre a dialética e a intuição nos diálogos platônicos da maturidade.

 

Magistério

Lima Vaz trabalhou no magistério filosófico universitário durante quase 50 anos. Primeiramente na Faculdade de Filosofia da Companhia de Jesus em Nova Friburgo (1953-1963), que depois foi transferida para São Paulo (1963-1974) - período em que Lima Vaz esteve ausente do ensino na faculdade -, e depois para o Rio de Janeiro (1975-1981), e novamente transferida para Belo Horizonte (1982-). Ensinou também em cursos do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais de 1964 a 1986, da qual recebeu em 2001, o título de Professor Emérito.

 

Ação Popular

Nos anos 60 tornou-se mentor da Juventude Universitária Católica - JUC e da Ação Popular - AP, em sua primeira fase. Num cenário agitado e confuso como o da época, os artigos de Lima Vaz tiveram o impacto de uma lufada de ar puro sobre uma geração cristã, que se sentia asfixiada por uma tradição religiosa alheia aos desafios políticos e culturais do seu tempo. Lima Vaz soube como ninguém oferecer uma análise crítica do pensamento marxiano numa atitude intelectual firme e aberta ao debate, criticando todo reducionismo intra-histórico pelo chamado à transcendência, mas, ao mesmo tempo, questionando a posição tradicional a partir do pensamento dialético.

 

Fé e razão

A religião e a fé, para Lima Vaz, não eram algo extrínseco com o qual se relacionava: nelas vivia e delas se alimentava espiritualmente. Por isso ele afirmava não experimentar conflitos interiores a respeito da compatibilidade entre suas convicções religiosas e sua vocação de filósofo. Desde o início deixou-se guiar pela diretriz de Santo Agostinho: “crê para entenderes e entende para creres”. Dessa forma, seu trabalho filosófico manteve-se rigorosamente dentro das exigências metódicas e doutrinais da razão. E, todas as vezes que atingia as fronteiras em que a razão se encontra com a fé, essa linha divisória era explicitamente traçada.

 

Erudição

Um erudito, Lima Vaz possuía uma sólida e vasta cultura científica e humanística, bem como um amplo conhecimento filosófico de todo o pensamento ocidental. Vinculado fundamentalmente à metafísica clássica, possuía um vivo interesse pelo pensamento moderno e seus principais representantes, deixando-se seriamente questionar pela modernidade. Grande destaque deve ser dado, também, ao seu profundo conhecimento da obra de Hegel.

Nos seus últimos trabalhos, buscou analisar a realidade sociocultural contemporânea e a crise da modernidade sob os aspectos filosóficos, éticos, políticos e religiosos. Nestas suas investigações, tomou posição no debate de ideias a respeito do sentido transcendente da existência humana e dos rumos de nossa civilização.

 

Síntese filosófica

Sua síntese filosófica pessoal apoiava-se em três grandes influências: Platão, Tomás de Aquino e Hegel. Mas seu autor predileto é, sem dúvida, Tomás de Aquino. Lima Vaz via na obra de Tomás de Aquino, especialmente na sua metafísica, tal profundidade, lucidez e equilíbrio nas questões fundamentais que, ainda hoje, suas intuições são, segundo Lima Vaz, capazes de fecundar a reflexão. E, nesta união fecunda de elementos antigos, como a metafísica de Tomás de Aquino, e perspectivas renovadoras, como a ênfase na dialética hegeliana, Lima Vaz colocava-se em busca de uma vida ética, onde fosse possível a realização da humanidade na liberdade, na verdade, na beleza e na justiça.

Nos seus últimos escritos, Lima Vaz busca recuperar a ideia de sistema no sentido da articulação ordenada do pensamento, sem a qual não há leitura coerente da realidade, e a filosofia se esvai em gratuitos jogos de linguagem. A partir desta ideia de sistema, Lima Vaz constrói principalmente sua antropologia filosófica e sua ética filosófica. Seu último livro, Raízes da Modernidade (São Paulo: Loyola, 2002), propõe para o nosso tempo, tempo de incertezas e de renovadas articulações, o humanismo teocêntrico como itinerário para a realização plena do ser humano em sua existência pessoal e social.

Cultivou uma vida recolhida, simples, sem ostentação, impondo-se um ritmo de trabalho disciplinado e austero. Lima Vaz veio a falecer em Belo Horizonte no dia 23 de maio de 2002, devido a complicações pós-operatórias.

 

Bibliografia

Obras de Lima Vaz

Escritos de filosofia I: Problemas de fronteira. São Paulo: Loyola, 1986

Escritos de filosofia II: Ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1988.

Escritos de filosofia III: Filosofia e cultura. São Paulo, 1997.

Escritos de filosofia IV: Introdução à ética Filosófica I. São Paulo: Loyola, 1999.

Escritos de filosofia V: Introdução à ética Filosófica II. São Paulo: Loyola, 2000.

Escritos de filosofia VI: Ontologia e história (2. ed.). São Paulo: Loyola, 2001.

Escritos de filosofia VII: Raízes da Modernidade. São Paulo: Loyola, 2002.

Antropologia filosófica I. São Paulo: Loyola, 1991.

Antropologia filosófica II. São Paulo: Loyola, 1992.

Experiência mística e filosófica da tradição ocidental. São Paulo: Loyola, 2000.

 

Fonte: Wikipédia

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