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Leslie Chaves
Multiplicam-se no país movimentos populares em defesa de diversas demandas, mas que têm em comum o anseio por melhorias na qualidade de vida e pelas condições necessárias ao pleno exercício da cidadania. Mais do que isso, essas mobilizações estão revelando o descontentamento com os caminhos que o Brasil vem trilhando e principalmente as mudanças mais recentes no governo, que, a julgar pelos seus primeiros atos, tendem a restringir ainda mais as saídas para a promoção de medidas mais inclusivas e direcionadas a fomentar a equidade.
É possível verificar esse sentimento nas ocupações de escolas e de outras instituições públicas. Um dos exemplos é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, que, em protesto contra a supressão do Ministério da Cultura, tem sedes ocupadas em cerca de duas dezenas de capitais brasileiras, incluindo Porto Alegre, uma das ocupações mais recentes, que teve início na última quinta-feira, 19-05-2016. Na mesma data, milhares de manifestantes saíram às ruas da cidade para protestar contra o governo do presidente interino Michel Temer, com cartazes e faixas em que criticavam as ações governamentais implementadas e o andamento do processo de impeachment.
“Neste momento há o deslocamento de um posicionamento político mais ao centro para uma tendência mais à direita, o que significa o abandono da perspectiva do que seria uma social-democracia, comprometida em promover o desenvolvimento social. Trata-se de um programa de governo que não foi o escolhido nas urnas”, analisa Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo. O professor, que participou do debate “Brasil, e agora, para onde vamos?”, na última quinta-feira, 19-05-2016, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU, fez uma reflexão acerca da situação política do país em meio às turbulências e incertezas sobre o futuro.
Para Azevedo, a chave para compreender o contexto brasileiro de hoje é perceber o processo de politização da justiça e de criminalização da política, que se direciona a determinados atores políticos e às manifestações e movimentos sociais que têm posicionamentos dissonantes da direita. “No caso específico da Operação Lava Jato, a justiça tem atuado de forma seletiva e partidarizada a partir da divulgação de vazamentos de escutas telefônicas e trechos de delações premiadas. Um exemplo contundente é a divulgação das escutas telefônicas de conversas de Dilma com Lula, que causa uma hecatombe política que agrava o andamento do processo de impeachment. Isso tem acontecido em Curitiba, na 13ª Vara da Justiça Federal, e se confirma no Superior Tribunal Federal, que teve seus ministros escolhidos com base em barganhas políticas, e não com o intuito de reforçar a identidade com o projeto político. Há ministros isentos, mas infelizmente eles foram engolidos pelo processo de criminalização do governo e do PT”, aponta.