Edição 481 | 21 Março 2016

Aedes aegypti no Mercosul: os riscos e equívocos da estratégia química

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Leslie Chaves | Tradução Leslie Chaves

Para Medardo Ávila Vázquez, usar produtos químicos no combate ao mosquito só agrava as epidemias, pois favorece a proliferação do inseto e gera danos à saúde da população

A degradação ambiental gerada por ações humanas tem sido apontada como uma das raízes do problema da proliferação do mosquito Aedes aegypti. Vetor da Dengue, Chikungunya e do vírus da Zika, o inseto ultimamente mobiliza os esforços de pesquisadores do mundo inteiro em busca de tratamento para as pessoas infectadas, modos de imunização e controle das epidemias. Enquanto isso, os órgãos governamentais implementam ações para tentar mitigar a situação. A medida mais usada em diversos países é a aplicação de produtos químicos no ambiente com o objetivo de diminuir a infestação do inseto.

Para o médico argentino Medardo Ávila Vázquez, o uso dessas substâncias é um dos principais e mais sérios equívocos. “Fazer isso é como tratar o problema com a mesma causa dele. Estamos convencidos de que a proliferação do Aedes aegypti se deve ao uso demasiado de pesticidas, agrotóxicos e inseticidas. Quando um bairro ou uma área da cidade recebe a aplicação do fumacê, matam-se os mosquitos Aedes, mas também todo o resto da fauna, da população de insetos e outros pequenos animais que são os predadores naturais desses mosquitos. Com a pulverização de veneno fazemos com que o Aedes tenha melhores condições ecológicas para sua expansão nesse espaço”, explica, em entrevista por telefone à IHU On-Line.

Além de favorecer a proliferação e resistência do mosquito e degradar o meio ambiente, os efeitos dos venenos são graves na saúde em geral e especificamente em relação à reação do organismo às doenças vetoriais. “É provável que o uso dos produtos químicos altere a resposta imunológica, de defesa que o corpo da pessoa que está doente pode oferecer, facilitando a aparição de doenças graves. Dessa forma, continuar usando venenos delimita a capacidade dessas populações de se defenderem das doenças porque causa uma disfunção imunológica”, analisa o médico, que defende o acesso ao saneamento e a participação popular como estratégias mais eficazes para tentar controlar as epidemias.

Medardo Ávila Vázquez é médico pediatra e neonatologista , leciona na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina, onde também coordena o módulo “Determinantes Sociais da Saúde” da Cátedra de Clínica Pediátrica, junto ao Hospital Nacional de Clínicas. Também é coordenador da Red Universitaria de Ambiente y Salud - Reduas/Médicos de Pueblos Fumigados e já exerceu o cargo de Secretário da Saúde do município de Córdoba.

 

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Como está o contexto da região acerca do Mercosul quanto à proliferação das doenças transmitidas pelo mosquito vetor Aedes aegypti? Quais doenças vetoriais são mais frequentes e que país está em situação mais preocupante?

Medardo Àvila Vázquez – O mosquito Aedes aegypti está instalado de forma já definitiva na América Latina, provocando epidemias que são quase permanentes, como as que observamos no Nordeste do Brasil, que todos os anos apresenta uma quantidade grande de casos. O mesmo acontece na Colômbia. 

Em regiões de clima mais temperado, como Argentina e Uruguai, onde faz menos calor, o mosquito se prolifera por alguns meses do ano, mas todos os anos eles são encontrados. Observamos que a presença desses insetos demonstra que existem danos ao meio ambiente, desequilíbrios ecológicos na América Latina que foram provocados, sobretudo, pela ação dos seres humanos, como os desmatamentos. Isso, juntamente com as mudanças climáticas, provoca um aumento das temperaturas, fazendo com que o espaço de distribuição do mosquito seja mais amplo e chegue a áreas onde a temperatura média era muito baixa, mas hoje está mais amena.

Outra questão que nos preocupa muito é o uso de agrotóxicos pelo sistema de produção agrícola, que se observa tanto no Brasil quanto no Paraguai, no Uruguai, na Argentina e na Bolívia. Esses países têm incorporado um modelo de produção com sementes transgênicas, que todos os anos utilizam maiores quantidades de agrotóxicos. Essas substâncias são utilizadas em espaços muito extensos, são milhões de hectares onde nos últimos 20 anos aumentou muito a quantidade de produtos químicos aplicados. Por exemplo, aqui na Argentina, em 1990 eram utilizados 34 milhões de litros de agrotóxicos; 20 anos depois, em 2010, já eram usados 320 milhões de litros. Ou seja, é um aumento de quase 800% na quantidade de agrotóxicos utilizados não somente em extensão de área, mas também por unidade de superfície; isto é, em um mesmo espaço têm sido utilizados muito mais inseticidas, herbicidas e mais produtos químicos, que vão alterando o equilíbrio ecológico ao exterminar uma grande quantidade de insetos. 

A consequência é que nas cidades e nas zonas perirrurais o Aedes aegypti se prolifera em áreas onde não há predadores, não há insetos que compitam pelo mesmo espaço de sobrevivência ou que se alimentem desse mosquito, porque desapareceram da natureza. Na Argentina desapareceu uma grande quantidade de insetos e também de outros animais que se alimentavam do Aedes, pois temos um processo muito agudo de destruição da fauna, de anfíbios, como sapos e rãs do campo, que estão desaparecendo das zonas rurais em decorrência principalmente da aplicação do glifosato.  

Podemos concluir que o mosquito se proliferou, sobretudo, por causa da degradação ambiental em geral. O Aedes aegypti encontrou um nicho, um espaço para se desenvolver. A proliferação se deu de tal forma que a presença deste inseto se tornou permanente principalmente nas margens das cidades, onde estão as populações mais pobres e onde o saneamento ambiental é muito deficitário. Por esse motivo, são essas as zonas que causam mais impactos quanto a esse problema, como vemos no Brasil e também aqui na Argentina.

Em 2009, quando passamos pela primeira epidemia de Dengue na cidade de Córdoba, que tem 1 milhão e 300 mil habitantes, surgiram muitas ocorrências da doença. Quando examinamos a distribuição dos casos de Dengue no espaço urbano, vimos que se distribuíam no mesmo padrão dos casos de mortalidade infantil, isto é, das crianças que morrem antes de completar um ano de idade, que são os filhos de famílias mais pobres. Essa disposição se verificou em mais de 90% dos casos de Dengue em 2009. 


IHU On-Line – Que tipo de estratégias a Argentina (ou em geral os países da América Latina) está utilizando no enfrentamento das doenças vetoriais e do mosquito Aedes aegypti?

Medardo Ávila Vázquez – Aqui na Argentina a estratégia que tem se implementado são as mesmas que a Organização Mundial da Saúde – OMS e a Organização Pan-americana da Saúde - OPAS determinam: por um lado, incentivam que os Estados comprem grande quantidade de inseticidas e pulverizem os bairros, fazendo a população acreditar que está havendo um controle da quantidade de mosquitos adultos. Por outro lado, há uma campanha de grande difusão que acaba culpabilizando as pessoas que têm em suas casas criadouros de larvas do mosquito. 

Quanto aos químicos, na Argentina se usa a Cipermetrina , que é um inseticida do grupo das Permetrinas , o qual está entre os menos tóxicos dentro do conjunto dos inseticidas existentes, porém esse produto está proibido na Europa. Os países da Europa deixaram de aplicar a Permetrina ou a Cipermetrina com o objetivo de evitar os danos à saúde que esses químicos podem causar.

Em território argentino não se usam larvicidas e outros produtos químicos na água armazenada pela população que não tem água encanada, como se faz no Brasil. Aqui nunca tivemos essa prática e nos surpreendeu que principalmente na região Nordeste brasileira estão sendo aplicados organofosforados e Pyriproxyfen na água de beber. Trata-se de uma estratégia hegemônica estabelecida por organizações mundiais, que recebem orientações de comitês de análise dos pesticidas. Esses comitês muitas vezes estão formados por especialistas vinculados à indústria química. Percebe-se que há entre esses grupos um interesse especial em promover a venda dos inseticidas e larvicidas dessa indústria química, em detrimento da implementação de outras estratégias que podem oferecer melhores resultados no enfrentamento da Dengue e das demais doenças transmitidas pelo mosquito vetor. 

Uma dessas estratégias alternativas é incentivar a participação da população no combate a esse problema. Na experiência que tivemos em Córdoba, na epidemia de 2009, foram criadas estratégias participativas nas comunidades com o apoio da administração municipal. Em uma favela grande da cidade onde havia um foco agudo de Dengue, foi possível reorganizar o espaço público, os lixões, eliminar os lugares onde havia água acumulada, e em 15 dias desapareceram os casos de Dengue. Não foi necessário pulverizar com veneno a comunidade, mas sim melhorar o ambiente em que viviam aquelas pessoas.


IHU On-Line – O uso de larvicidas na água e venenos em fumacês nas cidades para combater o Aedes aegypti pode agravar possíveis consequências das doenças vetoriais? 

Medardo Ávila Vázquez – Sim. Há três questões principais:

Em primeiro lugar não deveriam ser usados agroquímicos para tentar diminuir a população de mosquitos. Fazer isso é como tratar o problema com a mesma causa dele. Estamos convencidos de que a proliferação do Aedes aegypti se deve ao uso demasiado de pesticidas, agrotóxicos e inseticidas. Quando um bairro ou uma área da cidade recebe a aplicação do fumacê, matam-se os mosquitos Aedes, mas também todo o resto da fauna, da população de insetos e outros pequenos animais que são os predadores naturais desses mosquitos. 

Com a pulverização de veneno fazemos com que o Aedes tenha melhores condições ecológicas para sua expansão nesse espaço. Pesquisas têm demonstrado que uma aplicação de fumacê realizada em boas condições de vento e no horário de pico da atuação do mosquito pode reduzir em cerca de 40% a população deste inseto. O problema é que dois dias depois a infestação do mosquito volta ao patamar de 100% porque a aplicação do químico é aérea, não atuando sobre as larvas. Esses são alguns dos equívocos de se utilizar o problema como remédio. 

A segunda questão é que as populações pobres que sistematicamente, durante anos e anos, estão sendo expostas a esses produtos químicos, estão tendo suas respostas imunológicas modificadas. Provavelmente isso explique porque a Dengue, que era uma doença totalmente benigna, que não oferecia perigo nem produzia casos graves, tampouco mortalidade, estando presente na América há mais de 300 anos, agora tem causado grande preocupação. 

Na era química dos anos 1950, 1960 e, sobretudo, nos anos 1980, a Dengue começa a produzir casos sérios. É provável que o uso dos produtos químicos altere a resposta imunológica, de defesa que o corpo da pessoa que está doente pode oferecer, facilitando a aparição de doenças graves. Dessa forma, continuar usando venenos delimita a capacidade dessas populações de se defenderem das doenças, porque causa uma disfunção imunológica. 

A terceira causa de agravamento é que expor a população a produtos como o Malathion, utilizado no Brasil, ou a Cipermetrina, que se usa na Argentina, entre outros utilizados em diferentes países, provoca danos inevitáveis. Em algumas pessoas o dano à saúde pode ser reparado, ou tem poucos impactos, sem manifestações clínicas, mas para outros essa exposição aos químicos pode trazer consequências mais graves, como nos casos de contato com organofosforados que provocaram paralisias, impedindo as pessoas de se mexer por 20 ou 30 minutos. Também há relatos de que a exposição a esses produtos químicos desencadeiam convulsões e doenças hematológicas como a Púrpura , a qual apresenta desequilíbrios imunológicos que podem ser muito perigosos e foi observada em crianças que costumavam correr atrás dos veículos que aplicavam os fumacês. 

A norma da OMS recomenda que quando está sendo aplicado o fumacê nos bairros, que as janelas das casas sejam abertas, mas as crianças e idosos sejam retirados das casas e protegidos. Obviamente que isso não acontece e, além dos mosquitos, são pulverizadas principalmente as crianças, junto com pessoas com doenças crônicas, como asma, problemas pulmonares e imunológicos. 

É temerário e há muitas questões que vão de encontro à aplicação massiva de fumacê nos bairros para controlar a população de Aedes. O uso dessa técnica pode se justificar em alguns casos específicos, como para evitar o início de uma epidemia em uma determinada localidade, onde se ataca o principal foco, aplicando produtos no entorno da casa onde vivem pessoas infectadas por alguma das doenças transmitidas pelo vetor, diminuindo o poder de proliferação da doença naquela área. Nesse caso pode ser útil, mas a pulverização massiva e generalizada como forma preventiva não tem nenhuma racionalidade, mas é o que acontece em algumas áreas do Uruguai e da Argentina onde não temos uma quantidade de casos tão significativa e mesmo assim corremos o risco da exposição aos venenos.

 

IHU On-Line – Quanto aos casos de microcefalia, qual país tem apresentado maior incidência? A que razão o senhor atribui a maior quantidade de casos nessa região?

Medardo Ávila Vázquez – As notícias oficiais apontam o Brasil e a Colômbia como os países que apresentam as maiores quantidades de casos de infecção pelo vírus da Zika. Entretanto, diferente do Brasil, na Colômbia cerca de 2.500 mulheres grávidas foram infectadas pelo vírus da Zika, mas nenhuma teve filhos com microcefalia. 

Ainda não há certezas, mas pode ser que o vírus da Zika cause microcefalia. É provável porque o vírus da Zika tem um modelo biológico semelhante ao de outras doenças como o Citomegalovírus , o vírus da Rubéola  e a Toxoplasmose , que afetam o cérebro dos embriões em seus primeiros meses de desenvolvimento na gestação. Essas doenças infectam e atrofiam os tecidos cerebrais da criança, fazendo com que não se desenvolvam, provocando uma diminuição no tamanho do cérebro e do crânio, a microcefalia. 

É muito provável que essas doenças sirvam de modelo e caminho para análises do vírus da Zika. Mas eu gostaria de alertar que os dados publicados sobre epidemias de Zika na Oceania não mostravam casos de microcefalia. Entretanto, há algumas semanas órgãos oficiais de saúde apontaram na Polinésia a ocorrência de alguns casos de microcefalia e más-formações, que não haviam sido reportados inicialmente. 

O que nos preocupa, junto com a aparição dos casos de microcefalia, principalmente no Brasil, é que desde 2014 se começou a utilizar o Pyriproxyfen, que atua sobre o desenvolvimento geral dos mosquitos, afetando os estágios da larva e da pupa e então do mosquito adulto. No entanto, os neurorreceptores que estão presentes em tecidos embrionários e são vinculados à vitamina A também estão presentes em humanos. 

Quando esses neurorreceptores são afetados nas primeiras semanas da gestação, seja nos seres humanos, seja nos ratos, ou em outro vertebrado, gera microcefalia, isto é, graves danos ao desenvolvimento cerebral. Assim, percebemos que o Pyriproxyfen tem potencialidade de causar microcefalia. De acordo com os dados publicados no Brasil, 98% dos casos notificados de microcefalia são de crianças que nasceram em municípios do nordeste do país, onde o Pyriproxyfen é utilizado com mais intensidade. 

Há aí um vínculo muito forte que pode ser agravado se, diante da hipótese de que o vírus da Zika causa microcefalia, for aplicado o fumacê em todo o Mercosul. Em algumas regiões de Montevidéu, o Ministro da Saúde, na primeira semana de fevereiro de 2016, autorizou a pulverização com aviões que são utilizados para aplicar agrotóxicos em lavouras. Na Argentina há uma força aérea de 900 aviões que estão à disposição para pulverizar todas as cidades do país e ainda do Brasil, Uruguai e Paraguai. Tudo isso por causa da hipótese da relação entre o vírus da Zika e a microcefalia, mesmo que na Colômbia, apesar da epidemia do vírus, não tenha havido nenhum nascimento de criança com microcefalia.

A questão é que há interesses comerciais, políticos, das empresas que aplicam as pulverizações, as quais estão gerando um pouco de interferência nas análises que buscam provar que a utilização desta técnica, principalmente aplicada por aviões agrícolas, é útil e necessária, quando na verdade já se sabe que provocou e continua provocando graves danos à saúde das populações rurais, tanto na Argentina quanto no Brasil.

 

IHU On-Line – Estão sendo realizadas mais pesquisas sobre os possíveis efeitos da exposição ao Pyriproxyfen para a saúde humana?

Medardo Ávila Vázquez – Certamente há associações de pesquisadores de laboratórios que trabalham com modelos experimentais, com testes em vertebrados, anfíbios e outros animais, em relação ao Pyriproxyfen. Mas os primeiros resultados podem demorar, pelo menos, de um a dois anos para serem publicados. Outros estudos epidemiológicos a respeito das populações humanas também estão sendo realizados cruzando dados sobre a exposição ao Pyriproxyfen e a infecção pelo vírus da Zika com os casos de microcefalia. Estão sendo analisadas as diferenças das taxas relativas de incidência da microcefalia a partir dessas duas variáveis. Essas análises também levarão cerca de um ou dois anos para gerarem os primeiros resultados, porque nunca se usou o Pyriproxyfen de forma tão massiva, atingindo tantas pessoas. 

Na Argentina essa substância foi aprovada para uso em cultivo de frutas e também para controlar a quantidade de moscas nas granjas avícolas, mas as recomendações do fabricante solicitam que se evite de todo modo a contaminação da água com o produto. Por outro lado, no Brasil milhões de pessoas estão bebendo todos os dias água com Pyriproxyfen. Isso é preocupante, mesmo que sejam pequenas doses, porque elas são constantes. 

A OMS autorizou o uso do Pyriproxyfen, afirmando que não há consequências, como más-formações em fetos, se forem aplicadas pequenas doses. Entretanto, quando essa dose mínima foi dobrada em testes em ratos, houve aspectos tóxicos. Quando uma grávida nas primeiras semanas de gestação toma água com esse produto, que se sabe que tem potencialidade para atuar sobre as camadas epiteliais do disco embrionário, é neste momento em que pode se alterar o desenvolvimento das células cerebrais primitivas do embrião humano. 

Esse é um processo muito sofisticado que envolve receptores que ativam os Genes Hox . Esse grupo de genes é ativado por receptores que são estimulados pelo ácido retinoico ou, conforme nós suspeitamos, também pelo Pyriproxyfen. Os Genes Hox, quando ativados pelo Pyriproxyfen, determinam que os grupos celulares que estão na parte superior do embrião afetem o cérebro da criança. Tal mecanismo pode ser alterado pela presença de mínimas quantidades de produto tóxico que, entretanto, trazem grandes consequências. É provavelmente o que tem acontecido no Brasil.           

 

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Medardo Ávila Vázquez – As doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti são doenças da pobreza. Isso se comprova claramente. Nós temos estudado e lido muitas análises de epidemias em diferentes partes do mundo. Na Argentina, nas epidemias de Dengue e na época do ápice de proliferação da Febre Amarela, foram mais afetadas as zonas mais pobres, onde não havia água corrente, nem esgoto canalizado e os dejetos corriam pelas ruas, que acumulavam lixo, pois não havia coleta. 

Portanto, esses contextos demonstram que o fator principal que determina o aparecimento das doenças é a pobreza. O problema não é exatamente o mosquito, nem a Dengue, nem o vírus da Zika. Nós acreditamos que, mais do que focar no Aedes aegypti, é necessário colocar a atenção nas condições de vida da população. Principalmente das populações pobres que vivem em ambientes mais precários em geral que as classes médias e altas. As doenças vetoriais avançam por causa da degradação ambiental, mas se expressam com mais intensidade nas favelas e bairros carentes.

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