Edição 475 | 19 Outubro 2015

Johann Christian Friedrich Hölderlin

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Redação

Johann Christian Friedrich Hölderlin (Lauffen am Neckar, 20 de março de 1770 — Tübingen, 7 de junho de 1843), poeta lírico e romancista alemão. Conseguiu sintetizar na sua obra o espírito da Grécia antiga, os pontos de vista românticos sobre a natureza e uma forma não ortodoxa de cristianismo, alinhando-se hoje entre os maiores poetas germânicos.
Friedrich Hölderlin 1792 por Franz Karl Hiemer

Vida

Nasceu na cidade de Lauffen, às margens do rio Neckar. Era filho de uma enfermeira e de um pastor, que veio a falecer quando Hölderlin tinha apenas dois anos. Em 1774, sua mãe casou-se com o prefeito de Nürtingen, que também viria a falecer cinco anos mais tarde. A mãe de Hölderlin, Johanna Christiana Hölderlin, era bastante religiosa e enviou-o à escola clássica de Nürtingen e a escolas protestantes.

Em 1788 iniciou seus estudos em Teologia na Universidade de Tübingen, como bolsista. Lá conheceu Hegel e Schelling, que mais tarde se tornariam seus amigos. Devido aos recursos limitados da família e de sua recusa em seguir uma carreira clerical, Hölderlin trabalhou como tutor para crianças de famílias ricas.

Em 1794, frequentou a Universidade de Jena, a fim de ouvir as palestras de Fichte. Lá ele conheceu Johann Wolfgang von Goethe, Friedrich Schiller, Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Von Hardenberg (Novalis) e Isaac Sinclair. Em junho de 1795, abandonou a cidade universitária e retornou a Nürtingen.

Em 1796 foi professor particular de Jacó Gontard, um banqueiro de Frankfurt, cuja esposa, Susette, viria a ser seu grande amor. Susette Gontard serviu de inspiração para a composição de Diotima, protagonista de seu romance epistolar Hipérion.

Nessa época, Hölderlin se encontrava em uma situação financeira difícil (mesmo tendo alguns de seus poemas publicados ocasionalmente com a ajuda do seu patrono, Schiller). Devido a isso, ele dependia financeiramente do apoio de sua mãe. Nessa altura, Hölderlin já sofria de uma doença chamada hipocondria grave, condição que pioraria depois de seu último encontro com Susette Gontard, em 1800.

Quando, em 1802, recebeu a notícia da morte de Susette, Hölderlin voltou para a casa da mãe em Nürtingen e dedicou-se ao trabalho das traduções de Sófocles e Píndaro.

Em 1805 sua insanidade foi diagnosticada. Entretanto, essa caracterização de seu estado mental como loucura é até hoje vista de forma incerta.

Então, em 1807 foi deixado aos cuidados de Ernst Zimmers, um carpinteiro que vivia em Tübingen e grande admirador da obra Hipérion. Sob o nome de "Scardanelli", Hölderlin escreveu ainda poemas, que contavam com grande estranhamento formal. Mesmo contando com alguns períodos de lucidez, não retornou mais ao convívio social. Durante os 36 anos seguintes permaneceria em um quarto em uma torre, às margens do rio Neckar, até 1843, ano de sua morte.

Produção Literária

Hölderlin começou como um sucessor de Schiller e do Classicismo Suábio. Seus primeiros poemas são geralmente hinos que versam acerca de objetos abstratos. Mais tarde trabalhou com as formas antigas da ode e da elegia. Em particular, as odes são marcadas pelo domínio completo de um formulário métrico difícil. Dos grandes poemas de sua fase madura, alguns são escritos em forma de elegias, outros contemplam o verso livre. Ocasionalmente é possível encontrar outras formas, como o hino em hexâmetro; um exemplo é a obra chamada O Arquipélago.

A compreensão de Hölderlin acerca da cultura grega antiga, tal como expresso em suas cartas a Casimir Ulrich Boehlendorff e de suas observações sobre a tradução tardia de Sófocles, é diferente da imagem ideal de muitos de seus contemporâneos, já que Hölderlin enfatiza as características anticlássicas da cultura grega. Já no início de seu romance epistolar Hipérion, Hölderlin representa a sua ideia de destino trágico, como ele a concebia, ou seja, a partir de sua percepção da cultura grega clássica.

A poesia de Hölderlin, que hoje é considerada de grande destaque dentro dos estudos germânicos, permaneceu desconhecida até a metade do século XIX. Ele não foi reconhecido entre os escritores de sua época, permanecendo desconhecido mesmo após sua morte. Para os seus contemporâneos, Hölderlin era um jovem romântico e melancólico, mero imitador de Schiller. O grande reconhecimento veio mais tarde.

Somente no século XX, as duas peças de Sófocles, Édipo Rei e Antígona, foram celebradas como um modelo de tradução poética, que deixa visíveis as singularidades do texto original. Um bom exemplo da excelente recepção da obra de Hölderlin na modernidade é a adaptação de Bertolt Brecht da Antígona de Sófocles, baseada na tradução de Hölderlin. Convém salientar que, apesar de ter sido praticamente incompreendido durante todo um século, leitores ilustres como Friedrich Nietzsche e Stefan George, entre outros, acolheram e fizeram reverberar sua poesia. O que fez com que Hölderlin não fosse reconhecido foi o fato de que sua poética não estava em consonância com o que vinha sendo produzido na época. Devido a isso, Hölderlin encontrou o desdém até mesmo de pessoas próximas como Schiller, Hegel e Schelling. E mesmo tendo sido colega de Hegel e Schelling, em um educandário na Suábia, e colega de Schiller, Hölderlin não encontrou a notoriedade nem o reconhecimento destes.

A incompreensão do público e da crítica levou à estabilização do entendimento de sua obra como a de um admirador dos gregos que não atingiu a serenidade de Goethe e Schiller, a de um romântico juvenil e de um poeta patriótico. Hölderlin, poeta do sagrado, descobrindo na Grécia antiga o lado dionisíaco, que foi ignorado por Goethe e exaltado por Nietzsche, é hoje de grande expressividade na poesia alemã, alcançando notoriedade mundial.

Fonte: http://bit.ly/1MrTxD3.

 

Obras

1797 - 1800 - A Morte de Empédocles (fragmentos)

1797 - 1799 - Hipérion ou O Eremita na Grécia

1804 - Tragédias de Sófocles

1826 - Poemas de Friedrich Hölderlin (editado por Ludwig Uhland e Gustav Schwab)

 

Referências bibliográficas

HÖLDERLIN, Friedrich. Poemas. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

_____. Elegias. Trad. Maria Teresa Dias Furtado. Lisboa: Assírio e Alvim, 1992.

_____. A Morte de Empédocles. Tradução e introdução de Marise Moassab Curiori. São Paulo: Iluminuras, 2008.

_____. Reflexões. Trad. Márcia de Sá Cavalcante e Antonio Abranches. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

_____. Hölderlin e outros estudos. In: QUINTELA, Paulo. Obras Completas de Paulo Quintela. Volumes II, III e IV. Lisboa: Calouste Guilbekian. 1999

________. Observações sobre Édipo e Antígona. In: ROSENFIELD, K. Antígona – de Sófocles a Hölderlin. Porto Alegre: L&PM. 2000.

_____. Hipérion ou o eremita na Grécia. São Paulo: Nova Alexandria, 2003.

BLANCHOT, M. A palavra “sagrada” de Hölderlin. In:_____. A parte do Fogo. Trad. Ana Maria Scherer. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1997.

_____. O itinerário de Hölderlin. In:_____. O espaço literário. Trad. Álvaro Cabral.

Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1987.

CAMPOS, H. A palavra vermelha de Hölderlin. In:_____. A arte no horizonte do provável. São Paulo: Perspectiva, 1977.

CAVALCANTE, M. Introdução: Pelos caminhos do coração. In: Hölderlin. Reflexões. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

DASTUR, F. Hölderlin: Tragédia e Modernidade. In: Reflexões. Trad. Márcia de Sá Cavalcante e Antonio Abranches. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

_____. O teatro de Hölderlin. In: Folhetim do Pequeno Gesto. Rio de janeiro, nº4,

1999.

MACHADO, R. Hölderlin e o afastamento do divino. In:_____. O nascimento do trágico: de Schiller a Nietzsche. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

MAYOS, G. Hölderlin, um projeto emancipatório fracassado, In Convivium, Barcelona, Núm. 3, 1992 (traduzido por Gabriel Lago de Sousa Barroso).

ROSENFIELD, K. Rumo a uma linguagem inacabada: a propósito da ode “coragem de poeta” de Hölderlin. In. _____. A linguagem Liberada. Coleção Debates. São Paulo: Editora Perspectiva, 1991.

_____. Antígona - de Sófocles a Hölderlin. Porto Alegre: L&PM, 2000.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição