Edição 465 | 18 Mai 2015

Avanços simpáticos, mas não suficientes

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Patricia Fachin | Tradução: Gabriel Ferreira

Christine Schenk, teóloga e diretora emérita do grupo FutureChurch analisa o pontificado de Francisco a partir das questões de gênero.

O Papa tem dito “algumas boas coisas” sobre a presença das mulheres na Igreja, e demonstrado uma “certa simpatia” em relação às questões LGBT. Contudo, apesar das “afirmações informais”, o pontífice “tem tomado poucas atitudes para tornar a presença das mulheres na Igreja uma realidade”, do mesmo modo que sua “simpatia não ajuda muito quando a mensagem geral é que uma pessoa homossexual é ‘intrinsecamente desordenada’”, critica Christine Schenk, em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. 

Na entrevista a seguir, Christine Schenk analisa o pontificado de Francisco à luz das questões de gênero, especialmente a partir do papel e da participação das mulheres na Igreja. Para ela, a justificação de que a “não-ordenação de mulheres existe porque Jesus quis dessa forma, na verdade difama Jesus que não ordenou ninguém, mas incluiu tanto mulheres e homens em seu discipulado da Galileia”. A expectativa em relação a mudanças neste aspecto, entretanto, são distantes. “Seria ótimo se o Papa Francisco reabrisse a discussão sobre a ordenação sacerdotal de mulheres, mas eu não espero que isso aconteça. Ao invés disso, os líderes da Igreja continuarão a discursar sobre a inclusão das mulheres em todos os papéis que não requerem ordenação. Isso é uma boa coisa, mas apenas se afasta da verdadeira questão, especialmente quando há tantas mulheres exercendo ministérios e servindo como pastoras escolhidas, mas às quais não se permite que preguem ou celebrem a Eucaristia”, frisa.

Irmã norte-americana, Christine também comenta o recente desfecho do caso envolvendo as irmãs da LCWR, os bispos norte-americanos e a Santa Sé. Na avaliação dela, o episódio foi bem conduzido, “graças ao Papa Francisco”. Outro tema que despertou “grandes expectativas” nesses dois primeiros anos do pontificado de Francisco, foi a participação dos leigos no Sínodo sobre a Família. Contudo, enfatiza, “este ano as questões preparatórias parecem muito mais ‘discurso de Igreja’ e são menos acessíveis”. Apesar disso, informa, “o escritório do Sínodo dos Bispos tem sido acolhedor no que diz respeito a encontrar-se e aceitar contribuições de diversos grupos. Isso não teria acontecido em Papados anteriores”. Christine Schenk é mestre em Teologia, e co-fundadora e diretora Executiva Emérita do movimento FutureChurch. 

Confira a entrevista.  

 

IHU On-Line – Quais são as características do documento “O Sensus Fidei na vida da Igreja”,  publicado no ano passado pela Comissão Teológica Internacional? Por que o considera “surpreendente”?

Christine Schenk - O documento Sensus Fidei reconhece formalmente o importante papel que os católicos exercem no desenvolvimento dos ensinamentos da Igreja, tanto hoje como durante toda a história, e afirma a voz interior da consciência como o árbitro final. Afirma também que essa voz interior preservou por diversas vezes os ensinamentos da Igreja, tal como no século IV d. C. quanto à controvérsia ariana, quando muitos bispos negaram a divindade de Cristo, enquanto os fiéis comuns nunca hesitaram em afirmá-la.

 

IHU On-Line - Como ponto positivo do documento “O Sensus Fidei na vida da Igreja”, a senhora menciona que os fiéis poderão discernir se um ensino ou prática em particular que encontram na Igreja está ou não coerente com a verdadeira fé pela qual vivem na comunhão da Igreja. O que isso significa? 

Christine Schenk - Note-se que é o próprio Sensus Fidei que afirma o discernimento dos fiéis, não eu. Por exemplo, o item 60 diz:

“O sensos fidei fidelis torna os fiéis aptos a 1) discernir se um ensinamento particular ou prática que eles encontram na Igreja é ou não coerente com a verdadeira fé pela qual eles vivem em comunhão com a Igreja; 2) distinguir o que é essencial e o que é secundário naquilo que é pregado; e 3) determinar e colocar em prática o testemunho de Jesus Cristo que eles devem dar no contexto histórico e cultural particular no qual vivem” (60).

Essa declaração afirma a realidade de que os católicos batizados são chamados à maturidade espiritual em Cristo. Historicamente, muitos de nós pararam de crescer na fé quando deixamos as aulas de catequese de primeira comunhão ou de Crisma. Tornamo-nos acostumados a ceder as tomadas de decisão àquilo que qualquer “Padre” diz, mesmo quando isso vai contra o que nós sabemos ser verdade em nossos corações e mentes. O ensinamento tradicional sobre o controle de natalidade é um bom exemplo. Poucos católicos seguem ou acreditam naquele ensinamento porque sua própria fé e experiência de vida têm lhes mostrado uma verdade diferente. Uma fé madura inclui digladiar-se com algumas questões difíceis para as quais frequentemente não há uma resposta habitual ou pronta. Uma fé madura reconhece que a crença na divindade de Cristo é mais central ao catolicismo do que a crença no ensinamento da Igreja acerca do controle de natalidade. Uma fé madura não é paralisada pelas complexidades da cultura do século XXI, mas encontra formas criativas de lutar para salvar o mistério operante de Jesus Cristo no interior dessa cultura... um mistério amoroso e dinâmico que é tão antigo quanto sempre novo.

 

IHU-On-Line - Se os fiéis podem ter autonomia em relação ao que consideram coerente entre sua vivência de fé e as posições da Igreja, qual passa a ser o papel da Igreja nessa relação?

Christine Schenk - É importante perceber que todos e cada um de nós é, de fato, “a Igreja”. Os fiéis leigos não estão separados daqueles membros hierárquicos que tomam as decisões. Então, quando você fala sobre “o papel da Igreja nessa relação”, parece-me que você está separando a Igreja hierárquica da Igreja “Povo de Deus” quanto, na realidade, nós somos todos partes da mesma Igreja e temos todos importantes papéis a desempenhar a fim de determinar como melhor viver a Boa Nova da prática libertadora de Jesus, o Evangelho no século XXI, hoje!

Se nossa experiência vivencial, no poder do Espírito, coloca-nos repetidamente em desacordo com o ensinamento “oficial” da Igreja, então isso precisa ser trazido à atenção da nossa liderança, uma vez que aquela pequena voz pode bem ser uma condução do Espírito para toda a Igreja, não apenas para nossa situação individual. Claro que isso deve ser cuidadosamente discernido com outros fiéis através da Igreja. Os predecessores do Papa Francisco desencorajaram esses questionamentos, discernimentos e discussões honestos. É saudável para toda a Igreja que o Papa Francisco esteja agora encorajando uma discussão aberta ao menos sobre algumas questões que se apresentam como problemáticas à consciência, tais como a prática pastoral que nega a plena participação dos católicos divorciados e recasados na Eucaristia. 

Agir de acordo com a consciência

O Catecismo da Igreja Católica ensina que: “O homem tem o direito de agir em consciência e em liberdade a fim de tomar pessoalmente decisões morais. ‘O homem não deve ser forçado a agir contra a própria consciência. Nem deve também ser impedido de atuar segundo ela, sobretudo em matéria religiosa’”. Claro está que o ensinamento católico também enfatiza que uma consciência individual não existe no vácuo: “A consciência deve ser informada e o juízo moral esclarecido. Uma consciência bem formada é reta e verídica; formula os seus juízos segundo a razão, em conformidade com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador”.

Assim, se alguém, cuja consciência é educada e cuidadosamente formada, encontra-se em conflito com ensinamentos secundários e não-essenciais da Igreja, como se deve agir? Há alguns excelentes critérios, desenvolvidos pelos bispos e teólogos americanos, disponíveis para nos guiar. Em 1968, em resposta a uma ampla rejeição pública à encíclica Humanae Vitae, que bania a contracepção, a carta pastoral dos bispos americanos “Human Life in Our Day” (A vida humana em nossos dias), propôs três normas de dissensão: “A expressão de dissensão teológica com respeito ao magistério está correta somente se as razões são sérias e bem-fundadas, se a maneira de diferir não questiona ou impugna a autoridade magisterial da Igreja e é tal que não cause escândalo”.

Aqui está um link para o artigo que escrevi que lista algumas excelentes orientações desenvolvidas por teólogos para mediar conflitos problemáticos entre a consciência e os ensinamentos não-essenciais da Igreja: http://ncronline.org/blogs/simply-spirit/conscience-sensus-fidei-and-sisters 

Note-se estas afirmações introdutórias importantes:

“A discordância começa como um ato de consciência e continua como parte de uma vida comprometida na Igreja. Não é habitual, mas erige-se em questões particulares a partir de nossa preocupação para com a verdade. Ela requer certa disciplina a fim de ser bem conduzida. O valor que deve nos guiar em todos os casos deve ser o bem comum. A divergência das autoridades institucionais da Igreja deve sempre ser para a Igreja, para o crescimento presente e futuro de toda a comunidade em verdade e amor. A divergência responsável ocorre no contexto de uma aceitação profunda e duradoura do Evangelho de Jesus Cristo e da tradição da Igreja que o interpreta”.

 

IHU On-Line - A senhora já declarou que a doutrina atual da Igreja sobre o papel das mulheres, sobre os direitos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros e sobre o controle de natalidade são exemplos óbvios de decisões tomadas sem consulta aos fiéis. Com o Papa Francisco tem abordado essas questões em seu pontificado?

Christine Schenk - O Papa tem dito algumas boas coisas sobre uma “presença mais incisiva” das mulheres na Igreja, mas tem tomado poucas atitudes para tornar essa presença uma realidade. Dito isso, noto que nos últimos três meses houve quatro conferências diferentes sobre o papel das mulheres  (patrocinadas por grupos independentes e por entidades do Vaticano, tal como o Pontifício Conselho para a Cultura. O fato de que tais eventos estão ocorrendo no Vaticano pode indicar algum pequeno progresso.

No que diz respeito às questões LGBT, as afirmações informais do Papa mostram certa simpatia de sua parte, mas simpatia não ajuda muito quando a mensagem geral é que uma pessoa homossexual é “intrinsecamente desordenada”. A Igreja institucional precisa aceitar e desenvolver o seu ensinamento sobre a Lei Natural. É um fato aceito cientificamente que a homossexualidade é uma variação que ocorre naturalmente na espécie humana. É um presente a ser celebrado, e não rejeitado. Nossos bispos e aqueles da hierarquia que têm o poder de tomar as decisões precisam escutar a experiência de fé dos católicos LGBT. Em minha opinião, membros de comunidades gays, como a Dignity e a New Ways Ministries  têm mostrado repetidas vezes que eles estão entre os mais fiéis e amorosos cristãos entre nós. A fé das pessoas gays irá, por fim, auxiliar para que a instituição mude seu ensinamento. Nós devemos agradecer a Deus de joelhos, todas as noites, pela fidelidade e pelo presente que são nossos irmãos e irmãs gays.

O Papa não tem falado muito sobre controle de natalidade, com exceção de seu discurso nas Filipinas e de sua infeliz declaração de improviso dizendo que as pessoas não deveriam “se reproduzir como coelhos”.

 

IHU On-Line - Como avalia os encontros que o Papa tem feito com representantes da comunidade LGBT ? O que esses encontros representam para a relação entre a Igreja e a comunidade LGBT?

Christine Schenk - Eu desconheço qualquer encontro oficial entre o Papa e organizações LGBT. Sei que ele se encontrou individualmente com transgêneros e prisioneiros gays em uma visita pastoral. Embora isso seja algo a ser bem recebido, até que ele faça mudanças nas políticas da Igreja, os gays irão permanecer como cidadãos de segunda-classe e desrespeitados na Igreja institucional. E, por falar nisso, as pessoas LGBT também são a Igreja, na medida em que todos são o Povo de Deus).

 

IHU On-Line - Como interpreta os discursos do Papa Francisco, nos quais ele chama atenção para a “colonização ideológica das questões de gênero”?

Christine Schenk - Eu fico um pouco confusa com o termo – que penso foi usado pelo Papa nas Filipinas, em um discurso que procurou nuançar a admoestação da Humanae Vitae para uma abertura de vida com o reconhecimento de que há “casos particulares” nos quais a proibição da contracepção pode não se aplicar. É claro que os bispos filipinos se opuseram vigorosamente à nova lei do governo permitindo acesso à métodos contraceptivos. Novamente, essa é uma daquelas decisões nas quais devem estar envolvidas as pessoas que estão mais em foco – os casais casados. 

Para mim, é inconcebível que os bispos estejam tomando decisões sem ter de aceitar as consequências – que em muitos casos envolvem muitas crianças e muito poucos recursos para sustentá-las. Parece um caso clássico de culpar as vítimas sob a veste de termos sociológicos sofisticados como “colonização ideológica”. Ninguém está forçando ninguém a usar métodos de controle de natalidade; assim, não entendo isso. Dito isso, pode haver abusos dos quais eu não estou ciente e preciso admitir a possibilidade da minha própria cegueira cultural, uma vez que eu sou de um país de primeiro mundo tristemente “colonizador”, cujo governo não ousaria forçar a contracepção (ou o casamento gay) a ninguém sem seu consentimento. 

Meu ponto principal é que os casais católicos filipinos deveriam ter sido os principais tomadores de decisão acerca da contracepção, não bispos filipinos, homens e celibatários.

 

IHU On-Line - Que mudanças espera da Igreja e do pontificado de Francisco em relação a esses temas?

Christine Schenk - Eu espero que o Papa designe mais mulheres para posições superiores da infraestrutura do Vaticano. Suas posições acerca do salário igualitário para mulheres etc, teriam muito mais credibilidade, entretanto, se ele inaugurasse a conversação sobre ordenação de mulheres para o diaconato permanente. É provavelmente esperar demais que ele reabra a discussão sobre ordenação de mulheres como sacerdotes, mas enquanto as decisões substantivas permanecerem nas mãos dos sacerdotes ordenados, as mulheres irão sempre, e em todos os lugares, ser segunda classe e sem voz de decisão na Igreja. A menos, é claro, que haja um movimento para mudar o Código Canônico para que o poder de decisão se embase no Batismo, ao invés de repousar conceitualmente na ordenação. Isso simultaneamente forneceria um caminho para as mulheres, e, de fato, para todos os fiéis leigos, para terem direito à voz decisiva. 

Em última instância, isso também levaria a um ministério balanceado em relação aos gêneros, uma vez que frequentes pesquisas (tanto nos EUA quanto internacionalmente) têm mostrado que uma maioria de católicos apoia a existência de sacerdotes mulheres e casados. Eu duvido que alguma dessas coisas irá ocorrer no pontificado de Francisco, mas sementes podem ser plantadas para o futuro.

 

IHU On-Line - Por que se introduziu a discussão sobre a igualdade de gênero dentro da Igreja? Que mudanças espera nessa área?

Christine Schenk - Essa discussão é inevitável no contexto do século XXI, no qual as mulheres, em muitos países, são chefes de estado, diretoras de corporações internacionais e esperam ter as mesmas oportunidades que os homens. Juntamente com as nações árabes, a Igreja Católica pratica apartheid de gênero. Declarações conciliatória vindas de Roma nunca podem mitigar essa verdade desconfortável até que homens e mulheres participem igualmente nos ministérios e nas tomadas de decisão da Igreja. Dizer que a não-ordenação de mulheres existe porque Jesus quis dessa forma, na verdade difama Jesus que não ordenou ninguém, mas incluiu tanto mulheres e homens em seu discipulado da Galileia. A prática atual da Igreja manifesta uma lastimável ignorância acerca dos estudos bíblicos contemporâneos, bem como as pesquisas históricas sobre Jesus e, francamente, é completamente constrangedora. Seria ótimo se o Papa Francisco reabrisse a discussão sobre a ordenação sacerdotal de mulheres, mas eu não espero que isso aconteça. Ao invés disso, os líderes da Igreja continuarão a discursar sobre a inclusão das mulheres em todos os papéis que não requerem ordenação. Isso é uma boa coisa, mas apenas se afasta da verdadeira questão, especialmente quando há tantas mulheres exercendo ministérios e servindo como pastoras escolhidas, mas às quais não se permite que preguem ou celebrem a Eucaristia. 

Dito isso, o Papa e os bispos que decidem poderiam ganhar novamente certa credibilidade quando falam sobre “a questão das mulheres” restaurando, ao menos, a antiga tradição de diaconisas da nossa Igreja. Isso poria fim ao silenciamento das mulheres católicas no púlpito, uma vez que aos diáconos é permitido pregar na missa. Tal como é hoje, as mulheres podem ensinar Homilética em nossos seminários, mas estão proibidas de pregar, elas mesmas, na missa. Quão louco é isso?

A questão das diaconisas está ainda sobre a mesa da Congregação para a Doutrina da Fé. Infelizmente, o atual prefeito dessa Congregação, o Cardeal Gerhard Müller, é conhecido por se opor a essa ideia. Assim, eu duvido muito que isso irá acontecer enquanto ele estiver no comando.

No que diz respeito ao mundo anglófono, o Papa e os bispos poderiam e deveriam restaurar o lecionário de 1998, aprovado por todas as conferências episcopais anglófonas no mundo, apenas para ser barrado pelos clérigos em Roma, que o substituíram por uma nova e desajeitada tradução de 2010. A linguagem da tradução de 1998 é muito mais acessível, tanto para homens quanto para mulheres. Veja estes links: http://www.thetablet.co.uk/blogs/1/603/the-new-missal-has-failed e http://www.thetablet.co.uk/letters/8/4883/open-letter-to-english-speaking-bishops.

 

IHU On-Line - Como analisa o recente desfecho do caso envolvendo as irmãs da LCWR , os bispos norte-americanos e a Santa Sé, nos EUA?

Christine Schenk - Esse foi, definitivamente, um caso em que ambos ganharam; tanto as irmãs e o Papa Francisco herdaram um grave desvio de justiça e tiveram sucesso em dirimir uma situação escandalosa. Certos bispos americanos que começaram essa coisa grotesca foram desacreditados e não mais estão em altas posições na Igreja, graças ao Papa Francisco. Deve-se notar, no entanto, que o Papa Bento XVI indicou o atual chefe da Congregação para a Vida Religiosa, Cardeal Braz de Aviz. Portanto, o Vaticano percebeu que ele havia sido gravemente malconduzido por teimosos prelados americanos mesmo antes de Francisco tornar-se Papa. No lado positivo, para nós, irmãs americanas, nosso trabalho e modo de viver contemporaneamente a vida religiosa, tem sido confirmado não apenas por dezenas de milhares de católicos comuns, que saíram em nossa defesa, mas agora também pelo próprio Vaticano. Irmãs têm agora um perfil público mais respeitado, assim como gozam de uma visão muito positiva por parte dos cidadãos americanos. Isso está nos auxiliando a atrair novos membros e fornecer um grande impulso para nossos ministérios dirigidos aos marginalizados.

Aqui está um link para um trailer de um filme recentemente lançado sobre as irmãs americanas e suas lutas contra a difamação por parte de certos bispos católicos (Spoiler: eu sou uma delas): http://radicalgracefilm.com

 

IHU On-Line - A senhora também chama atenção para o papel a ser desempenhado pelos leigos no desenvolvimento do ensino moral da Igreja. Que atenção Francisco tem dado a essa discussão em seu pontificado? Ainda nesse sentido, como avalia a participação dos leigos no Sínodo para a Família ?

Christine Schenk - Eu tinha grandes expectativas pela participação dos leigos no Sínodo sobre a Família quando o Vaticano afirmou, ano passado, que aquelas questões preparatórias para a primeira sessão do Sínodo deveriam ser compartilhadas tão amplamente quanto possível. Infelizmente, este ano as questões preparatórias parecem muito mais “discurso de Igreja” e são menos acessíveis. No entanto, muitos grupos de leigos, especificamente o FutureChurch, estão investindo pesadamente em levar as visões dos católicos comuns aos membros do Sínodo: http://ourcatholicfamily.org/listening

Se o os padres sinodais vão ou não prestar atenção é, obviamente, outra questão. Ainda assim, sei que o escritório do Sínodo dos Bispos tem sido acolhedor no que diz respeito a encontrar-se e aceitar contribuições de diversos grupos. Isso não teria acontecido em Papados anteriores.

Seria incrível se o Sínodo sobre a Família tivesse “especialistas” que fossem também leigos, e recebesse contribuições de grupos de fora de sua zona de conforto. Penso especialmente em representantes de grupos LGBT e a comunidade reformista internacional da Igreja. Não espero, no entanto, que isso aconteça, mas seria bastante saudável para a Igreja se assim fosse.

 

IHU On-Line - O que a senhora compreende por “reformas na Igreja”? Como esse tema das reformas tem aparecido nos discursos de Francisco?

Christine Schenk - Penso que para Francisco “reforma” signifique, predominantemente, reforma das políticas financeiras do Vaticano, reforma da Cúria e uma certa descentralização das decisões que já começou. Essa já é uma agenda enorme em si! O convite direto de Francisco, para as conferências episcopais ao redor do mundo, para que mandem propostas sobre padres casados é um exemplo muito importante, especialmente à luz do encolhimento do número de padres no mundo todo. O bispo brasileiro Erwin Kraütler  e o Cardeal Hummes devem ser parabenizados por encorajar essa discussão na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Tais “reformas”, na medida em que levantam discussões e propõem ações para a Igreja universal, são sementes que estão apenas começando a brotar, mas que podem levar a uma realidade católica nova e mais participativa no futuro.

 

IHU On-Line - Em que consiste a proposta dos líderes de organizações de sacerdotes reformistas? A proposta deles já foi apresentada ao Papa Francisco? Que atenção Francisco tem dado a essa questão?

Christine Schenk - Até onde sei, Francisco não tem dado atenção às questões levantadas pelos padres reformistas até agora. Em todo caso, essa proposta é também apropriada ao nível das conferências episcopais nacionais, e eu sei que a FutureChurch está trabalhando nisso:  http://futurechurch.org/actions/openletter/2014/

Veja também a mais recente Carta Aberta das comunidades e padres reformistas ao redor do mundo: http://ncronline.org/news/global/reform-groups-letter-francis-stop-combining-parishes-megaparishes

 

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Christine Schenk - Apenas agradecer por suas instigantes questões!

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