Edição 204 | 13 Novembro 2006

Oncologia Pediátrica: Desafios do psicólogo hospitalar junto à família

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IHU Online

Oncologia Pediátrica: Desafios do psicólogo hospitalar junto à famíliaOncologia Pediátrica: desafios do psicólogo hospitalar junto à família é o tema que a Psicóloga Bárbara Cristina Steffen apresentará nos Encontros de Ética da segunda-feira, 20 de novembro. A atividade, aberta a toda comunidade acadêmica, tem entrada franca e vai das 17h30min às 19 horas, na sala 1G119 do IHU.

Confira abaixo a entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

IHU On-Line - Qual a sua opinião a respeito do tratamento psicológico da criança com câncer no Brasil? Ele perde em algum quesito para o de países desenvolvidos?

Bárbara Steffen
- A Psicologia é uma ciência que tem se desenvolvido muito no mundo todo, havendo, no Brasil, um crescente aumento no interesse dos profissionais pela área hospitalar. O tratamento psicológico adotado com crianças com câncer é de extrema qualidade e conta, além do preparo técnico, com a criatividade dos profissionais psicólogos. Grande parte dos pacientes oncológicos é atendida pelo SUS e, assim, é necessário que o psicólogo, muitas vezes, arque com despesas para oferecer ao paciente recursos mais variados ao longo dos atendimentos. Penso que o Brasil não perde em qualidade para outros países, uma vez que estamos tendo acesso às novidades científicas por meio de congressos e outros eventos, bem como bibliografias especializadas. Além disso, os psicólogos brasileiros têm contribuído consideravelmente para a produção de novos conhecimentos. É claro, são necessários maiores incentivos para que se desenvolvam pesquisas que proponham intervenções mais assertivas com o intuito de que todos os pacientes crônicos (não apenas os oncológicos) recebam tratamento especializado e devidamente qualificado.

IHU On-Line - Quais são as ações e as condições ideais para se obterem melhores chances de cura do câncer infantil?

Bárbara Steffen
- Pesquisas realizadas pelo Instituto Nacional do Câncer afirmam que 70% das crianças acometidas de câncer podem ser curadas se diagnosticadas precocemente e tratadas em centros especializados. Diagnóstico precoce, portanto, é o primeiro passo para o sucesso do tratamento. Depois desta etapa, a adesão ao tratamento e os cuidados com alimentação passam a ganhar importância. É sabido que o tratamento do câncer pode ser comparado a uma caixa de surpresas: mesmo que tudo seja feito da maneira correta não há como predizer o resultado final. O fato é que jamais se desiste de lutar. “Enquanto há vida, há esperança” e hoje há tecnologia disponível para garantir a cura em escala progressiva.

IHU On-Line - Iniciado o tratamento, como aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida dos doentes e seus familiares?

Bárbara Steffen
- O câncer é uma doença que causa grande abalo emocional, tanto no paciente quanto nos seus familiares, pois, apesar de já terem sido alcançados elevados índices de cura, continua sendo uma doença associada à morte. Além disso, ele gera mudanças bruscas na rotina das pessoas envolvidas. Por tal razão, o acompanhamento psicológico é de vital importância, uma vez que ele ajuda o paciente e seus familiares a compreenderem os eventos relacionados ao tratamento, a lidar com seus medos e frustrações. Porque a equipe médica não dispõe de tempo para permanecer com o paciente por períodos mais longos, contribuímos com a melhoria da qualidade de vida na medida em que tornamos o ambiente de tratamento um setting de acolhimento; quando conseguimos escutar o sofrimento e ajudar a dar algum sentido a ele.

IHU On-Line - Qual a melhor posição a tomarmos diante de um filho ou de uma criança com câncer?  O que deve e o que não deve ser feito?

Bárbara Steffen-
Os pais são as pessoas de referência para a criança. Se ficarem apavorados, desmotivados com o tratamento, desesperados na frente do paciente é assim que ele reagirá ao seu diagnóstico, provavelmente tendo dificuldades na adesão ao tratamento. É de vital importância que os pais consigam dar apoio ao seu filho, reconhecendo o sofrimento dele, mas demonstrando esperança por meio de suas ações ao longo do período do tratamento. A criança precisa de pais efetivamente presentes. Não basta ficar sentado ao lado do leito do hospital durante a quimioterapia, é necessário que haja envolvimento, participação, conversa, brincadeiras... é preciso proporcionar à criança um ambiente aclhedor.

IHU On-Line - Qual a sua opinião sobre o "brincar no hospital"? Como isso ajuda no tratamento? A músicoterapia é válida?

Bárbara Steffen-
Brincar no hospital é uma das melhores “ferramentas” de trabalho utilizadas pelos psicólogos. Isso porque, ao brincar, a criança vence realidades dolorosas (sua doença e as conseqüencias dela) e domina medos instintivos, projetando-os ao exterior, nos brinquedos. Com o auxílio dos brinquedos, ela consegue simbolizar e elaborar de maneira saudável suas experiências. A musicoterapia também é um instrumento válido porque proporciona a externalização dos sentimentos e, uma vez conhecidos pelo terapeuta, podem ser devidamente trabalhados.

IHU On-Line - Qual o impacto de uma criança com câncer na vida de uma família?

Bárbara Steffen
- Quando pais recebem a notícia de que seu filho está com câncer, o abalo emocional é tão grande que, via de regra, eles ficam totalmente desorganizados. Não sabem se o melhor é chorar, gritar, culpar alguém, pedir socorro. Como dizem, têm a sensação de que o “chão saiu de baixo de seus pés”. É possível que irmãos das crianças doentes também apresentem sintomas (pois passam a receber menos atenção do que o filho enfermo). Outro risco é que comecem a ocorrer conflitos conjugais com maior freqüência, em decorrência tanto do estresse ao qual todos ficam submetidos quanto do pouco tempo livre que resta em função de todo o tratamento oncológico.

 

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