Edição 462 | 30 Março 2015

“Não se busca o sentido do mundo como se pesquisa uma nova espécie de orquídea”

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Patricia Fachin

Segundo o filósofo italiano Luigi Perissinotto, Wittgenstein teve grande respeito pela experiência religiosa, apesar de olhar com desconfiança para a teologia

O famoso aforismo 7 do Tractatus Logico-Philosophicus, “Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar”, do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, “não aconselha o silêncio; e de fato o verbo que usa por obrigação não é sollen, mas sim muessen; nos diz acima de tudo, de forma radical, que a alternativa ao silêncio é o absurdo”, adverte Luigi Perissinotto, estudioso das obras do filósofo austríaco. Na interpretação dele, a célebre frase indica, como já apontou Otto Neurath, contemporâneo de Wittgenstein e membro do Círculo de Viena, que “se deve seguramente calar, mas não sobre qualquer coisa”. Enquanto essa era “uma crítica” de Neurath a Wittgenstein, Perissinotto pontua que, de sua parte, essa é a “lição que o Tractatus queria nos transmitir”. 

Perissinotto enfatiza que no Tractatus “não se fala de Deus da mesma forma que na geologia se fala da Terra e da sua datação ou, na biologia, do DNA e da sua estrutura. O mesmo vale para o sentido do mundo: não se busca o sentido do mundo como se pesquisa uma nova espécie de orquídea ou como se trabalha para encontrar a cura do câncer. Essa é a primeira coisa que Wittgenstein, a meu ver, quer nos sugerir quando afirma que, na ética ou na religião, não se pode falar ‘em primeira pessoa’. Contudo, isso não quer dizer que a ética e a religião sejam, para Wittgenstein, algo estritamente privado; significa, acima de tudo, que para qualquer um de nós, falar de Deus significa mostrar a posição que Deus ocupa (ou não) na nossa vida”.

Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, Perissinotto sinaliza algumas aproximações entre as obras do escritor russo Tolstói, do filósofo dinamarquês Kierkegaard e de Wittgenstein. “Para Wittgenstein, assim como para Tolstói, a solução do problema do sentido da vida é, para definir com Wittgenstein, ‘uma maneira de viver que faz desaparecer aquilo que constitui o problema’. A solução não é física ou metafísica, é prática-vital”, compara.

Luigi Perissinotto é doutor em Filosofia pela Universidade Cá Foscari de Veneza e atualmente leciona Filosofia da Linguagem e Filosofia da Comunicação. Ele esteve no Instituto Humanitas Unisinos – IHU em 2009, participando do X Simpósio Internacional IHU: Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades.

Confira a entrevista. 

IHU On-Line - Como a tese de Wittgenstein de que a linguagem somente pode tratar de fatos que fazem parte do espaço lógico impactou, por exemplo, nos discursos e no entendimento sobre Deus? Qual é o sentido de falar de Deus após Wittgenstein? 

Luigi Perissinotto - Para responder a essas perguntas eu diria, simplificando, que existiram pelo menos duas interpretações do impacto promovido pelo Tractatus Logico-Philosophicus sobre a religião e a teologia. De acordo com o primeiro Tractatus, Wittgenstein teria, por assim dizer, consagrado a insensatez de todas as (supostas) proposições sobre “aquele que está mais alto”, ou seja, sobre aquele que não está no mundo, seja esse chamado “sentido do mundo” ou “Deus”; a essa conclusão, sustentam os intérpretes deste primeiro tipo, não existe nada a acrescentar, muito menos existem, frente a isto, vias de fuga ou escapatórias. A lição que se pode obter tem duplo sentido: de um lado se poderia concluir que, se não podem existir proposições sobre o sentido do mundo ou sobre Deus, é porque não existe nada como “o sentido do mundo” ou algo como “Deus”; por outro, se poderia concluir que se não podem existir proposições sobre o sentido do mundo ou sobre Deus, é porque nem Deus nem o sentido do mundo são alguma coisa. Essa é a conclusão a que chegam abertamente os intérpretes do segundo tipo. Esses também reconhecem que, segundo o Tractatus, as (supostas) proposições sobre o sentido do mundo ou sobre Deus são insensatas e que existem porque Deus não é parte do mundo, porque não é algo que está ou pertence ao mundo, como no restante Wittgenstein afirma explicitamente na proposição 6.432 do Tractatus, “Deus não se revela no mundo”. 

Todavia, as implicações que isso traz são diversas; para estes intérpretes, contudo, reconhecer a insensatez das proposições sobre Deus é uma maneira de subtrair, por assim dizer, Deus do mundo. Lido assim, o Tractatus surge como uma obra profundamente anti-idólatra: quem procura Deus no mundo — essa seria a sua lição — o reduz ao mundo, construindo-se assim, como os Hebreus no deserto, um ídolo a ser adorado. Trata-se de uma leitura que pode relembrar, com todas as devidas distinções, aquilo que Simone Weil, em A sombra e a graça, chamou de “ateísmo purificador”; depois de ter afirmado “estar completamente certa de que existe um Deus, no sentido que estou completamente segura de que o meu amor não é ilusório”, Simone Weil acrescenta estar “completamente certa de que não existe um Deus, no sentido que estou completamente certa de que nada de real se assemelha àquilo que posso conceber quando pronuncio aquele nome”. Poderei então concluir a minha resposta observando que para um fiel que leia hoje o Tractatus poderia surgir como uma forma de ateísmo purificador.

 

IHU On-Line - Na Conferência sobre Ética, em 1929, Wittgenstein distingue o valor absoluto em primeira pessoa e em terceira pessoa, assinalando a possibilidade de existir valor absoluto somente em primeira pessoa. Isso significa que em relação a Deus, por exemplo, também só é possível uma relação em primeira pessoa? Se sim, como relaciona tal tese com a visão cristã acerca de Deus?

Luigi Perissinotto - Não se fala de Deus da mesma forma que na geologia se fala da Terra e da sua datação ou, na biologia, do DNA e da sua estrutura. O mesmo vale para o sentido do mundo: não se busca o sentido do mundo como se pesquisa uma nova espécie de orquídea ou como trabalham para encontrar a cura do câncer. Essa é a primeira coisa que Wittgenstein, a meu ver, quer nos sugerir quando afirma que, na ética ou na religião, não se pode falar “em primeira pessoa”. Contudo, isso não quer dizer que a ética e a religião sejam, para Wittgenstein, algo estritamente privado; significa, acima de tudo, que para qualquer um de nós, falar de Deus (orá-lo, invocá-lo, rejeitá-lo, negá-lo, etc.) significa mostrar a posição que Deus ocupa (ou não) na nossa vida. Assim, para exemplificar, “Graças sejam dadas a Deus” pode ser para qualquer pessoa uma simples maneira de dizer, sem nenhuma consequência na sua vida, tanto que seria o mesmo falar algo como: “As coisas aconteceram conforme o desejado”; por outro lado, porém, “Graças sejam dadas a Deus” jamais pode ser substituído por algo diferente; para ele, como observará Wittgenstein em uma das suas lições sobre a fé religiosa, aquelas palavras dizem exatamente aquilo que dizem; “por que deveria estar apto a substituir por qualquer outra coisa?”. Mas acima de tudo: por que deveria fazer com que dependesse das diversas circunstâncias em que te encontras. Para o fiel, “Graças sejam dadas a Deus” não é somente outra forma de dizer “As coisas saíram como eu desejava”, mas ele é fiel a Deus enquanto puder exclamar “Graças sejam dadas a Deus”, independentemente da forma com que as coisas aconteceram, ou seja, também quando as coisas não saíram como se desejava.

 

IHU On-Line - É conhecido que Wittgenstein tinha um interesse pelo misticismo. Como isso se insere no quadro geral da sua obra?

Luigi Perissinotto - Não é fácil entender com quais significados Wittgenstein usa o termo “místico” nas poucas vezes que o utiliza nos Quaderni 1914-1916 (uma vez) e no Tractatus (três vezes). Entre os textos que poderiam tê-lo influenciado nos tempos da composição do Tractatus, os estudiosos indicaram em particular dois: As variedades da experiência religiosa, de William James, que Wittgenstein seguramente leu, e um trabalho de Bertrand Russell, Misticismo e lógica, que Wittgenstein pode ter lido. Sabemos também que Wittgenstein leria, mesmo que não se soubesse exatamente quando, alguns textos da tradição mística; por exemplo, O peregrino querubínico, de Angelus Silesius, e O Peregrino, de John Bunyan. Ao que trata em particular o Tractatus, foi também revelado como Wittgenstein pode ter obtido a imagem da escada que surge na proposição 6.54 de Schopenhauer, Nietzsche ou Otto Weininger, mas como essa se transforma em um papel importante em grande parte da tradição mística. 

De minha parte acredito que, ao menos com relação ao Tractatus, deve ser lido com muita sobriedade, sem excessos interpretativos e sem uma imediata tradução religiosa e com referências místicas; em particular, reconectarei o misticismo do Tractatus ao tipo de silêncio sobre o senso da vida que Wittgenstein evoca na proposição 6.512: “A resolução do problema da vida surge ao mesmo tempo que esse desaparece”. (Não seria talvez por isso que homens, cujo sentido da vida se torna, depois de longas dúvidas, claro, não saberiam dizer em que consistia este sentido?)

 

IHU On-Line - Como se deve  ler o famoso aforismo 7 do Tractatus “Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar”? Em alguma medida ele é mal interpretado no sentido de ser utilizado como um argumento aos discursos ateístas e como argumento de recusa à metafísica na atividade filosófica? Quando Wittgenstein recusa a metafísica, sua tentativa é mais exclusivamente fazer uma distinção entre ciência e as demais atividades a exemplo da filosofia, da teologia e da arte do que negar tais atividades?

Luigi Perissinotto - A primeira coisa que deve ser relevada é que na proposição 7 Wittgenstein não aconselha o silêncio; e de fato o verbo que usa por obrigação não é sollen, mas sim muessen; nos diz acima de tudo, de forma radical, que a alternativa ao silêncio é o absurdo. Acredito, portanto, que o neoempirista Otto Neurath tinha razão quando observava que se deve seguramente calar, mas não sobre qualquer coisa, somente que para Neurath essa era uma crítica a Wittgenstein, enquanto eu parto do princípio de que essa seja a lição que o Tractatus queria nos transmitir. Em cada caso, a proposição final do Tractatus não tem nada a fazer com o ateísmo, se por “ateísmo” se entende a doutrina que afirma (ou que de fato quer provar) que Deus não existe; por outro lado, isso não tem nada a ver com o teísmo, se por “teísmo” se entende a doutrina que afirma (ou que de fato quer provar) que Deus existe. De resto, não é um caso que especialmente a essa proposição final sejam rechamados tanto aqueles que procuraram comparar o silêncio final do Tractatus ao silêncio do místico na presença de Deus, como aqueles que criticaram Wittgenstein sustentando que o silêncio final do Tractatus seria mais ou menos igual a um silêncio dogmático imposto pela religião.

 

IHU On-Line - Nos Tagebücher (Quaderni) 11.6.16, Wittgenstein afirma que o “bem e o mal estão de certo modo em interdependência com o sentido do mundo”. Esse fragmento indica, de algum modo, uma mudança de posição em relação a sua tese de que os fatos fazem parte do mundo, e os valores, a exemplo da ética? 

Luigi Perissinotto – É preciso de imediato observar que os Quaderni são exatamente aquilo que diz o seu nome, cadernos: eles contêm os pensamentos de Wittgenstein, com todas as indecisões, dúvidas, mudanças, abandonos e retornos que pertencem ao processo efetivo do pensar. No caso específico, isso que Wittgenstein procura nos dizer é algo semelhante: não é este ou aquele fato do mundo que é bom ou mau, mas sim a minha vontade; aquilo que está de fato em jogo é a minha vontade enquanto quer (ou não quer) o mundo (“tudo aquilo que acontece”). Boa (Wittgenstein fala ainda “justa”) é a minha vontade se essa quer o mundo, uma vez que assim seja, ou então que o querer seja respondido ou não de acordo com minhas necessidades e desejos; má (injusta) é a minha vontade se essa quer somente aquele mundo que responde aos meus desejos e satisfaça as minhas necessidades; enfim, se essa não quer o mundo, mas uma configuração específica dele. É isso, a meu ver, o sentido em que Wittgenstein escreve que “o bem e o mal estão conectados de alguma forma com o sentido do mundo”.

 

IHU On-Line - Qual o relacionamento de Wittgenstein com autores como Kierkegaard e Tolstói, que são citados em seus cadernos (Quaderni)?

Luigi Perissinotto - Falarei algo sobre Kierkegaard, enquanto sobre Tolstói falarei na resposta da próxima pergunta. Já sabíamos há tempos que Wittgenstein era um leitor de Kierkegaard, como sabíamos que estudou o dinamarquês exatamente para poder lê-lo nos seus originais. A descoberta e a recente publicação de outros dois diários de Wittgenstein, datados de 1930-32 e 1936-37, nos deram uma ampla confirmação; nestes diários Wittgenstein se refere seguidamente a Kierkegaard, instaurando com o pensador dinamarquês um diálogo intenso, não privado de reservas e críticas. Aqui me limitarei a duas observações. A primeira é que Wittgenstein era particularmente interessado àquelas obras, como Migalhas Filosóficas ou Pós-escrito às Migalhas filosóficas, onde Kierkegaard atribui à teologia e à filosofia o não saber reconhecer que “a coisa mais difícil deve ser transformar um cristão”; se de si mesmo como autor de Tractatus Wittgenstein observa de fato que somente aquele que no final reconhece que suas proposições são insensatas o compreende, Kierkegaard, de sua parte, em um apêndice de Migalhas Filosóficas observa que “aquilo que eu escrevo contém no mesmo tempo uma advertência que tudo deve ser compreendido de forma a ser retraído”. Sobre este último ponto existiu, nos últimos anos, um amplo e animado debate que foi ponto de partida para um trabalho de James Conant, dedicado, justamente, ao relacionamento entre a proposição 6.54 do Tractatus e o apêndice de Migalhas filosóficas. 

 

IHU On-Line - Qual foi a influência do Evangelho de Tolstói no pensamento de Wittgenstein, especialmente porque o filósofo diz que esse livro o salvou a vida? Como essa obra influenciou seus escritos sobre a linguagem e sobre mística? 

Luigi Perissinotto - Como se sabe, o encontro com a Breve exposição do Evangelho de Tolstói (“uma obra maravilhosa” como a definiram) foi um evento de grande significado na vida de Wittgenstein. Não é de fato fácil estabelecer com precisão quais foram as influências dessa obra no seu pensamento. Talvez poderia indicar aqui esquematicamente alguns pontos que parecem unir o Wittgenstein do Tractatus e o Tolstói do Evangelho: (1) tanto para Wittgenstein como para Tolstói existe um único problema essencial: o problema do sentido da vida; para ambos, ética e religião têm fundamentalmente o que fazer com este problema; (2) não se dá alguma solução científica (física ou metafísica) ao problema do sentido da vida; exatamente a ideia que possa dar uma forma tal de solução constitui primeiramente a ilusão que nos afasta radicalmente da solução procurada; (3) para Wittgenstein, assim como para Tolstói, a solução do problema do sentido da vida é, para definir com Wittgenstein, “uma maneira de viver que faz desaparecer aquilo que constitui o problema”. A solução não é física ou metafísica, é prática-vital; para ambos, a vida de Jesus indica uma maneira de viver que dissolve a problemática da vida; (4) a vida que tem sentido, aquela que Tolstói chama de “vida verdadeira” e Wittgenstein “vida justa”, não é aquela que realiza os nossos desejos e projetos. Como escreve Tolstói, “somente servindo à vontade do pai da vida se recebe a vida verdadeira (...). E por isso satisfazer a própria vontade não é necessário para a vida verdadeira”. 

 

IHU On-Line - Em que consistiria uma resposta teológica cristã a Wittgenstein?

Luigi Perissinotto - Não saberia como responder a essa pergunta. Diria, em todo caso, que são pelo menos dois os pontos que deveriam ser levados em consideração. O primeiro se refere ao próprio estatuto da teologia. Não existem dúvidas de que Wittgenstein tem grande respeito pela experiência religiosa, enquanto olha, falando baixo, com desconfiança a teologia e as suas alegações de “cientificidade”. O segundo se refere à tendência à idolatria que Wittgenstein parece enxergar em todos, digamos assim, estudos da teologia da religião. Trata-se do tema “ateísmo purificador” do qual, como vimos, fala Simone Weil. Até que ponto, será questionado, a teologia tem a força de ser, num sentido preciso, ateia? 

 

IHU On-Line - No dia 25 de dezembro os cristãos celebram o nascimento de Jesus, ou seja, o Verbo se fez carne e assumiu a condição humana. Como fazer uma leitura filosófica do mistério de Deus transcendente que assume a condição de criatura?

Luigi Perissinotto - Também aqui é difícil responder por mim mesmo. Talvez Wittgenstein se questionasse, e eu com ele, o que pode querer dizer “leitura filosófica”. Se quisesse dizer algo como “tornar racionalmente aceitável”, a reação de Wittgenstein seria, não tenho dúvidas, de rejeição: quem procurasse uma leitura filosófica do nascimento de Jesus não enxergaria, poderia dizer algo como “parafrasear em uma linguagem que soe mais familiar ao filósofo”? Neste caso, talvez Wittgenstein observasse que nem sempre parafrasear é compreender; existem, contudo, casos como o da poesia, onde quem parafraseia não compreende. No restante, como é fácil reconhecer a linguagem que vem descrita na pergunta, o nascimento de Jesus é, por sua vez, o resultado, por assim dizer, de paráfrase de paráfrase. Mas a pergunta que Wittgenstein poderia colocar é: por que um filósofo jamais deve dar uma leitura filosófica ao nascimento de Jesus?

 

Leia mais...

- O silêncio e a experiência do inefável em Wittgenstein. Entrevisa com Luigi Perissinotto publicada na edição 308, de 14-09-2009;

- Wittgenstein e a religião: a crença religiosa e o milagre entre fé e superstição. Caderno IHU Ideias, 62ª edição.

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