Edição 460 | 16 Dezembro 2014

A conexão mística de Teresa de Ávila e Thomas Merton

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Márcia Junges e Ricardo Machado | Tradução: Ivan Lazzarotto

Distantes quatro séculos um do outro, Teresa de Ávila e Thomas Merton unem-se pela experiência mística, como explica Marco Vannini

Ao pensar nas aproximações entre Teresa de Ávila e Thomas Merton é preciso, obviamente, considerar que uma das personagens viveu no século XVI, na época da Contra-Reforma, e o outro, no século XX, onde passou por uma formação internacional. Entretanto, o que nos interessa é aquilo que os aproxima, a experiência mística. “Vemos que a diferença das suas personalidades (Teresa de Ávila e Thomas Merton) e das ligações que os unia a qualquer pessoa ao seu tempo e à sua cultura, não atinge o essencial da sua experiência e da mensagem que podem nos comunicar. A sua experiência comum é, de fato, aquela da interioridade mais profunda, aquele “local místico” que é a essência do ser humano em geral”, explica Marco Vannini, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.

Diante do contexto do século XXI, Vannini chama atenção para o fato de que vivemos em um mundo de excessiva exposição. “Marc Zuckerberg faz prognóstico de um ‘mundo pós-privacidade’, onde não existe mais o espaço privado, porque tudo é do conhecimento de todos. Isso é terrível, porque significa de fato cancelar o espaço da intimidade, da interioridade, da reflexão, da meditação — e obviamente, de um relacionamento profundo com o Absoluto”, argumenta. “Não maravilha porém que tanta difusão de comunicação, de relações, corresponda em uma perda de essência e, por consequência, uma infelicidade igualmente grande e generalizada”, avalia.

Por fim, o pesquisador sustenta que, apesar da derrota sofrida pelo misticismo há três séculos, “o misticismo não está mais escondido, e não pode se esconder, a partir do momento que responde às mais profundas exigências e expectativas do homem”. E complementa: “Permanece, por assim dizer, subterrâneo, excluído dos canais acadêmicos e dos círculos de poder, eclesiástico e civil, mas este eclipse tem também um aspecto positivo, porque assim o misticismo ganha novamente a própria universalidade, liberando-se de toda a confusão dogmática”.

Marco Vannini é um dos maiores estudiosos italianos da mística especulativa. Além de ter editado Mestre Eckhart e muitos outros místicos, ele é autor de inúmeros estudos, tais como La morte dell’anima. Dalla mistica alla psicologia (Ed. Le Lettere, 2004); Storia della mistica occidentale (Ed. Mondadori, 2005); Mistica e filosofia (Ed. Le Lettere, 2007); La mistica delle grande religioni (Ed. Le Lettere, 2010); Prego Dio che mi liberi da Dio (Ed. Bompiani, 2010), dentre outros. 

Em português, foi traduzida a sua Introdução à mística (Edições Loyola, 2005).

Este ano Marco Vannini lançou os livros Introduzione a Eckhart. Profilo e testi (Le Lettere: Firenze, 2014), Indagine sulla vita eterna (Mondadori: Milano 2014). No ano passado lançou Lessico Místico. Le parole della saggezza (Le Lettere: Firenze, 2013), Oltre il Cristianesimo. Da Eckhart a Le Saux  (Bompiani: Milão, 2013) e, juntamente com Corrado Augias, Inchiesta su Maria. La storia vera della fanciulla che divenne mito  (Rizzoli: Milão, 2013).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O que as experiências místicas de Santa Teresa de Ávila e Thomas Merton têm a dizer aos homens e mulheres da contemporaneidade?

Marco Vannini - Creio que a experiência espiritual, mística, seja sim diferenciada no tempo, pela cultura, pelas características dos solteiros etc., e que essas diferenças têm importância, desde o momento que estamos profundamente colocados na dimensão do tempo, pois é difícil calar-se na mentalidade de séculos e culturas passadas – mas, no entanto, acredito que a experiência mística tenha características de universalidade tais que se pode cruzar a fronteira entre essas diferenças.

Porém, enquanto a mística concerne a essência da alma, aquilo que os místicos alemães medievais chamavam de “fundo da alma” (Grund der Seele), essa atinge o que tem de mais universal para o ser humano, igual para todos, além de todas as diferenças de lugar, tempo, cultura, etc.

É evidente que também duas personalidades como Santa Teresa de Ávila e Thomas Merton tenham sido diferentes entre si em muitos aspectos: no restante seria um absurdo pensar que uma mulher educada na Espanha do século XVI, na época da Contra-Reforma, coincida psicologicamente com um homem do século XX, que passou por várias experiências em uma formação internacional. É óbvio, por exemplo, que Teresa via a heresia protestante como um ataque à verdadeira fé católica, tão perigosa como os turcos; como por outro lado é óbvio que Thomas Merton, que foi do catolicismo ao anglicanismo, tenha visto nas mais diversas formas de fé – mesmo nas do Extremo Oriente – diferentes vias para alcançar um único objetivo, e tenha sido um apoiador ativo do ecumenismo e da paz entre os povos.

No entanto, nós contemporâneos, quando lemos as páginas destes dois grandes nomes do passado, remoto e recente, os sentimos muito próximos. Por quê? Porque, de fato, vemos que a diferença das suas personalidades e das ligações que os unia a qualquer pessoa ao seu tempo e à sua cultura, não atinge o essencial da sua experiência e da mensagem que podem nos comunicar. A sua experiência comum é, de fato, aquela da interioridade mais profunda, aquele “local místico” que é a essência do ser humano em geral, sem conhecer o que se perdeu na “região da desigualdade” (régio dissimilitudinis) da memória agostiniana.

A mensagem deles é importante para homens e mulheres contemporâneos exatamente porque não vivemos em um tempo onde a interioridade é obscurecida e quase cancelada pela exterioridade, ou, por assim dizer em termos mais filosóficos, a essência é obscurecida e quase cancelada pelas relações. O nosso mundo é de fato um mundo de relações, de conexões: não por acaso, Marc Zuckerberg faz prognóstico de um “mundo pós-privacidade”, onde não existe mais o espaço privado, porque tudo é do conhecimento de todos, as redes sociais colocam todos em comunicação com todos e, para citar com slogan publicitário, “viver é comunicar”. Isso é terrível, porque significa de fato cancelar o espaço da intimidade, da interioridade, da reflexão, da meditação — e obviamente, de um relacionamento profundo com o Absoluto. Não maravilha porém que tanta difusão de comunicação, de relações, corresponda em uma perda de essência e, por consequência, uma infelicidade igualmente grande e generalizada. 

 

IHU On-Line - Como analisa o legado de ambos os místicos a partir da conexão íntima entre o amor espiritual e o amor humano?

Marco Vannini - O amor como desejo do Bem nasce sempre e se alimenta da beleza, e a primeira beleza que atinge os olhos e o coração é aquela da criatura. Naquilo que Simone Weil  considerava o texto místico fundamental do Ocidente, O Banquete de Platão (Lisboa: Edições 70, 2007), a sacerdotisa Diotima explica a Sócrates  que o amor nasce sempre com o desejo de um corpo bonito, mas quando o amor é maior, se transforma em desejo pela beleza da alma, e depois, degrau por degrau, se eleva até o desejo pela beleza de si próprio, ou do Bem. Assim, o poeta Dante Alighieri  reconhece que o amor que sentiu pela jovem Beatriz é da mesma natureza que o “amor que move o sol e as outras estrelas” que primeiramente aquece o peito de amor.

Existe uma conexão íntima entre o amor humano, no seu sentido mais comum, exatamente de amor por uma criatura, e o amor espiritual, ou místico. Mas é necessário exercitar o discernimento já que por um lado o amor por uma criatura é amor por si mesmo, como percebia sutilmente Mestre Eckhart , e neste sentido tal amor não tem nada de espiritual, é exatamente o contrário. Percebemos facilmente se o amor por uma criatura é amor por si próprio pelo fato de que neste caso o amor é o desejo de posse, a criatura serve a qualquer coisa, o amor tem um “porquê”, enquanto o amor verdadeiro é somente o desejo do bem pelo outro, “sem porquê”, como repetem incessantemente os místicos. Mas o amor espiritual não é necessariamente desencarnado: pelo contrário, pode encontrar êxito natural na intimidade física com a pessoa amada, sem lascívia, sem desejo de posse. Assim a mística medieval Margherita Porete  — uma mulher que dedicou o seu trabalho, o Espelho das almas simples (Rio de Janeiro: Vozes, 2008), ao amor espiritual — escreve que a alma destacada perfeitamente pode conceder à natureza, sem nenhum remorso, aquilo que a natureza necessita. 

É preciso ressaltar que neste âmbito a mística não se difere em nada da tradição eclesiástica comum que reconhece o casamento e a união conjugal como um sacramento.

 

IHU On-Line - Tendo em consideração suas trajetórias místicas em suas diferenças e também proximidades, qual é o espaço do corpo na experiência mística, com o transcendente?

Marco Vannini - Não existe dúvida de que o ser humano seja feito de corpo, alma e espírito, e que o corpo seja o elemento principal, primário, aquele que aparece primeiro, enquanto somente mais tarde emerge e se forma a alma e mais tarde ainda, quando aparece, o espírito. Sob este perfil, portanto, não podemos ignorar a corporeidade e é errada a mística que desconhece a sua realidade e importância. Dito isso, porém, é preciso também reconhecer com honestidade a verdade da antinomia, clássica e cristã juntas, entre corpo de um lado e espírito de outro, pelo qual o pagão Porfírio,  na sua Carta à Marcella, tinha razão ao escrever que quem ama o corpo ama o prazer, quem ama o prazer ama o dinheiro, mas quem ama o dinheiro é fatalmente injusto, inimigo dos deuses e dos homens. O verdadeiro templo de Deus é o intelecto, o espírito, e consequentemente é preciso fugir do corpo, na sua dimensão carnal, o quanto for possível, para se unir Àquele que é de fato o intelecto, o espírito. E não precisamos lembrar o quanto o apóstolo Paulo  insistiu sobre o conflito entre a carne e o espírito, que tem entre si desejos contrários.

A mim parece que a síntese mais equilibrada seja àquela expressa por Mestre Eckhart, que diz que o espírito não pode ser perfeito se antes disso o corpo e a alma não forem perfeitos. A perfeição aqui significa plena consciência, e com isso é preciso cuidar do corpo, conhecer o corpo, não desprezá-lo ou ignorá-lo, para que se possa ter também cuidado e conhecimento da alma e, a partir dessa, finalmente, se possa fazer surgir aquele espírito que é tão rico de conhecimento de corpo e de alma. Neste propósito, quero lembrar também a grande figura de Hildegarda de Bingen , que dedicou amplo espaço ao conhecimento do corpo, compreendendo também a sexualidade, a saúde, a medicina, sem ouvir que isso fosse um contraste com o cuidado com a alma e o espírito.

 

IHU On-Line - Por que razão a mística desassossega e incomoda tanto o poder eclesial?

Marco Vannini - O misticismo seguidamente atrapalha o poder eclesiástico, acima de tudo porque é convicto de que o relacionamento entre a alma e Deus acontece sem mediações, sem nada que se interponha, sendo tanto Deus como a alma uma única coisa. Por isso é convicta de que o relacionamento entre a alma e Deus não aconteça em espaços externos, em formas litúrgicas determinadas de qualquer maneira, mas, ao invés, seja somente no profundo da alma, em um relacionamento “do só x só”, como falou Plotino . O místico adverte sempre a primazia deste relacionamento pessoal com Deus em relação a todas as formas comunitárias, e isso o coloca também em possível contraste com a autoridade religiosa.

Isso, porém, não significa que o místico esteja errado ou contra a Igreja. Pensemos por exemplo em São João da Cruz , de quem ninguém pode negar a fidelidade à sua Ordem e à Igreja, mas que em toda a sua obra não gasta uma palavra sobre os sacramentos. Do contrário, é preciso perceber que essa liberdade, essa autonomia do místico o tornou muitas vezes capaz de criticar nos confrontos da própria Igreja com resultados de reforma religiosa destinados a dar frutos duradouros no tempo.

 

IHU On-Line - Em que medida a experiência mística segue sendo incompreendida ou reduzida em sua importância ontológica e espiritual em nossos dias?

Marco Vannini - A experiência mística sofre ainda hoje a exclusão iniciada no final do século XVII, quando a Igreja, temendo os êxitos daquilo que chamava “quietude”, condenou Molinos , Fénelon , Madame Guyon , etc., executando de fato a remoção do misticismo do tecido vivo da sociedade. A partir deste momento — e ainda hoje — místico significa para a opinião pública algo de excepcional, extraordinário, mas longe da sã normalidade humana. Significa então irracional, visionário, que se assemelha ao paranormal ou de certa forma com o espiritismo. De fato a ciência da alma foi, desde então, perdida pela Igreja, e originou a psicologia: hoje temos uma ciência da alma mutilada, que ignora o espírito e o espiritual, relegando-o na névoa do indefinido, se não do patológico. Aos que diziam que muitos os atribuíam a uma veia mística, Wittgenstein  respondia amargamente que sim, era assim, mas que pensavam que era uma veia de loucura.

O misticismo voltará a ser contemplado na sua importância ontológica e espiritual quando recuperar o seu significado primário, aquele de ser o conhecimento da alma. É possível que isso inicie, ou esteja já iniciando, na medida em que se mostra a fraqueza, a insuficiência das mil e uma psicologias do nosso tempo.

 

IHU On-Line - Como podemos compreender a relação entre a mística e a experiência do nada e do aniquilamento do eu e da alma? O que isso significa?

Marco Vannini - Experiência do nada, aniquilação de si, morte da alma, são todas expressões substancialmente equivalentes, com as quais se indica a atividade de purificação da inteligência que se libera do condicionamento espaço-temporal, da dependência das circunstâncias — ou daquilo que em termos filosóficos se define como determinismo. É uma tarefa possível somente quando a inteligência está totalmente envolvida com o Absoluto, porque somente assim estará apta a reconhecer o relativo e de se liberar e, portanto, é uma tarefa não psicológica mas religiosa, a partir do momento que o Absoluto no qual a inteligência se envolve é o Bem Absoluto, último termo da aspiração do homem — ou aquilo que comumente se chama Deus. Não um Deus finito, determinado nas formas, porém: este corresponde somente às exigências apropriativas do sujeito e varia continuamente de acordo com o variar destas exigências. Eis a razão pela qual os místicos chamam Deus “Nada”, exatamente para negar toda determinação finita, e com isso Mestre Eckhart formula a oração: “Rezo a Deus para que me liberte de Deus” — oração aparentemente paradoxal, mas verdadeira uma vez que de um lado devemos nos liberar daquele Deus-ídolo que encarna todo o nosso eu psicológico, mas de outro é preciso voltar-se para Deus porque age no desprendimento do egoísmo que com as próprias forças é impossível realizar.

 

IHU On-Line - A partir desse estado de aniquilamento, como se coloca a questão do niilismo do qual é acusado o cristianismo pelas filosofias de Feuerbach  e Nietzsche , por exemplo?

Marco Vannini - O “nada” de Mestre Eckhart e de São João da Cruz não está relacionado com o niilismo da cultura contemporânea, pelo contrário, se pode dizer que seja o oposto, ao menos é um nada purificador, um vazio que gera pureza, liberdade (estar vazio “de” equivale a estar livre “de”) e no qual reflete uma imensa luz. A acusação de niilismo voltada para o cristianismo se justifica quando se entende o cristianismo por teologia, que depois do Iluminismo  caiu sob golpes da ciência, da crítica histórica, da filologia, deixando um vazio que — este sim — pode horrorizar o homem contemporâneo. É evidente que o anúncio nietzschiano da “morte de Deus” choca aqueles que depositaram neste Deus suas esperanças, e esses correm o risco de cair num niilismo que assusta, mas não atinge aqueles para os quais o Deus-Outro já estava morto, junto ao ego que o gera e sustenta. Para esses, ao contrário, a “morte de Deus” é o nascimento do espírito, com a alegria infinita que isso leva consigo. “Aquilo que para os homens não livres é horror é uma imensa felicidade para os homens livres”, escreveu Meister Eckhart.

 

IHU On-Line - Em que aspectos a mística resiste como uma “via mestra do filosofar, que é o distanciamento, o platônico exercitar-se a morrer”?

Marco Vannini - Apesar da derrota sofrida pelo misticismo há três séculos (como dito anteriormente), o misticismo não está mais escondido, e não pode se esconder, a partir do momento que responde às mais profundas exigências e expectativas do homem. Permanece, por assim dizer, subterrâneo, excluído dos canais acadêmicos e dos círculos de poder, eclesiástico e civil, mas este eclipse tem também um aspecto positivo, porque assim o misticismo ganha novamente a própria universalidade, liberando-se de toda a confusão dogmática. Exatamente porque colocado à margem das autoridades religiosas, o misticismo recuperou o seu sentido original, aquele de ser “exercício de morte”, separado de tudo — mesmo das formas religiosas onde qualquer místico nasce e cresce — para ser o caminho do só para o só, um caminho realizado “in interiore homine”, sem nenhuma mediação. Então, no momento em que as confissões religiosas acusam a culpa da criatura contemporânea, que fragmentou as velhas teologias e dogmas, se redescobre essa via mestre de pensamento e de vida, que atravessa qualquer mutação cultural sem nem a tocar.

 

IHU On-Line - Quais são as tensões que se dão a partir do diálogo entre a filosofia e a mística?

Marco Vannini -  A meu ver, o misticismo é, como se diz, platonicamente o verdadeiro filosofar e, com isso, por si só as tensões entre o misticismo e a filosofia não devem subsistir. Se existem — como certamente existiram e ainda existem — é porque a filosofia não é mais um gênero de vida, não é mais aquela que foi na sua origem na Grécia, mas se transformou em uma atividade unicamente intelectual, que se explica em gênero, somente com uma produção literária — é um escrever livros sobre outros livros — sem nenhuma incidência na vida, ou sem que se tenha mais algo a fazer com a sensatez, a sabedoria (a sophia grega). Não é por acaso que o já falecido professor Pierre Hadot  sustentava que a filosofia clássica não teve como seguidores nem as universidades medievais, onde o clero era colocado nas instituições eclesiásticas, nem na universidade moderna, onde os docentes são funcionários públicos, mas teve como único seguidor o misticismo. De fato o misticismo somente manteve a liberdade de inteligência, não submetida a nenhuma autoridade e, junto, ficou o caminho de toda a vida e não somente as atividades culturais.

Quando essas tensões existem é um sinal — a meu ver — de que o misticismo ou a filosofia, ou ambos, não são aquilo que devem ser, ou seja, não são verdadeiramente filosofia e misticismo. Habitualmente, acontece quando alguns filósofos que são além de acadêmicos não reconhecem o valor especulativo do misticismo e com isso o consideram somente como uma forma de sentimento bizarra, nos limites do patológico, e portanto não influente para a cultura filosófica. Era esta a atitude típica do velho positivismo, porém muito difuso também nos nossos tempos, todas vezes que se pensa na esfera religiosa somente como uma esfera de sentimento, e não também de racionalidade. Por outro lado, também alguns místicos não reconhecem o valor da filosofia que, ao invés, durante o caminho da inteligência para a verdade, é feita “em honra a Deus”, como dizia Wittgenstein. Neste caso, porém, devo dizer que a meu ver não se trata de misticismo no sentido original, clássico, do próprio termo, e infelizmente é uma atitude deste gênero, muito difusa, que contribui para desacreditar o misticismo e o colocar em contraste com a filosofia.

Na essência mais verdadeira, concluindo, misticismo e filosofia são a mesma coisa. Não por acaso nos dias atuais muitos estudiosos tendem a considerar essencialmente um filósofo, Mestre Eckhart, o qual se definia tradicionalmente um místico.

Leia mais...

- "Ninguém nunca viu a Deus". Para a mística a verdade é sempre interior. Entrevista com Marco Vannini publicada na Edição 435, da revista IHU On-Line, 15-12-2014; 

- “A experiência do espírito vai muito além das distinções espaço-temporais e de gênero”. Entrevista com Marco Vannini publicada na Edição 385 da revista IHU On-Line, 19-12-2011;

- Bento XVI, o último papa de Nietzsche. Artigo de Marco Vannini publicado nas Notícias do Dia, no sítio do IHU, 13-02-2013;

- A renúncia e o drama da relação fé e história. Entrevista com Marco Vannini publicada nas Notícias do Dia no sítio do IHU, 10-03-2013;

- O silêncio da alma: por que o Ocidente esqueceu os seus místicos. Entrevista com Marco Vannini reproduzida nas Notícias do Dia do sítio do IHU, 31-03-2013.

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