Edição 457 | 27 Outubro 2014

A representatividade brasileira nos estudos peirceanos

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Andriolli Costa

Eleito presidente da Sociedade Charles Peirce, Ivo A. Ibri reflete sobre a importância do reconhecimento do Brasil no cenário pragmático mundial

Fundador do Centro de Estudos do Pragmatismo do Programa de Estudos Pós-graduados em Filosofia da PUC-SP, o professor Ivo A. Ibri foi eleito este ano presidente da Charles S. Peirce Society (EUA), cargo que assumirá a partir de 2015. Nesta entrevista, concedida por e-mail à IHU On-Line, ele faz um balanço da representatividade brasileira nos estudos peirceanos e o pensamento que norteia o Centro de Pragmatismo.

Ivo A. Ibri possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo - USP, mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP e doutorado em Filosofia também pela USP. Atualmente é professor titular da PUC-SP e da Faculdade de São Bento. É editor responsável das revistas Cognitio - Revista de Filosofia e Cognitio-Estudos. Coordena desde 1998 os Encontros Internacionais sobre Pragmatismo, realizados anualmente. A partir de 2009, passou a integrar o corpo de consultores do Peirce Edition Project, da Universidade de Indiana, EUA, que edita a obra cronológica de Charles S. Peirce.

Confira a entrevista.

 

IHU On-Line - Datada do final do século XIX e início do XX, de que formas a obra de Charles S. Peirce permanece atual na contemporaneidade? 

Ivo A. Ibri – Trata-se de uma filosofia antidogmática, falibilista, que incorpora a incerteza congênita a todo conhecimento e o faz com forte construção ontológica suportada por uma Fenomenologia, pela Semiótica e pelo Pragmatismo. O sistema teórico legado por Peirce tem um caráter heurístico aberto, que permite pensar de modo novo as múltiplas áreas da filosofia e da cultura em geral.  

 

IHU On-Line - De que modo o pensamento peirciano norteia os trabalhos do Centro de Estudos do Pragmatismo, da PUC-SP? 

Ivo A. Ibri – Ele é o principal eixo das pesquisas desenvolvidas no Centro, não obstante outros autores que dialogam com Peirce e o pragmatismo clássico também são estudados. Temos três linhas de pesquisa associadas à Lógica, Ética e Estética em seus nexos com o pragmatismo. 

 

IHU On-Line - Qual a importância da dimensão ontológica e metafísica para a compreensão do pragmatismo? 

Ivo A. Ibri – É fundamental entender essa dimensão que enriquece sobremaneira o pensamento peirceano e promove um entendimento mais profundo de sua opção realista de filosofia, em seu sentido escolástico. 

 

IHU On-Line - A primeira edição do livro Kósmos Noetós (São Paulo: Perspectiva, 1992) tem mais de 20 anos. Desde então, algo mudou do modo como você compreende a filosofia de Peirce? 

Ivo A. Ibri – As diretrizes básicas do meu entendimento da obra de Peirce estão naquele livro, que em breve receberá edição atualizada, pois está a algum tempo esgotado. Evidentemente, muitos pontos foram aprofundados e desdobrados, conforme busco mostrar nos ensaios subsequentes que venho publicando. 

 

IHU On-Line - Você foi eleito presidente da The Charles Sanders Peirce Society para 2015, posto que Lucia Santaella  ocupou em 2007. Isso indica que, nos últimos anos, as contribuições brasileiras para os estudos peirceanos têm tido maior relevância para a comunidade científica?

Ivo A. Ibri – Creio que a repercussão internacional do trabalho do Centro de Estudos de Pragmatismo, que promove os Encontros Internacionais de Pragmatismo e edita as revistas Cognitio e Cognitio-Estudos, tem sido reconhecida, a par da participação brasileira em congressos e eventos no exterior. A eleição para o honroso cargo de presidente da Peirce Society reflete de algum modo esse reconhecimento. 

 

IHU On-Line - Quais são as principais contribuições brasileiras para os estudos de Peirce? 

Ivo A. Ibri – Nossa interpretação da obra de Peirce tem sido diferenciada pelo seu amplo diálogo com a história da filosofia e pelo esforço de manter uma visão sistêmica de sua obra. Essa abordagem proporciona perceber muitas nuanças de seu pensamento que não se encontram desenvolvidas em sua obra escrita, mas que atuam como ‘sementes’ para se pensar novas ideias  em filosofia.

 

IHU On-Line - Deseja acrescentar mais alguma coisa? 

Ivo A. Ibri – Creio que a obra de Peirce, pelo seu amplo e profundo espectro teórico, se internacionalizou definitivamente e, de gênese, estava destinado a extravasar os limites da cultura norte-americana que lhe deu berço. O recente congresso realizado na universidade de Lowell, EUA, que celebrou os cem anos da morte de Peirce, mostrou esse caráter internacional com a presença de pesquisadores de todos os continentes, representando centros importantes de pesquisa e apresentando uma gama muito vasta de estudos de sua obra. A propósito, a presença brasileira nesse congresso foi bastante acentuada e representativa das linhas de pesquisa em Semiótica e Pragmatismo que aqui desenvolvemos.

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