Edição 457 | 27 Outubro 2014

Vida, do mistério ao mecanismo. Ecos de um evento

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Redação

Os leitores e leitoras habituais da revista IHU On-Line têm em mãos, nesta semana, uma publicação diferente. A atual edição consta, fundamentalmente, de uma série de matérias com conferencistas e participantes do "XIV Simpósio Internacional IHU: Revoluções tecnocientíficas, culturas, indivíduos e sociedades. A modelagem da vida, do conhecimento e dos processos produtivos na tecnociência contemporânea", promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU e realizado entre os dias 21 e 23 de outubro de 2014, na Unisinos.

Nikolas Rose, professor de Sociologia e diretor do Departamento de Ciências Sociais, Saúde e Medicina do King's College de Londres, proferiu duas conferências na Unisinos em que discutiu o impacto da revolução neurocientífica (‘uma segunda criação’, segundo expressão usada pelo pesquisador inglês). Segundo ele, “a vida está se movendo do mistério para o mecanismo”. O pesquisador ainda concedeu ao IHU uma entrevista especial sobre sua trajetória de vida, como pessoa e intelectual de renome internacional, que o leva dos guetos judeus da capital inglesa à maior escola formadora de médicos da Europa.

A economista política Jennifer Ruger, doutora pela Universidade de Harvard, propõe uma perspectiva mais aberta para pensar os desafios no campo da saúde pública. Ela argumenta que as sociedades precisam “recuperar a dimensão humana da liberdade, das participações humanas e da compreensão do que entendemos como saúde”.

Thimoty Lenoir, professor de História e catedrático do Programa de História e Filosofia da Ciência, na Duke University, nos Estados Unidos, considera que nossas sociedades deixaram de ser disciplinadoras, conforme apontou Michel Foucault, e se converteram em sociedades do controle, conforme havia previsto Gilles Deleuze.

Jesús Conill, catedrático da Universidade de Filosofia Moral e Política da Universidade de Valencia, autor de Ética y hermenêutica, aponta que “devemos pensar que o marco que orienta a técnica é histórico e sociocultural”. Nesse sentido, a cultura entra em um processo de autorreferência, à medida que a tecnologia gera cultura que, por vezes, é produto da própria tecnologia. Já Anna Carolina Regner, pós-doutora pela Universidade de Stanford, na Califórnia, e membro do Colégio de Consultores da Coleção Memória e Saber do CNPq, trouxe à discussão o pensamento de Paul Karl Feyerabend. 

Flavia Costa, doutora em Ciências Sociais e pesquisadora no Instituto de Altos Estudios Sociales - IDAES da Universidad de Buenos Aires - UBA, reflete sobre o processo de homegeneização das sensações impulsionadas pelo avanço da indústria farmacêutica. “Em nossa sociedade contemporânea, parece não haver espaço para as emoções — em especial para as emoções negativas. Ao ser humano, não resta mais a possibilidade de sentir-se triste ou cansado”, frisa.

Wilson Engelmann, professor na Unisinos e pesquisador do Latin American Nanotechnology & Society Network, apresentou a conferência As nanotecnologias como um exemplo de tecnociência e seus impactos, visando debater os desafios que envolvem a emergência de uma sociedade cada vez mais tecnificada.

Irene Machado, professora e pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - USP, traçou um perfil histórico do pensamento vanguardista de McLuhan, que adiantou questões de fundo que se tornaram evidentes em nossas sociedades tecnocientíficas.

Por sua vez, Umberto Galimberti, professor titular de História da Filosofia e Psicologia Geral da Universidade de Veneza – Itália, concedeu uma entrevista discutindo os significados da palavra técnica a partir de sua perspectiva teórica contribuindo para uma melhora compreensão da racionalidade tecnocientífica que modela nosso modo de ser e estar no mundo. Segundo ele, é necessária uma “Ética do viandante” – que se difere do “viajante”. O viajante vai de um lugar para o outro e todos os interlugares não existem. “Viandante é, ao contrário, aquele que caminha, não tem mapa, e caminhando deve tomar suas decisões."

Complementa, ainda, esta edição um Dossiê sobre os 100 anos da morte do teórico da comunicação e semioticista Charles Sanders Peirce. Contribuem com o debate os professores, Ivo A. Ibri, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP e da Faculdade São Bento; Fernando Andacht, professor do Departamento de Comunicação da Universidade de Ottawa, no Canadá; Anderson Vinícius Romanini, editor científico da revista Semeiosis - Semiótica e Transdisciplinaridade em Revista e professor da USP,  Priscila Borges, vice-secretária geral da International Association for Semiotics Studies e professora da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP; Rodrigo Almeida, doutorando em Filosofia pela PUC-SP; e, por fim, Ronaldo Henn, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos.

 A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana!

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