Edição 447 | 30 Junho 2014

Entretenimento e informação no envolvimento da audiência

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Andriolli Costa / Tradução: Andriolli Costa

John Pavlik trata dos esforços para promover a interatividade e capturar a atenção do público em direção ao terceiro estágio do jornalismo online

Em 2001, John Pavlik descreveu o que seriam os três estágios de evolução do jornalismo digital. O primeiro se caracterizaria, basicamente, pela replicação do mesmo conteúdo da edição impressa na versão online. O segundo pelo uso de hiperlinks, da produção de conteúdo diferenciado e de uma interatividade básica com o leitor. O terceiro, por fim, seria aquele jornalismo de conteúdo original, com narrativas não lineares e experiências únicas.

Hoje, 13 anos depois, o pesquisador acredita que ainda vivemos o segundo estágio, com a emergência de conteúdos digital first e novas experiências proporcionadas pelo jornalismo de base de dados. “No entanto, a maior parte do conteúdo atual ainda não está adequadamente otimizada para utilizar as capacidades do ambiente digital em rede.”

Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ele considera que envolver a audiência é um dos imperativos do jornalismo nos dias de hoje. Dessa forma, o chamado infotenimento — união de informação e entretenimento — direciona boa parte dos esforços da redação. “Para chamar a atenção das pessoas, muitas vezes é necessário produzir notícias agradáveis e, por vezes, divertidas. O problema ocorre quando histórias importantes perdem espaço para notícias de celebridades e fofocas.”

Pesquisador do impacto das novas tecnologias na mídia, Pavlik desenvolveu, ainda nos anos 1990, diversos softwares para comunicação, como o Fire! and Fatal!, um simulador de notícias para DOS; o Native Voices, um diretório de mídia de indígenas americanos; e o Media Technology Chronology, uma base de dados para a evolução de novas tecnologias. Já nos anos 2000, foi cocriador do Documentário Situado, que une dispositivos móveis e realidade aumentada para construir narrativas hiperlocais, revelando as informações conforme o usuário passeia a câmera pelo local do acontecimento.

John V. Pavlik é graduado em Jornalismo e Comunicação de Massas pela University of Wisconsin–Madison, com mestrado e doutorado em Comunicação de Massas pela University of Minnesota. É professor do Departamento de Jornalismo e Estudos de Mídia da Escola de Comunicação e Informação na State University of New Jersey e professor assistente na Columbia Institute for Tele-Information (CITI). Atuou em diversas instituições dos Estados Unidos, tendo sido inclusive pesquisador associado da Northwestern University, no Qatar. Entre suas publicações destaca-se Journalism and new media (New York: Columbia University Press, 2001) e o mais recente, Converging Media (Oxford: University Press, 2012).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Quais as características do atual momento do jornalismo digital?
John Pavlik –
Esta é uma boa pergunta, mas também é muito ampla. Poderíamos escrever um livro inteiro sobre este tópico. Para responder de maneira sucinta, eu diria que há três características gerais do jornalismo digital. Primeiramente, o crescimento da interação, com inputs do público na forma de repórteres cidadãos e mídias sociais. Com relação a isso, percebemos que as notícias da era digital são muito rápidas, quase sempre em tempo real, e muitas vezes carecem de apuração.

Em segundo lugar, temos o crescimento da multimídia, com áudio, vídeo e outras formas de conteúdo emergentes — como a realidade aumentada. Em terceiro, é o crescimento do jornalismo orientado por base de dados (data-driven), com Big Data e algoritmos empregados via códigos de computador para identificar e relatar histórias, produzindo visualizações baseadas em dados e semelhantes.

Este jornalismo digital é normalmente desenvolvido por profissionais do fazer jornalístico que sejam éticos e capazes de, cada vez mais, colocar as histórias em um contexto mais amplo. Ainda assim, a incerteza do estado financeiro do jornalismo digital é uma grande preocupação da área.

IHU On-Line - Você diria que vivemos um terceiro estágio do jornalismo digital, como descrito em Journalism and new media? Ou a emergência das redes sociais, do jornalismo semântico, entre outras inovações, dão indícios de um novo estágio?
John Pavlik –
Eu diria que estamos principalmente vivendo no segundo estágio do jornalismo digital, com a abordagem geral das publicações sendo a produção de conteúdo original voltado primeiramente para o digital (digital first). No entanto, a maior parte do conteúdo atual ainda não está adequadamente otimizada para utilizar as capacidades do ambiente digital em rede.

IHU On-Line - De que formas as narrativas jornalísticas vêm sendo alteradas pelas novas mídias? Quais exemplos você destacaria?
John Pavlik –
Um dos melhores exemplos de como a narrativa está evoluindo por causa da nova mídia, ou permitida pelo uso inovador das novas mídias, é a narrativa orientada por base de dados (data driven). A seção The Upshot , recentemente lançada pelo The New York Times, é um bom exemplo disso.

IHU On-Line - De que forma os novos meios e modos de contar histórias e a emergência de uma sociedade midiatizada promovem uma outra relação do cidadão com a democracia?
John Pavlik –
Os cidadãos ao redor do globo não são mais receptores passivos de mídia. Pelo contrário, são participantes ativos e contribuintes de um discurso público animado sobre grandes e pequenos assuntos. E isto se deve muito às mídias sociais e aos dispositivos de mídia móvel.

IHU On-Line - Narrativas como os newsgames ou o documentário sitiado permitem dizer que, em tempos de conectividade, a experiência é mais relevante que a informação?
John Pavlik –
Newsgames são uma oportunidade cada vez mais interessante para que jornalistas inovadores envolvam a audiência com a notícia por meio de técnicas interativas. A proposta ainda está em fase inicial, mas é muito promissora — especialmente como modo de envolver cidadãos mais jovens e usuários de dispositivos móveis.

IHU On-Line - O futuro do jornalismo é o infotenimento?
John Pavlik –
Isto é inevitável, uma vez que os cidadãos não precisam se envolver com o noticiário. Dessa forma, para chamar a atenção das pessoas, muitas vezes é necessário produzir notícias agradáveis e, por vezes, divertidas. O problema ocorre quando histórias importantes perdem espaço para notícias de celebridades e fofocas. Existe, é claro, um lugar para estas notícias de “veja que cachorrinho bonitinho”, mas isso não deve superar o relato de histórias com implicações importantes para o mundo.

IHU On-Line - De que forma o pensamento de Marshall McLuhan se atualiza neste novo ecossistema midiático?
John Pavlik –
As ideias de McLuhan são bastante relevantes para o jornalismo digital. Talvez o mais relevante seja sua noção de aldeia global. Hoje, com 5 bilhões de pessoas conectadas via redes de comunicação digital em todo o mundo, as notícias e informações também podem ressonar globalmente — sobretudo por meio das mídias sociais e dispositivos móveis. Veja o caso do #bringbackourgirls , na Nigéria, por exemplo.

IHU On-Line - Em um contexto de aldeia global, como explicar a força emergente de um jornalismo hiperlocal?
John Pavlik –
Este é um ótimo exemplo do adágio “Pense globalmente, aja localmente”. Usar as redes de mídia para relatar e explorar histórias locais, mas conectadas a temáticas e comunidades mais abrangentes, potencialmente globais, farão com que o jornalismo digital torne-se mais importante e que implique em mais consequências no século XXI.

IHU On-Line - Deseja acrescentar alguma coisa?
John Pavlik –
Fazer boas perguntas e manter a inovação, mas de maneira ética e por meio do envolvimento do público, com comprometimento com a liberdade de expressão. Este deve ser o mantra do jornalista digital.

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