Edição 407 | 05 Novembro 2012

Luiz Antônio Farias Duarte

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Thamiris Magalhães

“Sou um radical da moderação.” Assim se define o professor do curso de Jornalismo, Luiz Antônio Farias Duarte. Simpático, dedicado e uma figura carimbada no jornalismo brasileiro, “Nikão”, como é conhecido desde o berço, reservou uma hora antes de iniciar a aula para atender pessoalmente a IHU On-Line e contar sua história de vida no jornalismo, na academia e na vida. Pai do jornalista Bernardo e do estudante de jornalismo Bolívar, “Nikão” já passou por diversas redações de jornais no Brasil. Confira sua trajetória de vida pessoal, profissional e acadêmica.

Origem – Tenho um pseudônimo que me acompanha desde o berço. Sou mais conhecido como “Nikão”. Nasci no dia 18-09-1953 em Porto Alegre, mas tenho uma raiz muito forte interiorana e fronteiriça no Rio Grande do Sul. A origem da minha família é um município da zona sul do estado, chamado Pinheiro Machado. Lá vive a minha mãe até hoje, aos 86 anos de idade, e minhas duas irmãs; uma delas morando com minha mãe, Necilda, que requer cuidados. Vivi muito tempo no interior, uma vez que meu pai, já falecido, Neyder, foi delegado de polícia. Então, vivemos durante muito tempo em vários lugares. Passei um tempo em Bagé. Lá meu pai e minha mãe se separaram, e minha mãe, com os quatro filhos – tenho três irmãs: a Enilda, que é a mais velha, a Maria de Lourdes, a mais jovem que eu; e a Maria Emília, que é a caçula do grupo – retornou para Pinheiro Machado, onde permaneci até a adolescência. Então, fiquei lá de 1960 a 1961, e depois de 1964 a 1969. Apesar de ter ficado tão pouco tempo nas terras de minha origem, tenho uma ligação afetiva muito forte com esse local, além de que lá é um objeto de pesquisa para mim, porque é um município antigo, que teve uma história muito interessante. Atualmente moro em Porto Alegre com meus dois filhos.

Família – Tenho uma companheira e dois filhos do primeiro casamento; o Bolívar, que completa 30 anos em dezembro e é estudante de Jornalismo; e o Bernardo, que tem 28 anos, e é jornalista formado. Há 11 anos, tenho uma relação estável com a Carla, que é formada em Administração e trabalha na área de recursos humanos. Ela não mora em Porto Alegre. Nós moramos a 500 km de distância um do outro e nos encontramos nos finais de semana, ora eu indo a Horizontina, onde ela é gerente de RH de uma empresa, ora ela vindo aqui, e com muita frequência nos encontramos em Canela-RS, onde temos uma residência de final de semana, em que fugimos tanto do calor como nos abrigamos no frio da Serra.

Estudos – Na década de 1960, Pinheiro Machado só oferecia para a sua população o que seria equivalente, hoje, ao ensino fundamental. Então, todo mundo precisava sair de lá para estudar. Ou ir para Bagé, Pelotas ou vir para Porto Alegre. No meu caso, a oportunidade que se colocou para mim foi ir para São Paulo. Estudei lá em um colégio estadual por conta de um tio meu, Bolívar Madruga Duarte, que, na verdade, é minha referência paterna. Ele bancou meus estudos. Então, estudei em Atibaia, uma agradabilíssima estância hidromineral a 60 km de São Paulo, em que eu tive a primeira experiência de morar sozinho na vida, com 15 anos. E isso foi muito importante para meu crescimento, minha independência e para a valorização de meu seio familiar. Posteriormente, meu tio, por condição de trabalho, se transferiu para Porto Alegre e eu o acompanhei, onde terminei o então segundo grau.

Faculdade – Depois, fiz vestibular para comunicação. Passei tanto na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS como na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. E meu tio, num gesto de magnanimidade, que é bem característico dele, disse que eu optasse pelo melhor curso. E, como o melhor naquele momento era o da PUCRS, estudei lá, tendo ele bancado todo o curso para mim. Ao mesmo tempo, comecei a trabalhar. Meu primeiro emprego foi em 1973-1974, como auxiliar de escritório do Banco Sul Brasileiro, atual Santander.

Carreira jornalística – Mas logo consegui um estágio, ainda no primeiro ano de faculdade, como repórter esportivo para cobrir o Internacional, no Diário de Notícias, que era um jornal importante, então existente em Porto Alegre, mas naquele momento já em decadência. Isso em 1975, que foi o ano que o Internacional assumiu a grandeza que tem hoje, conquistando o primeiro Campeonato Brasileiro naquele ano. Fiquei nove meses lá. Então, comecei minha carreira jornalística da maneira mais agradável possível, cobrindo o clube do meu coração, exercendo a profissão da qual nunca tive dúvidas de qual seria e no ano em que o clube estava, até então, com sua melhor trajetória, com as conquistas que teve. Depois, passei para a Folha da Manhã, que era, nos anos 1970, o jornal mais combativo daqui. Estava no segundo ano de faculdade. Fiquei lá durante toda a minha formação acadêmica.

Evolução no jornalismo – Em 1980, então formado, fui para a sucursal do Estado de São Paulo em Porto Alegre. Atuei como repórter do Estadão. Um ano e meio depois, recebi um chamado para ser chefe de reportagem da Folha da Tarde. Permaneci nesta condição até 1984, quando os veículos desta empresa fecharam, por uma crise econômica muito grande. E, nesse meio tempo, houve momentos em que eu estava tanto na Folha da Tarde como na rádio Guaíba, sendo chefe de reportagem das duas. Quando a Folha da Tarde deixa de circular fui trabalhar na Rádio Guaíba. Posteriormente, trabalhei no Jornal do Comércio. Com um ano neste jornal, passei para o Diário Catarinense, do grupo gaúcho RBS, em Florianópolis, primeiro jornal totalmente informatizado do país. Lá exerci a função de secretário de redação por nove meses, em 1986. Depois dessas experiências, decidi ir para Brasília, na sucursal da RBS, onde tornei-me chefe de redação.

Docência – Ainda em Brasília, tive uma experiência docente na Universidade de Brasília – UnB – onde fui professor concursado, e do então Centro de Ensino Unificado de Brasília – CEUB. Mas, quando estava me encaminhando da redação para a academia, recebi um convite que reputei como irrecusável naquele momento. Foi em 1996, no 11º ano que estava em Brasília, quando recebi o convite de chefiar a redação da Agência Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, que foi a primeira agência de notícias do Brasil. Mas, infelizmente, a perspectiva que se tinha com essa agência não seguiu adiante, por questões familiares de disputa interna da família detentora da empresa, daquilo que se esperava não houve correspondência.

Decisão – Então, naquele momento, ou eu voltava para Brasília ou ficava no Rio. Mas optei por outra via, que não era nenhuma dessas duas. Decidi retornar para Porto Alegre para ficar mais próximo de meus dois filhos, uma vez que estava divorciado e meus filhos moravam no interior do Rio Grande do Sul. Bem nessa época, o meu filho mais jovem, Bernardo, foi chamado para jogar futebol no time do Grêmio, em Porto Alegre, sendo que ele morava em Alegrete. Nesse sentido, teria que se montar toda uma estrutura para ele. Nesse meio tempo, coincidentemente, recebi uma proposta para voltar a trabalhar no Rio Grande do Sul.

Inovação – Passei, então, a uma experiência diferente. Fui convidado a trabalhar na comunicação do governo estadual, na assessoria de comunicação. Retornei para o Rio Grande do Sul, que foi uma decisão bem mais prática e afetiva do que a decisão que eu teria tomado originalmente. Provavelmente, voltaria para Brasília. Mas vim para cá porque, evidentemente, a minha casa seria, é até hoje e será sempre que quiserem, a casa de meus filhos. Isso em 1997. Quando o governo terminou, em 1999, recebi um convite para coordenar a comunicação da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – Fiergs – onde fiquei sete anos. Então, fui para uma função similar na PUCRS. Lá fui coordenador de comunicação. Ao final de dois anos, já em amadurecimento profissional, comecei a pensar na possibilidade de desenvolver esse meu conjunto de experiências de uma forma mais abrangente. Assim, montei juntamente a dois sócios, a Com Efeito Comunicação, empresa de assessoria de comunicação estratégica, que é o meu trabalho atual, em paralelo com a docência na Unisinos.

Academia – A docência sempre esteve presente em minha vida. Sempre fui um estudante em potencial. Quando terminei a graduação, pensei que queria continuar estudando. Fiquei um ano sem estudar. No ano seguinte, 1979, voltei para o curso de Especialização em Comunicação na PUCRS. Depois disso, o meu ritmo de trabalho me afastou da academia. Então, adiei isso até meados dos anos 1990, quando eu, mestrando em Comunicação, em Brasília, passei a dar aula, primeiramente como substituto e, depois, como concursado na UnB. Fui convidado a dar aulas no CEUB. Ao mesmo tempo, passei a ser jornalista da Associação Nacional de Jornais – ANJ, uma entidade representativa dos jornais brasileiros. Aqui eu fazia um jornal mensal sobre jornalismo. Foi aí que surgiu a oportunidade do JB, em que eu deixo um pouco o campo acadêmico, inclusive sem poder concluir o mestrado que tinha iniciado em Brasília.

Mestrado e doutorado – Quando ainda estava na Fiergs, fui fazer o mestrado na UFRGS, em comunicação, de 2005 a 2007, e depois, imediatamente, de 2008 a 2012, fiz o doutorado na PUCRS, que terminei 27 de junho passado.

Unisinos – Estou aqui desde 2010. Leciono quatro disciplinas semanalmente. Nesses três anos nesta universidade, creio que já passei por umas dez disciplinas, de Introdução ao Jornalismo, Redação, Teorias da Comunicação, Assessoria de Imprensa I e II, Agência de Comunicação, Seminário Livre de Cinema etc. No semestre passado, coordenei o laboratório de Jornalismo, que é uma experiência nova em andamento na Universidade. Então, tenho muita gratificação em estar, neste momento, exercendo a docência aqui, porque acho que essa é uma instituição muito acolhedora, tanto no sentido profissional como no humano da palavra. Creio que ela recebe muito bem as pessoas. E tenho conseguido estender minha experiência docente por várias disciplinas, o que também é interessante. Hoje, leciono as disciplinas Assessoria de Imprensa I, Agência de Comunicação, Jornalismo Online e Estágio em Assessoria de Imprensa. Por tutoria, leciono Assessoria de Imprensa II.

Lazer – Gosto muito de viajar. Essa é uma aptidão que Carla, eu e meus filhos temos em comum.

Ficção – Além do jornalismo, escrevo e curto ficção. Estou escrevendo um livro. Chama-se A guerra de Cacimbinhas, e que imagino pronto ano que vem. É uma pesquisa que faço há 10 anos, em que utilizo fatos históricos com recursos da ficção. Então, é uma obra de ficção baseada em fatos reais. Pretendo publicar ano que vem.

Livro – O Tempo e o Vento.

Filme – Viagem fantástica.

Religião – Católica, mas não sou praticante.

Sonho – Vivemos sempre na dicotomia do mundo real e do mundo possível. Um pai e uma mãe não devem educar seus filhos sem que aspirem a um ideal. O ideal de cada ser humano, creio, é ser feliz. Acredito que perseguir um sonho, ir em busca dele, significa se aproximar dele. Meu sonho continua sendo ser feliz. Entendo que é um caminho que vai me acompanhar enquanto eu estiver por aqui.

IHU – O IHU é uma referência importante para nós, especialmente ligados à Unisinos, mas não apenas; é relevante também para a comunidade em geral. Creio que o IHU traz uma importante contribuição ao debate com os trabalhos de comunicação que realiza. Então, o fato de ter uma publicação semanal, um site e de trazer ao debate personalidades que não estão no dia a dia da mídia convencional, é bem interessante. A par disso, há o lado técnico que, sendo professor de comunicação, é interessante ressaltar, que é porque a base de comunicação do IHU é a entrevista, o gênero entrevista. Então, com muita frequência, nós professores de Jornalismo da Unisinos, utilizamos os trabalhos do Instituto, bem como as entrevistas do site ou da publicação impressa da Revista IHU On-Line, como exemplos de como se trabalha a entrevista.

Autodefinição – Sou uma pessoa de paz e, de fato, essa é a minha aspiração. Sou paciente, o que não significa dizer que eu não perca a paciência. Perco. E aí, às vezes, como demorei tanto a perder a paciência, recuar fica mais difícil. Se eu pudesse me definir daquilo que eu me conheço, a esta altura da minha vida, faria a seguinte composição: sou um radical da moderação.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição