Edição 198 | 02 Outubro 2006

Fernando Haas

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

Filho mais novo de três irmãos, o físico Fernando Haas foi uma criança “paparicada”. Fez sua graduação, seu mestrado e seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e dois pós-doutorados, um na França e um no Rio de Janeiro. De uma família simples, seu pai é caminhoneiro, e a mãe, dona de casa, Fernando é fã de Jimi Hendrix e pensa em conhecer melhor a Europa. Conheça mais este professor da Unisinos na entrevista a seguir concedida a IHU On-Line.

 

Origens - Tenho duas irmãs mais velhas, cerca de 10 anos a mais que eu.  Minha família veio do interior, mas eu nasci em Porto Alegre. Vivi em Porto Alegre minha vida toda, com exceção de três anos que estive fazendo pesquisas fora.

Família - Minha família é de Santa Rosa, eu nasci em Porto Alegre por acaso. Descendentes de alemães, meu pais são pessoas simples. Meu pai era caminhoneiro, foi marceneiro, foi colono, fez muitas coisas na vida. Minha mãe era dona de casa, também fazia serviços para fora, costurava, para ajudar a sustentar a casa. São pessoas bem simples, principalmente a minha mãe, que dava muito valor ao estudo, à arte, à beleza. Ela acabou me influenciando bastante.

Estudos - Estudei em um colégio público, que, confesso, nem sei se ainda existe. Chamava-se Branca Diva, uma escola bem simples. Como ficava na entrada de Porto Alegre, no bairro São Geraldo, havia muitos colegas que vinham de Guaíba. Muitos eram bem humildes, pegavam ônibus, atravessando o Guaíba para estudar lá. Era um colégio público na época em que colégio público ainda era um pouquinho aceitável, tinha bons professores, esforçados.

Infância - Um episódio de que me lembro é ter acompanhado meu pai, que era caminhoneiro, na entrega de uma série de remessas pelo interior. Tinha 11 anos. Fui para Vacaria, para vários lugares muito distantes. Como era o menino mais novo na casa, eu era muito mimado. As minhas irmãs tinham mais idade e pensavam que eu era um brinquedo a mais na casa. Paparicavam-me muito, assim como meu pai. Ele gostava muito de jogar futebol comigo. Ele fez isso até o final da vida, com exceção dos últimos anos. Nós tínhamos uma boa amizade.

 

Mãe - Minha mãe é uma pessoa bem ativa, ela mora no interior de Gravataí em uma chácara. Ela é líder comunitária, já foi algumas vezes suplente no orçamento participativo da cidade, ela tem várias atividades com o Fome Zero, Pastoral da Criança. Ela não é uma pessoa acomodada, está sempre procurando se integrar. Ela tem muita energia.

 

Carreira - Eu gosto, talvez de modo igual, de várias coisas, ciência, filosofia ou arte. Para mim, é tudo interessante.  Eu tenho bastante curiosidade por todas as áreas. Mas eu achei que seguindo uma carreira acadêmica na Física eu teria uma condição um pouco melhor de me sustentar, do que se fosse filósofo, por exemplo, ou músico. Vim a optar por isso para ter uma garantia mais segura de sobrevivência. Eu sempre tive muita curiosidade, acho que essa é uma característica de qualquer acadêmico. Tem que ter curiosidade, senão vai fazer outra coisa.

Esporte - Deveria praticar mais, mas atualmente não estou fazendo nada. A única coisa que eu faço é acompanhar o futebol. Sou meio fanático pelo Internacional.  Até deu um vazio. Depois que ganhou esse título parece que o resto é tudo meio irrelevante. Campeonato brasileiro então, qual é a graça? Não tem. Agora só da Libertadores para cima ou Mundial para entusiasmar. Por paradoxal que pareça, a conquista da Libertadores fez com que eu tenho deixado um pouco de lado o futebol.

Autor - O meu autor preferido é Dostoiévski.

Livro - O livro com o qual mais me identifico é Crime e Castigo.

Música - Jimi Hendrix. Para mim é o melhor. Difícil ter alguma coisa dele que eu não goste. Para mim é tudo muito bom. Seria difícil citar alguma coisa em especial.

Filme - Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman.

Viagem - A Europa em geral. Qualquer cidadezinha sempre tem um mundo de coisas a descobrir. Mas certamente não Estados Unidos, este país não me interessa tanto. 

Animais - Eu tenho dois gatos, bem mimados também. Eles acham que eu sou propriedade deles, que tenho que estar à disposição deles.

Futuro - Um plano talvez seja ter um pouco mais de autoconsciência e controle sobre o que nos faz evoluir como pessoa.

Dia perfeito - Um dia em uma praia deserta. Sem compromissos. Um violão, um cachorro e dois amigos.

Eleições - Tenho candidato para alguns cargos. Alguns itens, provavelmente, eu vá anular. Nesse momento, é quase como jogar uma moeda para cima decidir se vou votar no menos pior ou se vou anular. É uma questão muito difícil de ser decidida, não sei se há muita racionalidade nisso. Eu respeito tanto uma como outra possibilidade. O ideal é ter um maior conhecimento pessoal dos candidatos, procurar se informar da vida partidária, conversar com pessoas que participem desses movimentos para poder saber um pouco melhor quem é quem. Se for se basear só no discurso que aparece para nós no jornal, parece que é insuficiente, por isso, torna-se complexo escolher um bom candidato. Antigamente eu votava na legenda, agora já não me atrevo a fazer isso. Quem é que vai ser beneficiado com isso? Dentro de uma mesma agremiação tem pessoas que são confiáveis e certamente pessoas que não o são. Se votamos na legenda, estamos dando força para todo o grupo como.

Unisinos - A Unisinos é a universidade que me acolheu. Fui bem recebido dignamente aqui, não posso me queixar. Fui convidado por um amigo meu para participar de uma seleção de professores e resolvi parar um pouco com a vida de bolsista. No meio científico, as pessoas ficam com bolsa às vezes até o final da vida, e a cada três, quatro anos mudam de cidade. Acabei resolvendo dar uma pausa nisso. Gosto bastante de dar aula. É antes de tudo um desafio tentar ajudar as pessoas a entender um pouco melhor as coisas. Certamente não se pode reclamar por falta de novidade, porque se está diante de um público. De toda a carga psicológica desse público. O patrão ficou xingando essa pessoa o dia inteiro e ela vai lá assistir à aula, quase tudo pode acontecer.  É bom ter um lado um pouco teatral para dar uma aula mais agradável.

Instituto Humanitas - Eu sempre leio a revista e, na medida do possível, acompanho alguns eventos. Não tantos quantos eu gostaria. Gostei de uma palestra recente sobre Teoria de Sistemas, e também de um documentário que assisti ano passado sobre a campanha do Lula de 2002. Mas o que eu mais acompanho realmente é a revista IHU On-Line. Há matérias bastante críticas e não é tão simples encontrar por aí um periódico com esse aprofundamento nessas revistas de bancas de jornal, que geralmente não chegam nem aos pés dela. Acabamos conseguindo se informar um pouco melhor sobre o que está sendo debatido no mundo contemporâneo por meio dessa revista.

 

 

 

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição