Edição 400 | 27 Agosto 2012

Novo mapa religioso brasileiro. Algumas características

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Thamiris Magalhães

Pesquisadores descrevem as principais características do mapa religioso que emerge do Censo 2010.

“O mapa religioso brasileiro que resultou do Censo 2010 deve ser analisado a partir dos números apresentados nos censos anteriores, especialmente os de 1991 e 2000. Como todo mapa, por causa de sua construção, não deve ser confundido com um retrato. Por meio da comparação, é possível detectar as mudanças no objeto – religião no Brasil – que ocorrem num período de maior duração. Sendo assim, podemos constatar a continuada queda nos números do catolicismo, nos últimos 40 anos, com mais força. Na última década, a religião católica caiu 1,3%, enquanto os evangélicos cresceram 61%. Houve uma novidade, que foi o aparecimento de uma tendência recente: dos “evangélicos sem igreja”. Penso que nenhum desses fatores deve ser analisado separadamente como se não fizessem parte de uma realidade maior. Visto nessa perspectiva, o censo de 2010 não apresenta grandes surpresas para os que estão acostumados a acompanhar tendências e realidades sociais com sinais de ascensão.”

Leonildo Silveira Campos, professor titular da Universidade Metodista de São Paulo – Umesp, lecionando no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião



“Sem dúvida, um mapa marcado por uma diversidade religiosa que se anuncia. Com respeito ao censo de 2010, algumas tendências se evidenciaram, como a diminuição dos católicos romanos, que caíram de 73,6% para 64,6% e o crescimento dos evangélicos, sobretudo pentecostais, que passaram de 15,4% para 22,2%. Numa população de 190,7 milhões de pessoas, os católico-romanos somam 123,2 milhões e os evangélicos 42,2 milhões, dos quais 25,3 milhões de origem pentecostal. Verificou-se ainda na última década um aumento percentual dos sem religião, mas um pouco abaixo do esperado, de 7,4% para 8,0% (15,3 milhões).
O país permanece com uma marca cristã, já que 86,8% da declaração de crença do último censo girou em torno das tradições católica ou evangélica. As outras tradições religiosas no país ainda são tímidas, em termos numéricos, ainda que sua influência possa ser maior que a expressa nos simples dados, como no caso do espiritismo, que, apesar de comportar apenas 2,0% da declaração de crença (3,8 milhões), tem uma ressonância social bem maior no país.

As duas grandes expressões das tradições religiosas afro-brasileiras, a umbanda e o candomblé, continuam tendo o mesmo registro estatístico do censo anterior, com 0,3% de declaração de crença (umbanda com 407,3 mil e candomblé com 167,3 mil). As demais religiosidades permanecem apertadas numa estreita faixa de 2,7%, onde estão incluídas algumas que começam a despontar com uma presença mais definida: budismo (243,9 mil), judaísmo (107,3 mil), novas religiões orientais (155,9 mil) e o islamismo (35,1 mil). Há também nesse bloco a presença das tradições indígenas, cuja declaração de crença envolveu 63 mil pessoas.”

Faustino Teixeira, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF



“As tendências se mantiveram sem surpresas. Como dizia Cândido Procópio Ferreira de Camargo , um dos fundadores da sociologia da religião no Brasil, a história das religiões no Brasil é a história do declínio inexorável do catolicismo. Os que deixam o catolicismo preferencialmente escolhem as denominações evangélicas como nova religião, mas se verifica também opção por outras religiões, entre elas os espíritas. Os sem religião cresceram pouco no período entre os dois últimos censos, mas já são uma opção importante demograficamente. Não é somente o catolicismo que cai, mas também igrejas protestantes tradicionais e grupos pequenos, como os umbandistas. Também crescem os espíritas. De todo modo, o Brasil continua cristão. A fatia das religiões não cristãs é muito reduzida; a diversidade religiosa do país é muito mais marcada pelo leque sempre crescente de denominações evangélicas.”

José Reginaldo Prandi, professor sênior do Departamento de Sociologia da USP e pesquisador 1 A do CNPq


“O Brasil das religiões do último censo apresenta algumas mudanças em relação à última década. A mudança mais importante a ser apontada é o aumento demográfico dos evangélicos em relação ao censo de 2000. Se em censos anteriores, o Brasil expressava uma hegemonia da religião católica incontestável, no Censo de 2010 esse fenômeno não mais se impõe. Observa-se um decréscimo considerável no número de fiéis católicos, ao mesmo tempo em que houve um aumento considerável do número de fiéis evangélicos. As igrejas protestantes, notadamente as pentecostais, tiveram um crescimento acentuado em número de adeptos. Está claro que a maior perda nesse sentido é de católicos que diminuem de 73% em 2000 para 64% em 2010. Em relação à religião judaica, há uma variação relativamente pequena se comparada às alterações demográficas de outras religiões, mas que, entretanto, convida a alguma reflexão. Nesse caso, os adeptos do judaísmo passaram de 101 mil para 107 mil. O desafio é identificar se o aumento resulta do crescimento vegetativo da população judaica ou de conversões advindas do crescimento de casamentos mistos, ou de um aumento de diversidade de práticas religiosas no interior do próprio judaísmo.

Monica Grin, professora Associada I do Departamento de História e da Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e Michel Gherman cursa doutorado no Programa de História Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro

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