Edição 198 | 02 Outubro 2006

Esaú e Jacó, de Machado de Assis

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V Ciclo de Estudos sobre o Brasil: Intérpretes do Brasil – Estado e Sociedade

No próximo V Ciclo de Estudos sobre o Brasil: Intérpretes do Brasil - Estado e Sociedade, a história do país será interpretada pelo olhar do escritor Machado de Assis. A obra Esaú e Jacó servirá de base para a discussão mediada pela Pós-Doutora em Teoria Literária pela Unicamp e professora da Feevale, Juracy Saraiva.

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) foi escritor brasileiro, considerado o pai do realismo no Brasil, escreveu obras importantes como Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995, Dom Casmurro. Erechim: Edelbra, 1997, Quincas Borba São Paulo: Atica, 1998 e vários livros de contos, entre eles a obra-prima O Alienista. São Paulo: Ática, 1999, que discute a loucura. Também escreveu poesia e foi um ativo crítico literário, além de ser um dos criadores da crônica no País. Foi o fundador da Academia Brasileira de Letras.
Esaú e Jacó é o penúltimo livro de Machado de Assis, lançado quatro anos antes da sua morte e, segundo a maioria dos críticos, em pleno apogeu literário. Destaque são os personagens muito próximos da vida real. O Conselheiro Aires é um personagem poderoso que contracena com Natividade, mãe dos gêmeos Pedro e Paulo, que protagonizam este romance. E Machado chega quase à perfeição formal ao estabelecer esta trama fascinante em que os iguais são opostos e concorrentes. Discordam na política, na vida, sempre em campos opostos, um contra o outro, chegando mesmo a cortejar a mesma mulher. A ambigüidade narrativa se instaura com o Conselheiro Aires, personagem e narrador, que no entanto, também é visto como uma terceira pessoa. Machado por esse jogo de opostos pode comentar um tempo de grande agitação política. Não sendo estranho ao livro temas, como abolição da escravatura, encilhamento e Estado de sítio, porém o melhor abordado e reconhecido é a Proclamação da República, á qual se faz uma tremenda crítica. O evento acontece no Auditório Central no dia 3-10-2006.

Uma obra para os dias de hoje

Entrevista com Juracy Saraiva, Pós-Doutora em Teoria Literária pela Unicamp e professora da Feevale, Juracy Saraiva. Confira abaixo a breve entrevista concedida pela professora por telefone à IHU On-Line.

IHU On-Line - Qual seria a particularidade de Machado de Assis como intérprete do Brasil?
Juracy Saraiva -
Machado de Assis é um intérprete bastante dúbio ou ambíguo. Como escritor, ele busca a aprovação da sociedade em que está inserido. Ele não confronta, ele não opõe a sociedade de modo explícito quando analisa a sociedade brasileira. Assim é preciso que o leitor recomponha o que está nas entrelinhas de Machado para alcançar o que seria a interpretação dele em torno da sociedade.  Machado exige um leitor que seja capaz de lidar com a ambigüidade do texto para compreender as suas posições diante da realidade que ele vivencia no final do século XIX e na passagem para o século XX.
IHU On-Line - Como o autor interpreta o Brasil no livro Esaú e Jacó? Qual a particularidade desse livro?
Juracy Saraiva -
Este livro é expressivo no posicionamento do escritor diante do país porque ele é escrito e publicado em 1904, e Machado falece em 1908. Entre todos os romances dele, esse é o que está muito próximo da morte do escritor e também próximo dos fatos que são narrados. O livro abrange, ficcionalmente, o tempo da ficção, que  é de 1865 a 1895, e Machado publica em 1904, portanto, a publicação está perto dos fatos narrados. Além disto, estes fatos abrangem o período da transposição da monarquia para a república. Como esse evento é extremamente importante para o País, Machado faz uma análise, tanto daquilo que levou o término da monarquia, quanto a nossa concepção política do País, sem, no entanto, se posicionar nem a favor de um regime nem a favor de outro, mas demonstrando aquilo que ele vê como problemas da natureza humana e que acabam aflorando em qualquer regime político.

IHU On-Line - Quais são as principais críticas de Machado de Assis à sociedade brasileira?
Juracy Saraiva -
Em primeiro lugar, ele faz uma denúncia  ao processo de enriquecimento de determinados grupos sociais. Uma das personagens é muito típica porque ela representa o enriquecimento mediante o recurso dos capitais, não a força de trabalho. Então essa personagem, Santos, enriquece, aplicando em ações. O autor também mostra uma sociedade que é aparentemente rica e que não tem uma verdadeira solidez financeira. Parece-me que este retrato do Brasil não está tão profundamente alterado nos dias de hoje. Além disso, ele mostra uma classe política extremamente oportunista e interesseira e migra de uma posição para outra para atender seus interesses pessoais e não aos interesses coletivos.  Novamente, nós temos uma personagem que é caracterizadora da classe política que se chama Batista, que ora está ao lado dos conservadores, ora do lado dos liberais e com a mudança de regime mais que depressa passa para os republicanos. Também um outro aspecto que fica evidente nessa análise é da omissão do povo diante dos fatos de natureza política. O povo não participa, não toma decisões que são assumidas por um pequeno grupo de pessoas que acabam então ditando os rumos do País.
 

 
 

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