Edição 397 | 06 Agosto 2012

IHU Repórter

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Thamiris Magalhães

“Realmente, tenho uma natureza que é de ordem filosófica”, admite a professora do curso de Filosofia da Unisinos Sofia Inês Albornoz Stein, em entrevista concedida pessoalmente à IHU On-Line. Há quase 20 anos lecionando Filosofia, Sofia, que é filha de filósofo e casada com professor de Filosofia, se considera uma pessoa que, no fundo, gosta muito de tranquilidade. “Têm momentos em que o que mais gosto é ficar sozinha, refletindo, pensando na vida, na existência e nos outros, nas pessoas que me rodeiam e que rumo a vida delas está seguindo”, frisa. E continua: “Mas, mesmo assim, sou uma pessoa que também gosta de estar em grupos, de se divertir, tomar um bom vinho, conversar, trocar ideias”. Conheça um pouco mais suas vivências pessoais, profissionais e acadêmicas.

Origem – Nasci dia 25 de abril, em Porto Alegre, e vivi alguns anos na Alemanha, durante a infância, e em Santana do Livramento, fronteira, onde parte de minha família vive ainda hoje. Atualmente moro em Porto Alegre. Retornei para cá depois de ficar dez anos trabalhando em Goiânia, na Universidade Federal de Goiás – UFG. Estou no Rio Grande do Sul, de volta, há oito anos. 

Família – Meus pais moram em Porto Alegre. Tenho duas irmãs professoras. A Moira trabalha na Universidade Federal de Pelotas – UFPel e é professora de teatro. A outra irmã, a Marília, é formada na área da psicologia, mas trabalha com música, em etnomusicologia. Sou casada. Tenho dois filhos grandes. A mais nova, a Elissa, 22, estuda na Unisinos, no curso de Audiovisual, com especificidade em Cinema. Meu filho, o Carlos, 29, está morando na Suíça e trabalha com neurocomputação. Meu marido, Adriano Naves de Brito , é professor de filosofia também. Nos conhecemos durante os anos de estudos. Somos casados há 25 anos. Boa parte da minha família é das ciências humanas. Minha mãe se formou em Ciências Sociais na PUCRS e meu pai é advogado e estudou filosofia, se doutorando nesta área. Em parte, meu nome vem daí. Meu pai, Ernildo Stein , está com 78 anos de idade, e continua trabalhando. É professor da PUCRS e foi durante muito tempo docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Sofia Inês – Meus pais decidiram colocar esses dois nomes por causa da etimologia. A origem de Sofia é sabedoria, em grego. E Inês significa simplicidade.

Formação – Estudei graduação e mestrado em Filosofia na UFRGS e o doutorado na Universidade de São Paulo – USP, na área de Filosofia da Ciência. Estou há três anos lecionando na Unisinos. Antes disso, trabalhei cinco anos na Universidade Caxias do Sul – UCS. No ano passado tive a oportunidade, com apoio da Unisinos e da Capes, de desenvolver um estágio pós-doutoral na Universidade de Pittsburgh, uma experiência maravilhosa. Sou há quase 20 anos professora de filosofia. E o que mais me alegra é esse contato com os alunos, muitas vezes egressos. É um legado que vou deixando como professora e pesquisadora, que é uma realização importante na vida.

Academia e projetos – Sou professora, pesquisadora da pós-graduação, tenho grupo de pesquisa montado, oriento vários alunos do mestrado, doutorado e de Iniciação Científica. Publiquei um livro sobre Willard Quine  três anos atrás e tenho trabalhado com traduções de clássicos da filosofia. Comecei a estabelecer convênios com vários lugares. Estamos iniciando um com a Universidade de Londres e já temos um com a Universidade de Buenos Aires. Ademais, estamos iniciando um diálogo com o PPG em Psiquiatria da UFRGS.

Filosofia – Meu marido e eu trocamos muitas ideias. Mas o trabalho filosófico é bastante solitário. Agora, nós do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil) estamos tentando constituir equipes. O trabalho em conjunto é algo novo na Filosofia.

Grupo de Pesquisa – Integro um grupo de pesquisa, o Qualia, o qual coordeno. Nesse grupo, lemos e estudamos literatura recente sobre filosofia da mente, filosofia da linguagem e ciências cognitivas. Aos poucos, estamos refletindo e elaborando planos de como participar de um futuro laboratório em Ciências Cognitivas, que será montando aqui no prédio, com verba da Finep. No segundo semestre, o laboratório deve ser construído e, em março do ano que vem, deve começar a funcionar.

Lazer – Não sobram muitas horas. A filosofia e a academia consomem bastante tempo. Mas nas horas que tenho livres gosto de caminhar. Gosto de, pelo menos uma vez ao ano, ir à praia, adoro mar. Durante certos anos gostei muito de nadar; fazia natação. Ademais, aprecio a natureza e caminhadas. E dentro de casa gosto de um bom filme.

Filme – Gosto de alguns diretores, muito aceitos, como Ridley Scott, que continua fazendo sucesso. Quando foi lançado um de seus primeiros filmes, o Blade Runner, já virei sua fã. Outro diretor de que gosto muito é o Roman Polanski, e um dos filmes desconhecidos dele, A dança dos Vampiros, me impactou muito há uns 20 anos. Ou seja, gosto de um bom roteiro e um diálogo esperto, inteligente, além, é claro, de fotografia e músicas que emocionem.

Livro – Hoje tenho lido menos literatura do que gostaria. Mas acho Cem anos de solidão, de Gabriel García Marques, um livro impressionante, também Os miseráveis, de Victor Hugo, e gostava de ler Balzac uma época. Aprecio Érico Verissimo e Agatha Christie. Esses são alguns dos autores que eu lia e tinha prazer em ler.

Religião – Opto por ser agnóstica.

Sonho – Continuar trabalhando, dando aula, pesquisando e um dia ter mais tempo para viajar. Comprei há pouco um piano, pois quero voltar a tocar. A música é uma coisa à qual desejaria dedicar mais tempo. Aprendi a tocar piano na infância. Além disso, queria ter mais tempo para escrever. A academia permite pesquisar, orientar, dar aulas, desenvolver trabalhos etc. Mas o tempo para escrever ainda é insuficiente. Também pretendo voltar a pintar.

Unisinos – É uma oportunidade de desenvolver muitas atividades que considero, inclusive afetivamente, importantes na minha vida. Nunca nos dedicamos a algo sete dias por semana, doze horas por dia, se não gostarmos do que fazemos. Então, a Unisinos é uma oportunidade de ter o apoio necessário e o ambiente já constituído para fazer pesquisa e interpretação de material bibliográfico que considero muito importantes atualmente. Isso tem me permitido apresentar meu trabalho em âmbito internacional. Também me realizo ensinando, observando a resposta que os alunos de graduação e pós-graduação dão às exigências que coloco, como professora e pesquisadora. Aprecio esse contato com os alunos.

Autodefinição – Sou uma pessoa que, no fundo, gosta muito de tranquilidade. Têm momentos em que o que mais gosto é ficar sozinha, refletindo, pensando na vida, na existência e nos outros, nas pessoas que me rodeiam e que rumo a vida delas está seguindo. Realmente, tenho uma natureza que é de ordem filosófica mesmo. Mas, mesmo assim, gosto de estar em grupos, de me divertir, tomar um bom vinho, conversar, trocar ideias. A minha natureza é bastante contemplativa, de contemplar e refletir sobre o que acontece. 

Frase – Se o nosso cérebro fosse tão simples que apenas uma teoria conseguisse explicá-lo, nós não seríamos complexos o suficiente para compreender em que ele consiste (Andy Clark).

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