Edição 395 | 04 Junho 2012

Oficina de Indicadores Educacionais, por uma educação de qualidade

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Thamiris Magalhães

Um indicador educacional é uma expressão em geral numérica, mas que, em si, não altera a realidade que traduz. É uma chamada para que entremos na escola e valorizemos a importância do trabalho pedagógico, que não é um trabalho de aplicação de uma técnica, e sim de articulação de grupo, de entendimento de pessoas, de acerto e erro, afirma Flávia Werle

Buscando facilitar o acesso e manuseio de indicadores da educação como instrumento para melhor compreender, qualificar e transformar a realidade educacional dos municípios do Vale do Rio dos Sinos, bem como debater e analisar dados acessados no confronto com a realidade institucional e profissional dos participantes vivida nos estabelecimentos educacionais da região, será realizada a Oficina de indicadores educacionais – Módulo I, no dia 6 de junho, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. Saiba mais em: http://migre.me/9iV15.

Durante a programação, haverá a palestra “O debate qualificado da educação a partir dos indicadores educacionais”, com a Profa. Dra. Flávia Werle, da Unisinos; “Perspectivas de análise dos indicadores de qualidade da educação na rede municipal de São Leopoldo”, com as doutorandas Alenis Cleusa de Andrade e Cleonice Silveira Rocha, da mesma instituição e com o depoimento das professoras de educação básica de Esteio, Marilan de Carvalho Moreira, Lisandra Schneider Scheffer e Elisane Cristina Kolz Rieth, que explicarão sobre o uso de indicadores educacionais em suas práticas profissionais. A IHU On-Line conversou pessoalmente com a professora Flávia Werle, com a doutoranda Alenis Cleusa de Andrade e com as professoras Lisandra Schneider Scheffer e Elisane Cristina Kolz Rieth, que explicaram um pouco mais sobre a Oficina.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – De que maneira vocês irão abordar, durante a oficina de indicadores educacionais, o uso desses indicadores em suas práticas profissionais?

Lisandra Schneider Scheffer –
Iremos fazer um relato da nossa prática. Sou coordenadora pedagógica de uma escola. Então, iremos relatar como são tratados e trabalhados os indicadores de qualidade da secretaria para a escola e da escola para a sala de aula. Nossa oficina será baseada nisso. Cada uma vai expor a sua prática e a sua vivência.

Ações da coordenação pedagógica no Centro Municipal de Educação Básica – Cemeb para qualificar os indicadores de qualidade


O trabalho na Escola

A Escola Centro Municipal de Educação Básica Santo Inácio é localizada em um bairro específico de Esteio-RS. É de classe média baixa. Atendemos na escola 1.340 alunos. É uma escola grande da rede, a segunda maior. O trabalho que iremos apresentar foi realizado com 550 alunos, dos anos finais do ensino fundamental. Além disso, trabalhei com um grupo de 30 professores e mais a coordenação pedagógica. As turmas foram do sexto ano até a oitava série. Já realizamos este projeto há três anos nessa escola. Começamos fazendo um perfil de cada turma. Então, chegamos ao pré-conselho de classe, em que reunimos os professores de todas as disciplinas e, estabelecemos, para que os alunos também pudessem compreender melhor tudo isso, tabela com cores, onde especificamos o verde, para o aluno que está acima da média; o vermelho, para o que está abaixo da média e o amarelo, na média, sendo que a média da nossa escola é 60. Trabalhamos isso junto dos professores com alguns critérios de aprendizagem. Depois, fizemos o pós pré-conselho, contando com a orientadora e eu, supervisora. Entramos na turma com as planilhas e, juntamente com o professor regente, trabalhamos isso com eles. Fomos apontando o que os alunos precisam fazer para melhorar. Além disso, realizamos um trabalho com as famílias, porque percebemos que, muitas vezes, elas estão ausentes. Depois, voltamos com o conselho de classe. Ao final de cada reunião, fazemos uma avaliação, um perfil. Houve avanço? Ocorreu aprendizagem? O que podemos melhorar? Dá trabalho, mas é uma coisa que traz resultado. No segundo trimestre, além de tudo isso, realizamos um conselho de classe individual, com os alunos, pais e professores.

Elisane Cristina Kolz Rieth – Trabalho na mesma escola e sou professora da educação básica, quarto ano. Relato um pouco a minha prática. Temos reunião pedagógica toda sexta-feira com a equipe diretiva e realizamos o pré-conselho de classe, em que conversamos casos específicos de alunos que têm dificuldades de aprendizagem. Depois, temos o Conselho de classe, que é de toda a turma, onde é conversado com os 30 alunos da classe. Além disso, esse ano, conversamos com os pais desses alunos com maior defasagem na aprendizagem. Mas muitos não compareceram, o que acaba frustrando o trabalho do professor. Os alunos que têm maior dificuldade na aprendizagem são enviados ao Laboratório de Aprendizagem, onde há uma professora que irá trabalhar visando diminuir suas dificuldades. Trata-se de uma aula de reforço em outro turno. Além disso, procuro trabalhar em sala de aula atividades diversificadas. Creio, no entanto, que precisamos de mais um auxílio para os alunos da série inicial, porque muitas vezes estamos sozinhos. Ainda falta um longo caminho a ser percorrido na área da educação.


IHU On-Line – Qual a proposta da Oficina?

Flávia Werle –
A proposta da Oficina é que alguns mestrandos e doutorandos irão trabalhar com dados que eles já estão manuseando dentro de suas teses ou dissertações. E as professoras da rede municipal irão apresentar como trabalham com indicadores dentro da sua realidade, porque elas têm relato que traduzem os indicadores para os seus professores e, por outro lado, além de fazer essa tradução, elas também incorporam dentro da sua prática, seja como coordenadora pedagógica da escola ou como professora.


IHU On-Line – Quais os objetivos da Oficina e que resultados vocês esperam depois do encontro?

Flávia Werle –
Temos uma prática, que já está no quinto ano, em que adotamos esse procedimento, que é não apenas fazer uma pesquisa que circule dentro do ambiente acadêmico, mas um trabalho que dialogue com a rede municipal de escolas públicas, portanto, secretários municipais de educação bem como pessoas que estão vinculadas ao Conselho Municipal de Educação, aos Conselhos Escolares, com os seus professores, diretores e supervisores. Então, isso é uma coisa que nós já estamos fazendo. Só que fazíamos com o nome de um fórum, uma atividade mais ampla. Agora, nós, com essa parceria com o ObservaSinos, estamos trabalhando especificamente a questão de indicadores educacionais, porque dentro do grupo eles não tinham alguém que fizesse de uma forma mais aprofundada a discussão da educação. Por um lado, já temos esse diálogo com a comunidade mais ampla.


IHU On-Line – Que resultado vocês esperam?

Flávia Werle –
Nós queremos esse diálogo com a rede. E um diálogo que seja promissor, de modo que os próprios indicadores não fiquem de domínio de um técnico em estatística, de um matemático ou de um economista. Mas que os professores consigam fazer desses elementos que estão disponíveis um insumo para a sua própria prática.


IHU On-Line – O que melhorou depois que vocês implantaram os indicadores educacionais na escola?

Lisandra Schneider Scheffer –
Quando cheguei à escola em que sou supervisora, quando vi as planilhas de avaliações dos professores, apavorei-me ao ver o nível de reprovação, de faltas etc. Disse que não poderia ser assim. Se o aluno não compareceu, temos que ver, ir atrás. Então, começamos a ter formação da secretaria para que déssemos conta disso. Foi quando começamos a ver que não é por aí. Que devíamos dar conta disso. Que, se o pai não se preocupa em saber se o aluno foi ou não para a aula, nós deveríamos nos preocupar. Essa visão, hoje, está diferente. Então, olhar para esses indicadores e fazer toda essa retomada com os alunos e as famílias é difícil e cansativo, mas tem dado o resultado de que todos são responsáveis. E o professor principalmente. Nesse trabalho que irei apresentar, creio que o maior up é que os professores conseguiram enxergar que, se o aluno não compareceu, ele vai ter que checar isso, que conversar com o aluno, dar uma nova oportunidade, rever a sua própria avaliação como professor, sua metodologia. E a formação acadêmica do professor não trata disso; eles saem apenas como técnico; aprendem a ensinar e quando surge algum conflito; eles acabam não sabendo como agir, encaminhando o aluno para a orientação ou para a coordenação pedagógica.

Flávia Werle – Fica claro, após essa exposição, que os indicadores por si só não mudam a realidade. Também na apresentação delas fica claro o quanto é importante a pergunta, o desassossego e o desconforto do educador frente à realidade. Não é apenas o indicador que vai fazer isso. É inclusive um background que a pessoa tem de conhecimento e de capacidade de sintonia, de sensibilização com o seu aluno, inclusive. Por outro lado, é também uma forma como a pessoa se constrói como profissional. De ver que eu como profissional não sou profissional em separado de minha escola e de meu aluno. Eu sou eu e o meu aluno. E é aí que eu me construo como profissional, como professora do quarto ano, do quinto ano, como supervisora etc. E creio que também devemos notar a importância do trabalho clínico, e não de um trabalho de massa, que é o que o professor em sala de aula deve fazer, de ver que tal aluno está com este ou aquele problema. É um pouco o que um médico faz, que atende um a um, cada qual com o seu problema. E isso é difícil. Então, um indicador educacional é uma expressão em geral numérica, mas que, em si, não altera a realidade que traduz. É uma chamada para que entremos na escola e valorizemos a importância do trabalho pedagógico, que não é um trabalho de aplicação de uma técnica, e sim de articulação de grupo, de entendimento de pessoas, de acerto e erro.


Depoimento de uma doutoranda

Alenis Cleusa de Andrade  – Perspectivas de análise dos indicadores de qualidade da educação na rede municipal de São Leopoldo

Os indicadores de qualidade da educação são publicados pelo governo a partir de avaliações em larga escala realizadas por amostragem em diversas escolas. No caso específico da oficina, ela irá tratar do indicador relativo ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb e a Prova Brasil. A Prova Brasil é uma avaliação realizada a cada dois anos tanto no quinto ano como no nono ano do ensino fundamental, em turmas que tenham mais de 20 alunos. Ela já possui quatro edições, foi realizada nos anos de 2005, 2007, 2009 e 2011. O indicador Ideb é constituído por essas avaliações. Ele reúne os resultados da avaliação da Prova Brasil nas disciplinas de Português e Matemática, junto com o indicador de rendimento que, na realidade, seria o fluxo de entrada e saída dos alunos na rede específica onde está sendo realizada a prova. Então, a partir da correlação dessas duas variáveis, ou seja, a nota e o indicador de rendimento, é construído o indicador Ideb. Quando é publicado esse indicador, ele é pontual. Diz alguns aspectos da qualidade da educação na rede que está sendo avaliada. Indicadores são elementos para planejamento e análise de características das redes de ensino, a compreensão desses dados pode ser trabalhada de maneira que tenha significado para aquela rede, porque aquele número é apenas um elemento, não podemos dizer “essa é a qualidade da educação na rede”.


Perspectivas de análise

São as perspectivas de análise que iremos trazer para a oficina, de maneira também que isso tenha um significado. Não fazemos nessa oficina apenas um desmembramento dos indicadores Ideb, olhando somente para ele. Iremos analisar vários aspectos. Veremos como foi o desempenho do aluno na prova em Português, no primeiro ano; como foi em um segundo momento em 2007. Ou seja, iremos analisar qual foi o crescimento, os caminhos que aquela rede percorreu, no ano de 2005 até o de 2009, que é a última avaliação publicada.


Trajetória da rede municipal de São Leopoldo

Ademais, iremos trabalhar a trajetória da rede municipal de São Leopoldo, fazendo diferentes perspectivas de análise. Essas perspectivas são tanto as que acabei de detalhar como outras análises por zoneamento do município, por região de atendimento das escolas e pelo número de matrículas da rede.


Oficina – objetivo

O objetivo da oficina é mostrar para os professores e assessores, que trabalham com esses indicadores, como se pode trabalhar de maneira que eles tenham um maior domínio para análise e planejamento a partir dessa “ferramenta”, que se tornem mais pautáveis dentro daquela rede. Iremos apontar durante a oficina algumas perspectivas de análise, diferentes daquelas propostas pelo governo. Existem várias, mas iremos desmembrar de maneira que o professor, a assessoria ou a equipe que irá trabalhar com os indicadores consiga entender o que ele pode dizer.

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