Edição 394 | 28 Mai 2012

IHU Repórter

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Thamiris Magalhães

Livre, apaixonada pelo trabalho, determinada e bastante focada no que quer. Essa é a mais nova doutora do PPG em Direito da Unisinos, Taysa Schiocchet. Em mais de uma hora de conversa pessoalmente com a IHU On-Line, a professora contou suas várias histórias de vida, como o fato de ter, aos 15 anos de idade, saído de casa em Santa Catarina para estudar no Rio Grande do Sul. Desde então, Taysa não criou raízes. Tendo passado por Joinville, Curitiba, Paris, Buenos Aires e Madrid a docente atualmente reside em São Leopoldo. Sua área de pesquisa envolve temas como direitos humanos, bioética e biotecnologia, coordenando o projeto que trata das implicações jurídicas do acesso à informação genética humana. “Um dos projetos dentro desse grande plano é sobre bio-bancos e dentro deste sobre os bancos de perfis genéticos para fins criminais, que foi o projeto que desenvolvemos junto ao Ministério da Justiça”, explica. Conheça mais sua história de vida.

Origem – Nasci no dia 19 de janeiro de 1980 em Joinville-SC. Sai de lá com 15 anos e vim para o Rio Grande do Sul, apesar de em 2006 ter voltado para Santa Catarina, tendo permanecido até 2010. Em 2011, voltei para o RS. Toda a minha família é de Santa Catarina. Vim para cá para estudar o ensino médio em um colégio interno, onde fiquei dois anos e meio. Foi uma experiência muito importante para mim a educação integral que tive neste colégio. Posteriormente, voltei para Joinville, pois tinha cumprido o período de estudos e teria que tentar o vestibular. Mas, tive um período de não adaptação, pois depois que se sai de casa, dificilmente você volta e se adapta novamente àquela realidade. Então, fiz vestibular na Unisinos e, em 1998, ingressei no curso de Direito. Atualmente continuo morando em São Leopoldo.

Autodefinição – Tento ser autêntica com os meus pensamentos. Fiel, mas é um desafio constante sermos integralmente fiéis aos nossos valores. Creio que sou muito dedicada ao meu trabalho. Ele normalmente está em primeiro plano. Talvez daqui a algum tempo isso mude. Sou muito focada no que eu quero; bastante autocrítica, exigente, comigo e com os que me rodeiam, inclusive com os meus alunos; muito perfeccionista com tudo e discreta. Além disso, acho a humildade uma característica importante. Ademais, tento manter a sensibilidade para as coisas e para a vida e manter os vínculos familiares, uma vez que isso é fundamental, porque é a família que vai te acompanhar nos melhores momentos e te amparar nos piores. Tenho um sentimento de gratidão com ela muito forte, talvez até por estar distante. Por isso, tenho sempre a preocupação em retribuir aos meus pais, estar com eles e com o meu marido e manter, mesmo que a distância, a qualidade da relação.

Família – Meus pais moram em Joinville. Minha mãe é professora, atualmente aposentada, porém segue trabalhando, agora, na área de gestão financeira. Ela foi professora a vida inteira. E eu dizia que nunca seria professora. Tenho os meus pais como grandes exemplos de vida. Minha mãe tem um perfil intelectual, adora ler e é uma pessoa muito justa, delicada e sensível a algumas questões. Já meu pai é um exemplo de superação. Ele é um empreendedor nato, fundador e atual diretor de uma empresa que atua no ramo de automação industrial e tem uma percepção muito pragmática da vida. Eles são figuras importantes que me fazem lembrar a todo o momento que o conhecimento da academia é só um detalhe no universo; que sabedoria é outra coisa. E que o conhecimento passa, definitivamente, por outros caminhos. Tenho duas irmãs. A mais velha é a Fabiane, tem 36 anos, é psicóloga e atualmente mora em Dublin, na Irlanda. A mais nova, Nayara, de 25 anos, é nutricionista e hoje mora em Xiamen, na China.

Casamento – Sou casada com o Rômulo, que é carioca e não é da área jurídica. Trabalha com gestão empresarial em Joinville. Então, atualmente nós nos vemos esporadicamente. Ele é um grande apoiador da minha trajetória, inclusive de todas as minhas viagens. Nós quase não temos tempo um para o outro, é verdade. No entanto, quando a gente se vê é um tempo com qualidade.

Chegada em São Leopoldo – Quando cheguei aqui, fiquei praticamente 100% Unisinos. Acabei me fixando. Fiz a graduação em Direito entre 1998 e 2003. Consegui concluir o curso em cinco anos e meio.  O professor Benno Dischinger e sua esposa Catarina foram duas pessoas que me apoiaram quando eu cheguei a São Leopoldo, em 1998 e em 2011. Sou muito grata a eles.

O Direito – Não me identificava com essas profissões mais comuns que um aluno quando entra no curso pensa: advogada, juíza. Então, comecei Iniciação Científica, e foi quando, de fato, descobri-me dentro da academia. A memória que eu tenho é muito clara disso, porque realmente me identifiquei. E, de algum modo, a Iniciação Científica recupera as habilidades que se exige quando se pratica a dança, principalmente o balé clássico, que é a exigência da disciplina. Isso eu tinha muito claro e, de algum modo, transferiu-se para a academia. Fiz Iniciação Científica do início ao final do curso e, na sequencia, ingressei no mestrado.

Mestrado – Continuei no Rio Grande do Sul e fiz mestrado na Unisinos também. Formei-me em 2004 e em dezembro de 2003 já sabia que tinha passado no mestrado.

Retorno a Santa Catarina – No início de 2006, terminei o mestrado e voltei para Santa Catarina porque me convidaram para trabalhar lá. Fui lecionar em algumas universidades. Só que eu queria, naturalmente, fazer o doutorado. E as minhas opções eram a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC ou a Universidade Federal do Paraná – UFPR. Resolvi fazer na UFPR. Mas nunca morei em Curitiba. Ia toda semana duas, três vezes para lá. No entanto, fiquei pouco tempo, porque o curso começava em agosto de 2006, e em 2007 fui fazer o doutorado sanduíche na Universidade de Paris I - Panthéon-Sorbonne.

Paris – Fiquei um ano em Paris, 2007/2008, com bolsa da Capes. E isso é algo que eu recomendo sempre: fazer o mestrado e/ou doutorado fora, nem que seja por um curto período. Minha tese não teria sido o que foi se eu não tivesse passado um ano lá. Na realidade, cartesiana do jeito que sou, pensei que a ida para Paris serviria única e exclusivamente para a tese. Mas, de fato, foi uma experiência profissional e pessoal muito mais ampla e extremamente valiosa. Na verdade, o intercâmbio é muito importante para todo estudante.

Buenos Aires – Em 2010 fui pesquisadora em uma Universidade de Buenos Aires (FLACSO), onde permaneci por quatro meses trabalhando com a questão da ética em pesquisa, vinculada ao tema da minha tese de doutorado.

Sala de aula - Depois da tese, voltei a dar aula. Sou acadêmica e me considero, de fato, acadêmica, pois me dedico exclusivamente à docência e à pesquisa, algo tradicionalmente incomum no Direito.

Ingresso na Unisinos – Em agosto de 2010 defendi a tese e, em 2011, comecei a lecionar aqui. Hoje, leciono na graduação a disciplina de Direito Civil – Parte Geral I. A minha área de pesquisa é direitos humanos, bioética e biotecnologia. No PPGD, leciono a disciplina de Sistemas Jurídicos Contemporâneos e Metodologia da Pesquisa.

Pesquisa – Tenho um projeto em andamento, que é a continuidade da pesquisa que fiz no doutorado, em Paris e Buenos Aires, que é o impacto da informação genética para o Direito e as implicações jurídicas do acesso à informação genética. Esse projeto abarca questões  envolvendo medicina, pesquisa com seres humanos, Direito Civil, Penal, enfim, é bastante interdisciplinar. É um dos projetos dentro dessa linha de pesquisa, sobre Direito e informação genética, e o último que eu venho desenvolvendo é sobre bio-bancos e dentro deste sobre os bancos de perfis genéticos para fins criminais, que foi o projeto que desenvolvemos junto ao Ministério da Justiça e teve um evento internacional que foi bem importante, no qual participaram bolsistas de iniciação científica, mestrado etc. Esse trabalho já foi entregue ao Ministério da Justiça, que trata justamente da aprovação de uma lei que legitima o banco nacional que obriga o sujeito a fazer a doação de material genético para determinados crimes. A pesquisa vai continuar, agora com financiamento do CNPq.

Lazer – Amo arte. Vejo a arte no Direito. E o Direito é uma área tão dura, pesada. Então, temos que dar leveza. Além disso, dança é uma coisa que eu adoro.

Filme – Gosto muito de filme europeu. Na verdade, gosto de assistir de tudo: documentários, drama, ação etc.

Sonho – Tenho muitos projetos, dentre eles dar continuidade ao trabalho que venho desenvolvendo; ter a possibilidade de continuar desenvolvendo projetos de pesquisa. Tento fazer com que a atividade para o aluno aqui tenha algum sentido; propiciar um espaço onde ele realmente se desenvolva.

Unisinos – Ela é a minha formação. Aqui que eu me formei, me encontrei e retornei. Adoro o campus, e a Universidade é uma excelente instituição, principalmente porque ela investe em pesquisa e apoia o professor de PPG, como ocorreu recentemente comigo para realizar pesquisas pós-doutorais em Madrid, na Espanha, com bolsa de órgão de fomento espanhol.

IHU – Acompanho os eventos que o professor Castor Bartolomé Ruiz realiza no Instituto. Já concedi entrevista para o sítio do IHU e tem uma coisa interessante: a ética dos jornalistas é impressionante, a preocupação em divulgar o que realmente o entrevistado disse. E o trabalho do Instituto é excepcional porque os temas que são trabalhados são importantes, inclusive para o Direito.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição